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“As Melhores Crônicas de Rachel de Queiroz” – Resumo e análise da obra

Entenda o enredo e os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 17h07 - Publicado em 23 ago 2012, 00h39

“As Melhores Crônicas de Rachel de Queiroz” foi organizado por Heloisa Buarque de Hollanda e reúne crônicas publicadas por Rachel de Queiroz em seis livros, abrangendo um período que vai de 1948 (“A donzela e a moura morta”) à 2002 (“Falso mar, falso mundo”). Tendo iniciado sua carreira no jornalismo ainda muito jovem, apenas aos 17 anos, Rachel de Queiroz se considerava antes de tudo uma jornalista. Dizia, inclusive, não gostar de escrever, fazendo-o apenas para se sustentar.

Assim, é através de sua atividade regular na imprensa que Rachel irá produzir grande parte de sua obra. E, dentro da profissão de jornalista, é na crônica, gênero literário que pode ser considerado intermediário entre o jornalismo e a literatura, que ela irá trabalhar de melhor forma sua escrita. Suas crônicas tratam dos mais variados temas e registram lembranças, fatos históricos, opiniões, críticas, indignações e o que mais vier à mente da escritora.

Para melhor entender a crônica de Rachel de Queiroz, deve-se ter em mente o que tradicionalmente é uma crônica. Esse é um gênero literário que trata, no geral, de problemas cotidianos, assuntos comuns ao dia-a-dia das pessoas, sendo na maioria das vezes um texto curto. Cada crônica é organizada em torno de um único eixo temático e suas personagens (quando houverem) são normalmente rasas, ou seja, não possuem aprofundamento psicológico e muitas vezes nem possuem nomes. Devido a essas características, por muito tempo discutiu-se se a crônica era de fato um gênero literário ou não.

Porém, a crônica de Rachel de Queiroz apresenta diversas inovações e possuem um caráter experimental, aproximando-a muitas vezes de um conto (gênero literário de textos curtos que apresentam personagens, enredo, narrador). Assim, através de seu experimentalismo literário, Rachel de Queiroz coloca em debate o caráter literário ou não da crônica, dando força a esse gênero que por muito tempo foi considerado secundário dentro da literatura brasileira.

Dentre as crônicas escolhidas para este livro, têm-se grande destaque os tipos regionais e as lembranças que Rachel tem do sertão. Assim, muitas vezes estes textos apresentam um caráter autobiográfico, a medida que são baseados em lembranças e fatos reais vividos pela escritora. Percebe-se também uma linguagem simples como se fosse um diálogo com o leitor, uma característica comum às crônicas. Consegue-se então através dessa aproximação com o leitor uma maior credibilidade ao texto.

Porém, por mais que a linguagem empregada por Rachel de Queiroz em seus textos seja considerada “simples” para padrões literários convencionais, esta simplicidade é fruto de intenso trabalho técnico e literário. Não só em suas crônicas, mas também em seus romances e outros textos, a preocupação em escrever de uma “forma simples” é uma característica central de seu estilo. Consequentemente, outra característica importante da escrita de Rachel de Queiroz é a busca por uma linguagem oral e natural.

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Além do sertão, outros temas bastante recorrentes em suas crônicas são o cotidiano carioca – Rachel de Queiroz viveu alguns anos na Ilha do Governador e era apaixonada pelo lugar, escrevendo diversas crônicas que tomavam a Ilha como tema -, reflexões sobre o amor – existem algumas crônicas em que ela narra aventuras amorosas da mocidade e paixões proibidas -, e têm bastante destaque também temas como o tempo, a velhice e a morte.

Crônicas representativas
“O Senhor São João”
Neste texto, a autora usa como ponto central a festa de São João para desconstruir certos preconceitos e estereótipos mantidos pelos moradores das regiões Sul e Sudeste acerca do Norte e Nordeste. Tendo como ponto de partida a ideia de que no Norte o povo passa o ano todo dançando em uma série de festividades, Rachel de Queiroz trabalha a diferença entre os diversos estados e cidades do Norte e Nordeste, dando voz à riqueza cultural destas regiões. As lembranças da infância no Ceará têm grande importância e força na construção dessa narrativa.

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“Rosa e o fuzileiro” e “Vozes d’África”
Estes contos fazem parte de uma vasta produção sobre amores impossíveis bem ao estilo Romeu e Julieta. Em “Rosa e o fuzileiro”, Rachel conta a história de uma jovem, Rosa, que se apaixona por um fuzileiro naval e que é violentamente agredida por seu pai, que se opunha ao amor da moça. Alguns meses depois, ela reconta a história de Rosa, mas dessa vez sob o ponto de vista do pai, em “Vozes d’África”.

“Pátria Amada”
Após uma temporada no exterior, Rachel de Queiroz fala sobre a sensação de voltar ao Brasil. Por mais que, ao estar em solo brasileiro, o que mais se quer é ir para o exterior e fugir de toda a bagunça de nosso país, ao se encontrar distante e se deparar com a bandeira nacional, o que se sente é saudade e vontade de voltar para casa. Rachel de Queiroz, em tom nacionalista, também reflete sobre o que é a pátria. O tema do “retorno” (seja ao Brasil, seja à casa, ou seja o retorno à infância) é um tema bastante recorrente em suas crônicas.

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“Sertaneja”
Nesta crônica, o saudosismo e o orgulho de sua terra-natal, o Ceará, aparece com grande força para retratar a vida no sertão. O corrido passar do tempo em uma cidade como o Rio de Janeiro é posto em contraste com o tempo devagar e sossegado da vida no sertão. Este tema do “tranquilo passar do tempo” é discutido em diversas outras crônicas da escritora.

“Não aconselho envelhecer”
Rachel de Queiroz traça nessa crônica uma perspectiva sobre a velhice bastante diferente da do senso comum. Primeiramente, ela discorda do termo “terceira idade”, e elenca o que considera diversos prejuízos causados pelo envelhecimento, que para ela é como uma “espécie de HIV a longo prazo”.

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Comentário do professor
Comentário do prof. Ronnie Roberto Campos, do Colégio Adventista de Londrina:
Sem dúvida, Raquel de Queiroz foi uma das mais expressivas figuras femininas de nossa literatura, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e a receber o famoso Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Escritora fenomenal, Rachel percorreu os mais diferentes gêneros, como a tradução, o romance e o teatro, mas foram as crônicas que revelaram ao mundo a genialidade dessa brilhante autora cearense.

A coleção organizada por Heloisa Buarque de Holanda é uma coletânea que reúne 71 dos melhores textos da escritora. A linguagem clara, simples, direta e muito próxima da coloquial resulta numa leitura bastante agradável. Estilisticamente suas crônicas costumam ser arroladas ao regionalismo modernista, embora alguns de seus textos não se ajustem muito bem a essa classificação.

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Pensando na obra como indicação de leitura para o vestibular, é interessante prestar atenção à intertextualidade que ocorre com certa frequência, principalmente pela citação de fragmentos de obras e autores bastante conhecidos, como Manuel Bandeira. Vale a pena observar também o foco narrativo, que na maioria das vezes se apresenta em primeira pessoa. Às vezes o narrador se apresenta como uma garota em sua infância, outras vezes na juventude e muitas vezes já na idade madura revivendo suas memórias.

Sobre Rachel de Queiroz
Rachel de Queiroz nasceu em 17 de novembro de 1910 na cidade de Fortaleza, Ceará. Por parte de mãe, era descendente da família do escritor José de Alencar (sua bisavó materna era primo de Alencar). Após uma grande seca na região, ela muda-se com os pais em 1917 para o Rio de Janeiro e, logo depois, para Belém do Pará. Em 1919, retornam para Fortaleza. Durante esse tempo, seu pai foi seu principal educador, ensinando-a a ler, nadar e cavalgar.

De volta ao Ceará, forma-se professora aos quinze anos de idade, em 1925. Orientada por sua mãe, dedica-se inteiramente à leitura dos principais lançamentos nacionais e internacionais, e começa a produzir seus primeiros textos. Em 1927, escreve uma carta ao jornal “O Ceará” e é convidada pelo diretor do jornal à colaborar para a publicação. Neste mesmo ano lança em forma de folhetim seu primeiro romance, História de um nome. Em 1930, publica “O Quinze”, obra que trata da luta do povo nordestino contra a seca e a miséria, e a deixaria famosa em todo o país.

Nesta mesma época envolve-se com o Partido Comunista, mas rompe com ele após o partido censurar seu livro “João Miguel”, onde um operário mata outro. Acaba publicando essa obra no Rio de janeiro e muda-se para São Paulo, onde filia-se ao sindicato dos professores de ensino livre. Entre 1934 e 1939, muda-se constantemente entre o Norte, o Rio de Janeiro e Fortaleza, onde é presa em 1937 acusada de ser comunista.

Em 1939, divorcia-se e se muda para a cidade do Rio de Janeiro, onde publica “As três Marias”, seu quarto romance. Conhece o médico Oyama de Macedo, com quem vive até 1982, ano em que ele vem a falecer. Após a notícia do assassinato do revolucionário marxista Trótski, afasta-se da esquerda. Em 1967, Rachel apoia o golpe militar e passa a integrar o Conselho Federal de Cultura, onde fica até o fim do regime militar em 1985.

Em 1977, é eleita para a Academia Brasileira de Letras, organização da qual recebeu em 1957 o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra, e torna-se a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia. Ao lado de seus diversos romances, contos, crônicas e peças teatrais, Rachel de Queiroz torna-se também muito conhecida por suas histórias infanto-juvenis, carreira que começou em 1969 com o livro “O Menino Mágico”. Rachel de Queiroz vem a falecer no dia 4 de novembro de 2003 em sua casa no Rio de Janeiro.

Suas principais obras são: “O Quinze” (1930), “As três Marias” (1939), “100 Crônicas escolhidas” (1958), “Dôra, Doralina” (1975), “As menininhas e outras crônicas” (1976) e “Memorial de Maria Moura” (1992).

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