Quem criou o Enem – e como ele se tornou o maior vestibular do país
O exame surgiu como um termômetro do Ensino Médio, mas hoje é considerado a maior porta de entrada para as universidades públicas e particulares
Em 1998, quando o então ministro da Educação do Brasil decidiu criar um exame de avaliação da última etapa do Ensino Básico chamado Enem – sigla que significa exatamente Exame Nacional do Ensino Médio – provavelmente não imaginava as proporções que aquela ideia tomaria. Já em 1998, 115.575 estudantes de todo o país fizeram a prova no dia 20 de agosto. No ano seguinte, o exame já começaria a tomar novos rumos, com a adesão de mais de uma centena de universidades – uma pista do que estava por vir. Entenda, afinal, quem criou o Enem e a história do exame que tornou-se a maior porta de entrada para o Ensino Superior no país.
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Enem, um termômetro do Ensino Médio
Quando o Enem foi criado, no final do século passado, o Brasil era outro. O Ensino Médio então, nem se fale! Acredite ou não, esta etapa de ensino só se tornou obrigatória no país em 2009 – quando a Emenda Constitucional 59 expandiu a obrigatoriedade de frequentar a escola para adolescentes até 17 anos.
Por isso, não é muito difícil imaginar que em 1998, ano em que o Enem foi idealizado, não se sabia muito a respeito do Ensino Médio em termos de políticas públicas. Isso incluía o perfil dos alunos e o nível de aprendizado que estavam alcançando. O exame nasce, então, com este intuito, criado pelo etnão ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Naquele ano, o Brasil era presidido por Fernando Henrique Cardoso.
Por meio da prova, o MEC (Ministério da Educação) queria, principalmente, entender a quantas andava o Ensino Médio no país. Na primeira edição, o exame teve 157.221 inscrições – com as abstenções, 115.575 participantes compareceram à aplicação. A taxa de inscrição do primeiro Enem custou R$ 20 e, naquele ano, duas instituições de ensino superior já haviam decidido usar as notas dos candidatos para seleção em seus processos seletivos.
Um ano depois, o Enem já se tornaria o “vestibular” para 93 faculdades.
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Prouni eleva o Enem a um novo patamar
Ao longo dos seus quase vinte e cinco anos de vida, o Exame Nacional do Ensino Médio passou por diversas mudanças. Em 2001, por exemplo, as inscrições que antes só eram feitas pelas agências dos Correios passaram a ser aceitas também pela internet. Em 2002, mais de 50% dos concluintes do Ensino Médio fizeram as provas. O Enem também se tornou mais inclusivo com o tempo, passou a oferecer atendimento especializado para pessoas com deficiência e isenção a estudantes de baixa renda.
Mas os grandes marcos que contribuíram para que ele se tornasse uma espécie de vestibular e, mais tarde, a maior porta de entrada para o Ensino Superior do Brasil, foi a associação a outros programas do governo federal. O primeiro deles foi o Prouni.
Idealizado por Fernando Haddad e Ana Estela Haddad, o Prouni foi implementado em 2004, na gestão de Cristovam Buarque no MEC. O programa passou a conceder bolsas de 50 e 100% a estudantes de baixa renda em universidades particulares. Para participar do Prouni, no entanto, era necessário utilizar a nota do Enem – e isso fez com que o exame tomasse proporções maiores ainda.
Neste ano, 1,5 milhão de brasileiros inscreveram-se para fazer as provas, que foram aplicadas em 608 municípios brasileiros. Em 2005, o MEC levantou que 67% dos estudantes já faziam o Enem com intenção de entrar no Ensino Superior.
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Surge o Sisu – e um novo Enem
Por mais que a criação do Prouni tenha representado uma guinada no Enem, conferindo a ele ainda mais relevância, o programa de maior impacto no exame foi o Sisu. Para se ter ideia, graças a ele o Enem passou a ter a cara que tem hoje: provas divididas em dois dias, 180 questões e uma redação. Antes disso, os estudantes enfrentavam apenas uma prova com 63 questões e uma dissertação. Bem diferente, concorda?
Criado em 2009, o Sisu foi implementado pela primeira vez em 2010. Desde então, utilizando as notas obtidas no Enem, os estudantes passaram a poder concorrer a vagas em diversas universidades públicas por meio do sistema.
Apesar da queda no número de inscritos nos últimos anos, o Enem segue sendo um dos maiores exames do tipo em todo o mundo. Ele só perde para o gigante chinês Gaokao – que teve impressionantes 12,9 milhões de inscritos em 2023.