FRANCIS BACON
Um dos ícones do empirismo, Bacon defendeu o método experimental contra a ciência especulativa clássica
Francis Bacon
ORIGEM
Londres (1561-1626)
CORRENTE FILOSÓFICA
Empirismo
PRINCIPAIS OBRAS
Novum organum; The Advancement of Learning (ampliado posteriormente com o título De augmentis); New Atlantis
FRASE-SÍNTESE
“Saber é poder.”
BIOGRAFIA
Nascido em Londres, em 1561, Francis Bacon foi um homem da política, atuando desde jovem como diplomata e chegando ao cargo de lorde-chanceler no governo de Jaime I, em 1618. No mesmo ano recebeu o título de barão de Verulam e, três anos mais tarde, o de visconde de St. Albans. Seu prestígio era tamanho que se especulou – sem provas concretas – que ele fosse o verdadeiro autor das obras de Shakespeare.
Posteriormente, em 1621, Bacon foi afastado da política, acusado de corrupção. Proibido de exercer cargos públicos, ele dedicou-se mais intensamente à ciência – foi pioneiro ao traçar o primeiro esboço racional de uma metodologia científica. O filósofo morreu de maneira trágica, como mártir da ciência: buscando estudar o processo de congelamento de uma galinha durante o inverno, acabou morrendo devido ao frio.
“A verdade surge mais facilmente do erro do que da confusão.”
A FILOSOFIA DE BACON
Bacon é um dos ícones do empirismo e considerado, junto a Descartes, um dos fundadores da filosofia moderna graças a sua defesa do método experimental contra a ciência especulativa clássica. Em contrapartida ao racionalismo cartesiano, contudo, o empirismo representa uma tradição filosófica que, tomando como lema a frase aristotélica “nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”, acredita que todo conhecimento resultaria de percepções sensíveis, desenvolvendo-se a partir desses dados. O empirismo é uma forma de autonegação: deixe o objeto falar por si só, a partir disso a verdade é acessível.
Bacon visava a uma reforma filosófica que garantisse o progresso das ciências contra a escolástica. Assim, seu pensamento crítico tinha como objetivo libertar o homem de preconceitos, fantasias e superstições que impediriam a construção do verdadeiro conhecimento. Nesse contexto, encontramos sua teoria dos ídolos. Os ídolos seriam obstáculos, distorções ou ilusões que “bloqueiam a mente humana”, conduzindo o homem ao erro.
Haveria os ídolos da tribo, ou seja, os que resultam da natureza humana, a qual, imperfeita, distorce e corrompe as coisas devido aos limites naturais da própria razão – o homem não possui um lugar privilegiado no universo e, por isso, não há nada no universo que lhe permita conhecê-lo.
Já os ídolos da caverna resultam das características individuais, ou seja, a constituição física e mental de cada um, sua experiência de vida, sua educação e seu meio, os quais prejudicariam o processo de conhecimento da realidade.
Os ídolos do foro (ou do mercado) são resultado da linguagem, comunicação e do discurso, ou seja, as palavras poderiam perturbar o intelecto e arrastá-lo a diversas controvérsias.
Finalmente, os ídolos do teatro são aqueles resultantes das doutrinas filosóficas e científicas, as quais criam mundos fictícios e teatrais, que muitas vezes aceitamos (Bacon referia-se, principalmente, à escolástica). Obviamente, seria impossível desfazer-se de todos os ídolos, mas, conhecendo sua natureza, poderíamos combatê-los.
Tendo consciência dos ídolos que bloqueiam a mente humana, seria necessário ao homem despir-se de seus preconceitos, tornando-se uma “criança diante da natureza” para, assim, alcançar o verdadeiro saber. A partir de então, Bacon propôs um novo método científico. O método é a indução, a qual, baseada nas observações e na experiência, permite ao homem conhecer a regularidade, o funcionamento e as relações entre os fenômenos da natureza, formulando, dessa forma, as leis científicas. Essa ciência possibilitaria o controle total da natureza para, assim, beneficiar o homem, fazendo previsões e desenvolvendo instrumentos técnicos – extensões de nossos membros que ajudam a superar nossas limitações. Dessa maneira, o progresso do conhecimento significaria o progresso do homem, por isso sua famosa frase: “Saber é poder”.
O pensamento de Bacon foi fundamental para combater a superstição em sua época. Hoje, entretanto, a razão instrumental defendida por Bacon e sua glorificação da técnica são fortemente questionadas na filosofia contemporânea, em particular pela Escola de Frankfurt e por Heidegger. Será mesmo que saber é poder? Será correta a noção de que o progresso das ciências traz necessariamente o progresso dos povos? Ou melhor, seria correta a ideia de progresso? No século XIX, por exemplo, acreditava-se que o desenvolvimento das ciências naturais (física e química) nos levaria à paz e à perfeição. As guerras mundiais, as ditaduras e os incontáveis massacres dos séculos XX e XXI solaparam essa ideia: a razão, com toda sua importância, não salvou a humanidade. Nesse sentido, qual o papel da sensibilidade na história do homem?