SANTO TOMÁS DE AQUINO
Maior expoente da filosofia escolástica, Santo Tomás de Aquino foi fortemente influenciado por Aristóteles e Averróis
Santo Tomás de Aquino
ORIGEM
Roccasecca (cerca de 1224-1274)
CORRENTE FILOSÓFICA
Escolástica
PRINCIPAIS OBRAS
Suma Teológica; Suma contra os Gentios; Contra os Erros dos Gregos; Comentários sobre Aristóteles
FRASE-SÍNTESE
“O objeto das virtudes teológicas é o próprio Deus, que é a última finalidade de tudo e acima do conhecimento da nossa razão. Por outro lado, o objeto das virtudes morais e intelectuais é algo compreensível à razão humana.”
BIOGRAFIA
Santo Tomás de Aquino foi o maior expoente da filosofia escolástica. Membro da Ordem dos Dominicanos e professor da Universidade de Paris, Aquino foi aluno de Santo Alberto Magno (1206-1280). Fortemente influenciada por Aristóteles e Averróis, sua filosofia é de suma importância para a Igreja Católica até os dias atuais. Durante o Concílio de Trento, sua obra foi colocada no altar ao lado da Bíblia, sendo considerada fundamental para o combate e a refutação do protestantismo.
Durante a viagem a Roma, onde participaria do II Concílio de Lyon, a convite do papa Gregório X, Aquino adoeceu, vindo a falecer na Abadia de Fossanova, em 1274. Foi canonizado em 1323. Na posteridade, muito de seu pensamento, no entanto, foi deformado e injustamente associado à ortodoxia e ao conservadorismo.
“Em todas as causas eficientes ordenadas, em primeiro lugar está a causa do que se encontra no meio, e o que se encontra no meio é causa do que está em último lugar, tanto se os intermediários forem muitos, quanto se for um só; tiradas as causas, tira-se o efeito; logo, se não for primeiro nas causas eficientes, não será nem em último, nem no meio. Se, porém, procedermos de forma indefinida nas causas eficientes, não haverá primeira causa eficiente e, portanto, não haverá também nem efeito último nem causas intermediárias, o que é evidentemente falto. Logo, é necessário admitir alguma causa eficiente primeira, à qual todos chamam de Deus.”
A FILOSOFIA DE SANTO TOMÁS DE AQUINO
Uma de suas ideias centrais é a rejeição do absoluto antagonismo entre a razão e a fé. Para Aquino, existiriam as “verdades da fé”, atingíveis apenas por meio da revelação cristã, às quais não poderemos chegar através da razão. Porém, nem todas as verdades seriam alcançadas desse modo, existindo também as “verdades naturais teológicas”. Sendo a razão obra de Deus, poderíamos alcançar essas verdades tanto pela fé como pela razão. A fé e a razão seriam, muitas vezes, rios que desembocam num mesmo oceano.
Em sua Suma Teológica, o filósofo apresenta cinco vias para demonstrar a existência de Deus, ancoradas na filosofia aristotélica:
- O primeiro argumento, oriundo da Física de Aristóteles, crê que, se tudo que move é movido por algo, não pode ser admitida uma regressão ao infinito, devendo existir um primeiro motor. Deus, assim, é o Primeiro Motor.
- O segundo argumento, oriundo da Metafísica de Aristóteles, defende a ideia de que, se perguntássemos a qualquer fenômeno do mundo sua causa e continuássemos sucessivamente perguntando as “causas de suas causas”, em todos os casos chegaríamos a Deus.
- O terceiro argumento, baseado nas noções de necessidade e contingência de Aristóteles, acredita que, se tudo na natureza fosse contingente, passageiro, é preciso que algo do que existe seja perene. Deus é o primeiro ser, origem de toda necessidade.
- O quarto argumento, inspirado na Metafísica de Aristóteles, pensa que, se todas as coisas na natureza têm uma qualidade, em maior ou menor grau (tamanho, força etc.), é preciso um parâmetro, a perfeição, que é Deus, portador de todos os atributos e qualidades em máximo grau.
- O quinto argumento pensa que se, como observa Aristóteles, a natureza possui um propósito, deve haver uma finalidade para toda a criação, caso contrário o universo não tenderia para o mesmo fim ou resultado. A causa inteligente do universo é Deus.
No campo da política, Santo Tomás de Aquino dividiu as leis em lei natural (visando a preservar a vida), lei positiva (estabelecida pelo homem, visando a preservar a sociedade) e lei divina (que conduz o homem à vida cristã e ao paraíso, guiando as outras leis). Para Aquino, como para Aristóteles, o homem é um animal social e político: a família é a primeira associação, e o Estado, sua ampliação e continuação. O Estado, assim, deve existir, desde que subordinado, no que diz respeito à religião e à moral, à Igreja, a qual visa ao bem eterno das almas. Essa foi a concepção dominante da Igreja Católica, que seria depois combatida por Maquiavel.
Atualmente, são inúmeros os debates acerca das relações entre fé e ciência. Alguns, por um lado, propugnam a separação absoluta dos dois campos, pois, como disse Mário Sérgio Cortella, se, em ciência, é preciso ver para crer, em religião, é preciso crer para ver. Por outro lado, outros, como os deístas, acreditam que é necessário não existir contradição entre os dois campos para, assim, a fé ser confiável. A obra de Santo Tomás de Aquino, pregando algumas convergências entre fé e razão, pode iluminar esse debate.