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Estudo

A Filosofia na Grécia Antiga

Grécia antiga: o berço da filosofia

por Elaine S. Mendes Atualizado em 14 out 2025, 14h45 - Publicado em
14 out 2025
14h38

MENU PRINCIPAL

PERÍODOS HISTÓRICOS  

 • A Filosofia na Grécia Antiga • A Idade Média • O Renascimento e a Filosofia Moderna  O Iluminismo • 

 • A Filosofia na Contemporaneidade 

CORRENTES FILOSÓFICAS

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 Metafísica e Epistemologia • Ética • Filosofia Política •

PRINCIPAIS AUTORES

Filósofos Pré-Socráticos • Sócrates • Platão • Aristóteles  Filósofos Helenísticos  •
• S
anto Agostinho • São Tomás de Aquino • Bacon • Descartes • Maquiavel • Hobbes •  • Hume • Kant • Locke • Montesquieu • Rousseau • Voltaire Bauman Foucault Habermas 
Marx Nietzsche Sartre Schopenhauer Simone de Beauvoir 

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FILOSOFIA E ATUALIDADES

 Bauman e os movimentos sociais • Escola e ideologia O movimento feminista e a questão de gênero •  • Locke e a liberdade de expressão A Democracia Brasileira no Século XXI 

GLOSSÁRIO

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O berço da filosofia é a Grécia antiga. Os pensadores que surgiram a partir do século VI a.C. nas cidades-estado gregas moldaram decisivamente a nossa forma de compreender o mundo como conhecemos hoje e podem ser considerados responsáveis pelo que se entende por “civilização ocidental”.

Mas por que a filosofia surgiu na Grécia antiga? São muitas as razões que explicam por que na Grécia antiga houve as condições necessárias para o desenvolvimento de um pensamento “filosófico-teorizante”, centrado no logos.

Talvez o mais importante seja o surgimento da pólis a partir do Período Aracaico (entre os séculos VIII e VI a.C.). Ela pode ser definida como um pequeno Estado soberano, isto é, autônomo politicamente, que compreende uma cidade, um campo de cultivo ao redor e alguns povoados urbanos secundários. Sua economia era baseada na agricultura e no trabalho escravo.

Em 508 a.C, na pólis Atenas, coube ao tirano Clístenes tirar de vez o poder da aristocracia e, com isso, instaurar a democracia. Democracia, para os gregos, quer dizer, “poder do povo”, em contraposição ao “poder de um”, a monarquia, e ao “poder de poucos”, a oligarquia.

A democracia ateniense era direta, isto é, todos os cidadãos podiam participar da Assembleia, a Eclésia. Ela ficava localizada em um lugar central, uma grande praça pública, onde se realizavam as reuniões dos cidadãos para discutir assuntos relativos à política, isto é, à administração da pólis: a Ágora.

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Todos os cidadãos, independentemente de sua riqueza, podiam participar da política. No entanto, é preciso deixar claro: eram cidadãos em Atenas apenas os homens, adultos (com mais de 18 anos), filhos de pai e mãe atenienses. Escravos, mulheres, crianças e estrangeiros não eram cidadãos, portanto, não podiam participar da política.

Dessa forma, sem a autoridade de um rei, criou-se uma disputa oratória entre cidadãos, um combate de argumentos na Ágora. A escrita, por sua vez, não era mais privilégio de um pequeno grupo. Um mundo permeado pelo debate tornou-se um ambiente fértil para o surgimento da filosofia. Segundo o historiador francês Jean-Pierre Vernant, “o que implica o sistema da pólis é uma extraordinária proeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. A palavra constitui o debate contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo intelectual, assim como do jogo político”.

Além disso, é preciso notar que a filosofia foi, de maneira geral, exclusiva de uma elite grega. E, como se sabe, a elite grega tinha repulsa por toda forma de trabalho manual, visto como tarefa de escravos. Sem dúvida, boa parte da riqueza cultural da Grécia antiga se deve à escravidão, uma vez que ela liberou os gregos do trabalho manual e permitiu a eles dedicarem enorme tempo à política, aos esportes ou à filosofia. Sendo assim, a escravidão pode seguramente ser considerada uma das causas do avento da filosofia no mundo antigo por permitir o “ócio produtivo”, que gerava o conhecimento.

Outro fator importante para o surgimento da filosofia na Grécia antiga diz respeito aos aspectos geográficos da região, uma vez que as cidades-estado se localizavam em uma área voltada para o mar, sendo via de comunicação e de comércio com outros povos. Certamente, a troca de culturas efervescentes na Grécia incentivou a abertura para a troca de conhecimentos e o florescimento do pensamento filosófico.

Por fim, cabe notar que a cultura grega já era caracterizada por uma valorização do ser humano, de sua beleza, de suas capacidades, como se nota nas artes. Enquanto as estátuas egípcias e orientais centravam-se nos deuses, a escultura grega também tinha o homem no centro de suas preocupações, e caracterizou-se justamente por representar o movimento, os indivíduos, os músculos de um atleta, buscando a harmonia e a proporção. A Grécia antiga, portanto, já possuía uma cultura antropocêntrica, ou seja, que valorava o homem e suas capacidades.

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Os Filósofos Pré-Socráticos

A mitologia sempre foi um elemento cultural importante na pólis grega, pois dava unidade às cidades-estado com instituições e costumes tão diversos. Os deuses da mitologia grega relacionavam-se com a natureza e eram bastante próximos do homem: zangavam-se, alegravam-se, apaixonavam-se, sentiam ciúme e fome. As histórias dos gregos eram transmitidas em forma de mito. Por tratarem de sentimentos humanos, como o amor, o ódio, a admiração, a inveja, os mitos servem para entendermos melhor a nós mesmos, na tentativa de responder a indagações morais que rondam a mente humana.

Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros sábios gregos a formular uma explicação racional para o mundo sem recorrer ao sobrenatural. Alguns aspectos comuns entre eles podem ser apontados: em primeiro lugar, eram estudiosos da natureza (physis). Por buscarem entender a organização racional do universo, a partir de princípios e leis que o regem, dizemos que eram voltados para a cosmologia, ou seja, a busca por entender a razão que rege o universo. Em segundo lugar, tentavam encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos da natureza. Por fim, todos buscavam um princípio ou elemento primordial a partir do qual explicariam os fenômenos naturais.

Tales de Mileto (cerca de 624-545 a.C.)

Segundo uma tradição, que remonta aos próprios gregos antigos, o primeiro filósofo da história teria sido Tales de Mileto. Ele ficava indignado por “todas as coisas estarem cheias de deuses”. Dessa maneira, tentou explicar que a água era a origem única (physis) de todas as coisas. A água, Tales afirmava, era a substância fundamental de que todas as outras se compunham; se pulverizássemos bem as coisas, as dissecássemos ou as examinássemos de muito perto, encontraríamos não ferro, pedra ou carne, mas água. Tales, então, pensa que, no fundo, “tudo é um”, ou seja, há uma unidade geral do universo.  A matéria era água condensada e o ar, água evaporada. Toda a Terra, ele sustentava, era um disco que flutuava num lago gigantesco, cujas ondas e encrespações eram a causa dos terremotos.

Anaximandro de Mileto (cerca de 610-546 a.C.)

Em meados do século VI a.C, Anaximandro de Mileto, que já havia introduzido e aperfeiçoado o relógio de sol (gnomon) na Grécia, foi também o primeiro a traçar um mapa do mundo habitado e, influenciado pelos orientais, a tentar calcular a distância entre as estrelas. Para Anaximandro, o universo teria resultado de modificações ocorridas num princípio originário (arché). Esse princípio seria o ápeiron, que se pode traduzir por infinito e/ou ilimitado. Sendo princípio, deve também não ter princípio e ser indestrutível, porque o que foi gerado necessariamente tem fim e há um término para toda destruição. Por isso, assim dizemos: não tem princípio mas parece ser princípio das demais coisas e a todas envolver e a todas governar.

Pitágoras de Samos (cerca de 570-495 a.C.)

Pitágoras de Samos pressupunha uma unidade fundamental entre todos os seres: mas, para ele, o que une todos os seres do universo é a matemática (arithmós). O trabalho intelectual descobre a estrutura numérica de todas as coisas e, assim, vê sua relação com o cosmo, a harmonia, a proporção e a beleza. Os números não seriam, portanto, meros símbolos, mas a própria “alma das coisas”.

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Como disse Nietzsche, explicando Pitágoras: “A música, como tal, só existe em nossos nervos e em nosso cérebro; fora de nós compõe-se somente de relações numéricas quanto ao ritmo, se se trata de sua quantidade, e quanto à tonalidade, se se trata de sua qualidade, conforme se considere o elemento harmônico ou o elemento rítmico. No mesmo sentido, poder-se-ia exprimir o ser do universo, do qual a música é, pelo menos em certo sentido, a imagem, exclusivamente com o auxílio de números”.

Parmênides de Eleia (cerca de 515-445 a.C.)

Parmênides de Eleia viveu no fim do século VI e começo do século V a.C. e deixou um poema, apresentando suas ideias filosóficas. A primeira parte do poema mostra o que seria a “via da verdade”, ou seja, o pensamento verdadeiro; a segunda parte apresenta a “via da opinião”, ou seja, o pensamento errôneo. Na “via da opinião”, os mortais, por confiarem em seus sentidos (audição, tato, olfato visão, paladar), não chegariam à verdade (aletheia) nem à certeza, permanecendo nas opiniões e nas convenções de linguagem. Os sentidos enganam, levam-nos ao erro e tentam nos manter numa ilusão. Como então saber a verdade? É aí que entra a parte de seu poema chamada “via da verdade”: não confiando nos sentidos, mas apenas no que é razoável à razão, ao pensamento. É como se nosso pensamento revelasse um mundo distinto da razão. Note, portanto, que Parmênides é o primeiro filósofo a identificar a distinção entre realidade e aparência e combater, com isso, o senso comum.

Heráclito de Efeso (cerca de 535-475 a.C.)

Nascido em Efeso, colônia grega da Ásia Menor, Heráclito escreveu o livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Defendia a ideia de que o movimento e o conflito não apenas existiam como eram a própria essência das coisas. Heráclito diz: “Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo”, “a essência é a mudança” e “o verdadeiro é apenas como a unidade dos opostos”.

Heráclito nunca poderia dizer que o ar ou a água são a essência do mundo, uma vez que os dois não representam o processo nem a mudança: eles próprios estão submetidos a essa mudança, ao tempo, que é a verdadeira essência de tudo. Heráclito, assim, enfatiza o caráter mutável da realidade, sempre em fluxo: “Tu não podes entrar duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti”, ou “o sol não apenas é novo cada dia, mas sempre novo, continuamente”. Heráclito também acreditava que a realidade era marcada pelo conflito (pólemos) entre os opostos, e que esse conflito, longe de ser negativo, era a garantia do equilíbrio do universo, era a garantia de sua harmonia. Dia e noite, sol e chuva, criança e adulto, calor e frio, morte e vida, amor e ódio, dormir e acordar são opostos que se complementam, de forma que um só pode ser entendido em razão do outro.

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Sócrates

Origem

Atenas (469-399 a.C.)

Frase-síntese

“Só sei uma coisa. E é que nada sei.”

Biografia

Filho de um escultor e de uma parteira, Sócrates era uma figura desconcertante, sempre visto com a mesma túnica velha, andando vagarosamente pelas praças, mercados e ruas de Atenas. Ele nunca trabalhou e comia apenas quando convidado à mesa por seus discípulos.  Por não ter emprego, não militar na política, não exercer cargos administrativos, foi visto como um filósofo verdadeiramente livre: ninguém o financiava, ninguém o patrocinava: não precisava agradar a ninguém.

Acusado de corromper a juventude de Atenas e não reconhecer a existência dos deuses, ele foi condenado à morte. Por mais que seus amigos quisessem libertá-lo, o sábio se recusava, pois fugir de sua condenação seria renegar as próprias ideias: “Conservando a vida, eu me tornaria indigno. Não me peças que eu mate a minha palavra”. Ele suicidou-se antes de sua execução com um cálice de cicuta.

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A filosofia de Sócrates

Certa vez, o oráculo de Delfos declarou Sócrates o maior sábio da Grécia, dizendo: “Sábio é Sófocles, mais sábio é Eurípedes, mas entre todos os homens, Sócrates é sapientíssimo”. Categoricamente, Sócrates afirmou: “Só sei uma coisa. E é que nada sei”. Não se julgava um sábio erudito, mas simplesmente se autodenominava um “amante da sabedoria”. “E o que é senão ignorância, a mais reprovável, acreditar saber aquilo que não se sabe?”.

Em outras palavras, o reconhecimento da própria ignorância é o primeiro passo para a busca da verdade. A verdade não é, entretanto, propriedade de nenhum homem, e ser filósofo é estar numa incessante busca por ela: “A vida não refletida não vale a pena ser vivida”.

Sócrates acreditava que a reflexão pessoal e a meditação eram as maiores fontes de sabedoria: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”. Tal frase resume a postura do filósofo de comprometer-se na busca da verdade.

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O filósofo costumava andar pelas ruas de Atenas e abordar algum jovem ou erudito, dialogando com eles no meio de toda a gente. O diálogo, suscitando a busca pela verdade, era a forma de livrar a alma da doença do erro. Diferentemente da tradicional figura do professor, Sócrates apresentava-se ao seu interlocutor, convidando-o à jornada para a sabedoria; em seguida, comportando-se como um ignorante ávido pelo conhecimento de seu interlocutor que se julgava sábio (ironia socrática), começava a questioná-lo (indagação).

A partir daí, Sócrates continuava a fazer diversas perguntas, mostrando as contradições e os pontos fracos de seu interlocutor, levando-o a questionar as próprias verdades preestabelecidas e, assim, parir uma nova concepção, uma opinião própria, livrando-o de preconceitos. Por isso, Sócrates dizia ter uma função semelhante à de sua mãe: enquanto ela era parteira de crianças, ele era parteiro das ideias, ou seja, dava luz à razão. Tal ação era chamada de Maiêutica.

A filosofia não é algo que se pode obter com um certificado, mas é uma postura que exige dedicação e compromisso pela busca da verdade. Sócrates era, na verdade, um questionador, figura que incomoda as sociedades em todas as épocas.

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Sócrates hoje

Na atualidade, muitos evocam o pensamento socrático para opor-se aos dogmatismos ou imposições. Por exemplo, há muitos defensores de uma escola que, em vez de basear-se na memorização ou na reprodução de pensamentos prontos, seja ancorada no diálogo. Por outro lado, há aqueles que usam o pensamento de Sócrates para resistir ao nosso contexto de hiperinformação. Por exemplo, a desconfiança, a humildade e o diálogo são fundamentais numa época em que as verdades parecem ser “prontas e rápidas”.

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Platão

Origem

Atenas (cerca de 428-347 a.C.)

Frase-síntese

“Enquanto os filósofos não forem reis, ou os reis não tiverem o poder da filosofia, as cidades jamais deixarão de sofrer.”

Biografia

Discípulo de Sócrates, Platão era proveniente de uma família ateniense rica e famosa. Consta que seu verdadeiro nome era Aristocnes – “Platão” ou “Platon” seria um apelido derivado da largura de seus ombros ou de sua testa. Serviu no exército entre 409 e 404 a.C., final da Guerra do Peloponeso. Após a guerra, estabeleceu-se uma oligarquia em Atenas, em 404 a.C., o chamado governo dos Trinta Tiranos (um deles Carmides, tio de Platão), antes de, em seguida, a democracia ser restabelecida.

Sua filosofia pode ser vista como uma resposta ao fracasso e à decadência da democracia ateniense. Após esse acontecimento, Platão viajou para o Egito, a Itália e a Sicília. Difundiu os conhecimentos filosóficos pela Grécia e fundou a Academia (que ganhava esse nome por se reunir no Jardim de Academo), escola onde se estudava filosofia e se praticava ginástica.

Principais obras

Apologia de Sócrates; A República; O Banquete; Mênon; Fédon

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 A filosofia de Platão

Como o ser humano obtém, pela primeira vez, o conhecimento e como pode identificá-lo se não sabemos o que é?

Platão aborda essa questão por meio do dualismo. Segundo ele, existem dois mundos:

O mundo das formas ou ideias (inteligível): Platão diz que a alma traz consigo desde o seu nascimento um conhecimento prévio, a priori, que lhe permite a identificação do objeto – o chamado conhecimento inato. Tais conhecimentos são as ideias ou formas, que residem no mundo inteligível, fora do tempo e do espaço. Os objetos do mundo comum organizam suas estruturas conforme essas ideias ou formas primordiais, mas não são capazes de revelá-las em sua plenitude, sendo apenas imitações imperfeitas.

O mundo concreto e sensível: trata-se de um mundo acessível pelos sentidos ou material. É o mundo que conhecemos pelo olfato, paladar, audição, visão e tato. A opinião (doxa), fundamentada nas sensações, tem uma “falsa consciência” de si mesma, julgando-se correta. Esse mundo, em Platão, é um engano, um falseamento.

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Segundo Platão, atingir o conhecimento implica converter o sensível ao inteligível – ou seja, despertar, reviver e relembrar esse conhecimento esquecido. Dessa forma, a alma se liberta das aparências para se abrir ao conhecimento das ideias verdadeiras.

Para isso, Platão recorre à dialética, essencialmente dialógica. É por isso que escreveu em forma de diálogo, gênero que consagrou – em seus livros não há a exposição sistemática de uma filosofia, mas conversas entre Sócrates e seus amigos sobre justiça, amor, virtude etc. Para Platão, o diálogo é a melhor maneira de buscar a verdade e o único meio de chegarmos ao consenso, estabelecendo o que se diz e por que se diz.

O mito da caverna

Para clarificar esse pensamento, Platão expõe em A República o mito da caverna.  A alegoria começa com algumas pessoas no interior de uma caverna, acorrentadas no pescoço e nos pés desde a infância. Elas não conseguem ver a saída da caverna, apenas sombras de figuras humanas que estão do lado de fora, projetadas por uma fogueira de maneira que ficam gigantes e estranhas. Como essas pessoas vivem na caverna desde que nasceram, acham que as sombras são a única coisa que existe. Nada sabem sobre a luz, sobre a fogueira ou sobre o que há fora da caverna.

Porém, em determinado momento, um habitante da caverna se livra das correntes. Nesse instante, começa a indagar de onde vêm as sombras e, assim, sai da caverna. A luz do sol, de início, ofusca seus olhos e o assusta. Em seguida, seus olhos se adequam à luz do sol, e ele vê o mundo, colorido e bonito, e percebe que as sombras da caverna são apenas imitação barata do verdadeiro mundo. Feliz, o homem, lamentando a sorte de seus companheiros presos, volta à caverna e conta o que viu. Os habitantes da caverna não acreditam nele, dizem que tudo o que existe são as sombras, e, por fim, o matam.

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A caverna é uma alegoria ao modo que os homens permanecem antes da filosofia, tal como sua subida ao mundo superior. O homem comum, prisioneiro de hábitos, preconceitos, costumes e práticas que adquiriu desde a infância, é um homem que está na caverna, e só consegue enxergar as coisas de maneira parcial, limitada, incompleta e distorcida, como “sombras”. Na caverna, só veriam as sombras, ou seja, estariam presos nas correntes da ignorância, não entendendo o mundo em que vivem.

A caverna representa, portanto, o domínio da opinião (doxos). A partir da filosofia, o homem buscaria compreender o mundo, se libertaria das correntes e sairia da escuridão da caverna, tomando contato com a luz do sol, que é a representação da verdade do mundo das Ideias.

Por que o homem iria querer sair das sombras, sendo que tal processo é doloroso? No diálogo Fedro, Platão nos lembra que há, na alma humana, um conflito entre a força do hábito, que faz com que o prisioneiro se sinta confortável em sua situação familiar, e a força do eros, quer dizer, a curiosidade, o impulso, que o estimula para fora, para buscar algo além de si mesmo.

Platão também formulou ideias no campo político, apontando como forma ideal um governo conduzido e dominado por filósofos – os mais sábios deveriam governar. No Estado ideal, todas as pessoas, ricas ou pobres, filhos de militares, trabalhadores ou governantes, homens ou mulheres, deveriam estudar desde crianças e fazer diversos testes. Aquelas que fossem deixadas para trás no teste, iam sendo agricultores, comerciantes, militares, e assim por diante. Os homens que passassem em todos os testes, aos 50 anos, estariam prontos para governar, automaticamente, sem nenhuma eleição.

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Platão hoje

As referências a Platão continuam intensas nos dias de hoje. Filmes como Matrix se utilizam do mito da caverna para pensar sobre a possibilidade de vivermos numa ilusão. Seriados como Blackmirror abordam a possibilidade de, no mundo digital, criarmos novas “cavernas” (nas redes sociais ou celulares, por exemplo), e, assim, nos enclausurarmos em falseamentos da realidade.

“Como procurar por algo, Sócrates, quando não se sabe pelo que se procura? Como propor investigações acerca de coisas às quais nem mesmo conhecemos? Ora, mesmo que viéssemos a depararmo-nos com elas, como saberíamos que são o que não conhecíamos?”

 

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Aristóteles

Origem

Estagira (atual Stavros) (384-322 a.C.)

Frase-síntese

“Aquele que chega a conhecer as coisas mais árduas e que apresenta grande dificuldade para o conhecimento humano, este é um filósofo. Além disso, aquele que conhece com maior exatidão as causas e é mais capaz de ensiná-las é, em todas as espécies de ciências, um filósofo.”

Biografia

Filho de um médico da família real da Macedônia, Aristóteles foi frequentador da Academia ateniense, sendo o mais prestigiado discípulo de Platão. No entanto, Aristóteles não pôde assumir a liderança da Academia porque era meteco, isto é, não era ateniense. Devido à sua fama, Aristóteles, em 333 a.C., foi convidado por Felipe da Macedônia a encarregar-se da educação de seu filho Alexandre, futuro senhor do mundo.

Aos 49 anos, Aristóteles fundou, perto do templo de Apolo Lício, sua escola, o Liceu, rival da Academia de Platão. Como Aristóteles dava aulas passeando, sua escola também ficou conhecida como peripatética (peripatos é caminho em grego). Morreu em Cálcis, na ilha de Eubeia, na Grécia.

Principais obras

Metafísica; Física; Ética a Nicômaco; Política; Órganon; Retórica

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A filosofia de Aristóteles

Aristóteles foi um severo crítico de Platão. O ponto central de sua contestação consiste na rejeição do dualismo – mundo sensível e mundo inteligível – representado pela teoria das ideias.

A questão que Aristóteles levanta, em resumo, é: se Platão propõe a existência de dois mundos e, após isso, explicita que, por meio da dialética, é possível passar do mundo sensível para o mundo inteligível, ele admite que os dois mundos possuem relações internas, isto é, possuem características em comum. Se isso for verdadeiro, os dois mundos têm intersecções, e, nesse caso, não se trata de dois mundos – e a teoria platônica cai por terra. De outra forma, se não existirem relações entre os dois mundos, torna-se impossível passar de um para o outro, e a teoria platônica também não se sustentaria.

Para resolver esse problema, Aristóteles cria um novo ponto de partida. Os indivíduos possuem duas substâncias indissociáveis:

A matéria (hyle) é a marca da particularidade.

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A forma (eidos) é o princípio que determina a matéria e lhe proporciona uma essência, uma universalidade.

Assim, todos os indivíduos de uma mesma espécie teriam a mesma forma, mas difeririam do ponto de vista da matéria, já que se trata de indivíduos diferentes. As formas são imutáveis e perfeitas, como as ideias platônicas, mas não residem em outro mundo. Não existem formas ou ideias puras, como queria Platão – o intelecto humano, por meio da abstração, separa a matéria da forma.

Aristóteles também ignora o conhecimento inato para reconhecer formas, como admitia Platão. Para Aristóteles, todo conhecimento principia com os sentidos ou as sensações (aisthesis), de maneira que não há “nada no intelecto que não estivesse antes nos sentidos”: a sensação, portanto, não é o engano ou a mentira, como dizia Platão. É a partir da memória que retemos dados do mundo sensorial e, assim, criamos experiências a partir das quais estabelecemos relações entre os dados sensoriais e aquilo que está na memória. A partir das experiências passamos a elaborar os conceitos e, com a repetição de dados sensoriais, o homem cria conclusões e expectativas.

A partir disso, a etapa seguinte é a techné, isto é, a arte ou técnica. A techné significa saber “o porquê das coisas”, as regras que nos permitem produzir determinados resultados, o que nos dá a possibilidade de ensinar. Para Aristóteles, de modo geral, quem conhece as regras, isto é, possui a techné, é superior a quem apenas possui a técnica.

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A última etapa do conhecimento, a mais elevada para Aristóteles, é a episteme, quer dizer, a ciência ou o conhecimento: trata-se do conhecimento do real em seu sentido mais abstrato e genérico, quer dizer, as leis da natureza ou do cosmo. É um saber gratuito, uma finalidade em si mesma, que satisfaz uma curiosidade natural no homem, o desejo de conhecer, sem objetivos práticos imediatos.

Ética e política

Em Aristóteles, a ética presume-se como o estudo da virtude (areté), de maneira que “nosso objetivo é nos tornarmos homens bons, ou alcançar o grau mais elevado do bem-humano. Esse bem é a felicidade; e a felicidade consiste na atividade da alma de acordo com a virtude”. Todavia, as virtudes éticas não são mera atividade racional, como as virtudes intelectuais, mas implicam, por natureza, um elemento sentimental, afetivo, passional, que deve ser governado pela razão, e não pode, todavia, ser completamente resolvido na razão.

Uma de suas mais famosas teses prevê que o homem feliz e justo está sempre à procura do meio-termo justo, tendo em vista a prudência e a moderação. O homem não será feliz se viver apenas cultivando os prazeres carnais ou o intelecto, mas, sim, se desenvolver e encontrar todas as suas capacidades e possibilidades. O homem feliz evita os extremos e busca o autocontrole. Aristóteles pensa o “meio-termo justo” não apenas como princípio a ser seguido na vida pessoal, mas na própria constituição das cidades gregas: “Em todas as cidades há três partes: os muito ricos, os muito pobres e os terceiros no meio destes. Se, portanto, concordarmos que o mediano e o meio são o melhor, é óbvio que a melhor prosperidade de todas é a média”. Tem-se, portanto, um elogio da mediocridade como o ideal de cidade para Aristóteles.

Em sua obra Política, encontra-se sua famosa definição segundo a qual “o homem é um animal político”, isto é, um ser que, por ter o discurso racional (logos), se realiza na comunidade e não pode ser compreendido fora de suas relações com seus semelhantes. Em Ética a Nicômaco, Aristóteles escreve que “uma andorinha não faz verão”.  Como as andorinhas, na época do calor, andam juntas, o filósofo diz isso para lembrar que o indivíduo não deve ser entendido (e julgado) isoladamente.

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Aristóteles hoje

Para que serve o conhecimento? Vivemos hoje uma época bastante tecnicista, a qual crê que todo conhecimento deve servir a algo. Aristóteles, entretanto, não apenas lembra a importância do conhecimento gratuito, mas também enfatiza sua superioridade: quem serve a alguém é servo, de maneira que o conhecimento que possui um fim mesmo seria, para ele, soberano, superior. Evidentemente, ninguém irá negar a importância do conhecimento técnico, sem o qual este próprio texto não poderia existir. Entretanto, Aristóteles nos lembra da importância de outros saberes.

“É preciso dizer que, com a superioridade excessiva que proporcionam a força, a riqueza, os muito ricos não sabem e nem mesmo querem obedecer aos magistrados.  Ao contrário, aqueles que vivem em extrema penúria desses benefícios tornam-se demasiados humildes e rasteiros. Disso resulta que uns, incapazes de mandar, só sabem mostrar uma obediência servil e que outros, incapazes de se submeter a qualquer poder legítimo, só sabem exercer uma autoridade despótica.”

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Os filósofos helenísticos

O termo “helenístico” é usado para se referir à civilização que utilizava o grego como língua oficial a partir das conquistas de Alexandre, o Grande, em 336 a.C., até o domínio romano sobre a Grécia antiga, em 146 a.C, ou até o domínio romano sobre o Egito, em 30 a.C.

Com a expansão de Felipe II e Alexandre, o Grande, as cidades gregas perderam grande parte da autonomia e passaram a ser parte de um império. Depois da morte de Alexandre, sem herdeiros, o império entrou em decadência e se dividiu em três reinos. Os reinos helenísticos (macedônicos, selêucidas e ptolomaico) concentravam o poder no soberano absoluto, com uma corte vasta e uma poderosa burocracia – algo que, aliás, inexistia na Grécia clássica. As assembleias democráticas desapareceram, e a terra e a manufatura (cerveja, têxteis, papiro ou óleo) tornaram-se monopólio estatal. Uma série de golpes e contragolpes se sucedeu, e esses Estados logo se fragmentaram e foram paulatinamente anexados, nos séculos II e I a.C., pelos romanos.

No mundo helenístico há, no entanto, um fenômeno mais impressionante do que qualquer batalha de Alexandre: gregos, egípcios, persas, hebreus, mesopotâmicos e hindus, culturas tão ricas e distintas, passaram a ter contato. Surgia uma cultura nova, nem grega, nem oriental, mas híbrida, sincrética, sendo, por isso, chamada de cultura helenística. A língua grega tornou-se a “língua comum” em toda a região conquistada por Alexandre. O modelo das cidades gregas era exportado para o Oriente: nos territórios conquistados, Alexandre construiu cerca de 70 cidades, sendo Alexandria, no Egito, a maior cidade da época, eixo econômico e intelectual do Mediterrâneo Oriental.

A filosofia helenística surge nesse contexto histórico. Ela é fortemente marcada por uma preocupação central com a ética, aqui entendida como o estabelecimento de regras do bem viver, da “arte de viver”. É ilustrativo disso o famoso Manual, do romano Epicteto (50-125). Em outras palavras, com o fim da pólis grega e o advento das hegemonias (macedônica, romana ou bizantina), o homem deixou de ser analisado em sua condição de “animal político”, que deveria viver pela sua cidadania. Alijado da política ou desiludido com ela, passou a preocupar-se mais com sua felicidade pessoal. Num mundo pluralista e multicultural, ou seja, cosmopolita, o homem sentia-se desenraizado, e a pólis deixou de ser sua referência básica. A ataraxia (“paz de espírito” ou “tranquilidade”), e não a política, leva os homens à eudaimonia (“felicidade”).

Em vez de valorizar o autor (com exceções notáveis, tal qual Plotino, Zenão de Cítio, Epicuro ou Cícero), o pensamento no mundo helenístico é usualmente associado a uma escola ou tradição. A originalidade, assim, tem menos valor que a vinculação a um grupo. Muitas escolas helenísticas, por isso, foram acusadas de dogmáticas e doutrinárias, por deixar de lado o aspecto polêmico e dialético da filosofia grega. Além do mais, elas são profundamente ecléticas, por sintetizar diferentes doutrinas. As principais escolas helenísticas são a Estoica e a Epicurista.

Escola Estoica

A Escola Estoica foi fundada em Atenas, em 300 a.C., por Zenão de Cítio (344-262 a.C.), e desenvolvida por Cleantes (330-232 a.C.) e Crisipo (280-206 a.C.). Em Roma, os principais representantes do estoicismo foram Sêneca (4 a.C.-65d.C.), Epicteto (60-138) e o imperador Marco Aurélio (121-180).

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O termo “estoicismo” deriva de stoa poikilé (“pórtico pintado”), local em Atenas onde os membros da escola se reuniam. O estoicismo é a primeira ética universal fundada numa igualdade de princípios de todos os homens: cada um deve se pensar como “cidadão do mundo”, isto é, um cosmopolita.

A noção de necessidade, ou destino (heimarmené), é muito forte no estoicismo: o homem deve resignar-se e aceitar os acontecimentos predeterminados. Isso não se traduz pela inação ou pelo fatalismo passivo. Devemos agir de acordo com os preceitos éticos e fazer o que julgarmos devido, mas devemos também aceitar as consequências de nossa ação e o curso inevitável dos acontecimentos. Segundo um exemplo famoso, se vejo alguém se afogando, devo salvá-lo, mas, se não o conseguir, não devo desesperar-me, pois era inevitável. É legítimo, portanto, um amor ao destino (amor fati).

Assim, os estoicos acreditam que, para manter nossa ataraxia, devemos nos preocupar apenas com o que podemos modificar (nossos pensamentos, ações, sentimentos).  O que não está ao nosso alcance, ou seja, o que não conseguimos modificar (morte, velhice, catástrofes naturais, a opinião dos outros) não deve ser alvo de nossas preocupações. O sábio, em vez de buscar mudar a ordem do mundo, deve saber mudar seus desejos. A liberdade é compreendida como adesão à necessidade do ser que sabe reconhecer na lei universal o que é mais apropriado à sua natureza primeira. Como disse Sêneca: “Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”.

Escola Epicurista

Epicuro (341-271 a.C.), notabilizado por seu tratado Da Natureza, fundou sua escola em Atenas, em 306 a.C., reunindo-se com seus discípulos no Jardim (Kepos), que ficou conhecido na Antiguidade. O Jardim tornou-se uma comunidade filosófica que põe em prática a ideia de frugalidade, serenidade e amizade, a rejeição das superstições religiosas e as vaidades sociais. Os sábios constroem um pequeno mundo amistoso em que reinam livremente a sabedoria e a amizade, no qual são recebidos abertamente mulheres, crianças, escravos e estrangeiros.

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Para Epicuro, o que nos afasta do soberano bem são os quatro grandes medos humanos: medo dos deuses, medo da morte, medo do sofrimento e medo da dor. Os quatro medos não têm razão de ser, pois são alimentados por crenças vãs. De fato, não são as coisas que nos atormentam, mas, sim, as elaborações e os pensamentos que temos delas. A morte, por exemplo, não deve ser temida, pois, se pensarmos, veremos que não há por que ansiar a imortalidade. Além disso, a morte “não é nada em relação ao homem: ou ela existe e ele não existe ou ele existe e ela não existe”. A morte de um amigo não nos deve fazer infelizes, pois não é um mal para ele.

Para os epicuristas, o homem age eticamente na medida em que dá vazão a seus desejos e necessidades naturais de forma equilibrada ou moderada, e é isso que garante a ataraxia, porque “aprender e gozar andam juntos”. A valorização do prazer (hedoné) como algo natural e a concepção de que a realização de nossos desejos naturais e espontâneos é positiva deram origem à imagem, certamente distorcida, de que o epicurista é alguém devotado a uma vida cirenaica de prazeres. Ao contrário, o prazer excessivo joga-nos novamente na dor, que por sua vez nos leva à ação viciosa. Existem três tipos de prazeres: os naturais e necessários, que devemos buscar, pois a não satisfação causaria em nós uma dor real; os nem naturais nem necessários, cuja não satisfação não causaria uma dor verdadeira, e, portanto, artifícios da vaidade devem ser evitados; e os naturais, mas não necessários (como um bom vinho ou o amor), que devem ser evitados.

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