A prova do Enem, criada há mais de 20 anos, já passou por muitas modificações: mudaram-se os conteúdos exigidos, a quantidade de dias de prova e, principalmente, a forma como o exame poderia servir de ingresso no Ensino Superior. Mas, do ano passado para cá, é um outro tipo de mudança que tem martelado a cabeça dos estudantes que se preparam para a prova com base nos anos anteriores: a possível “guinada ideológica” anunciada desde a mudança do governo.
Mesmo antes de assumir, Jair Bolsonaro já comentava a possível mudança nos temas da prova, a fim de eliminar questões consideradas de cunho ideológico como a que falava do dialeto pajubá, usado entre a população LGBT, no Enem 2018. Em março, o presidente tomou a primeira medida nesse sentido: criou uma comissão para avaliar as perguntas que compõem o banco de questões do Enem e eliminar aquelas consideradas polêmicas. O resultado da comissão nunca foi divulgado.
Para os que estão apreensivos com as possíveis mudanças na prova, no entanto, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, adiantou em entrevista à Folha de S. Paulo o que se esperar das provas nos dois primeiros domingos de novembro.
Nem de direita, nem de esquerda
Segundo o presidente do Inep, o objetivo da comissão criada por Bolsonaro foi tornar a prova o mais “neutra” possível, eliminando temas que pudessem gerar polêmicas em qualquer campo ideológico. Por isso, recomenda aos candidatos que esqueçam temas políticos: “façam a revisão, descansem, foquem na prova, esquece política, confusão. Administrem o emocional.”
Lopes afirma que discutir questões polêmicas e temas controversos são importantes na sociedade, mas não no Enem, já que tornaria confusa a avaliação de opinião ou habilidade — embora a questão sobre o pajubá, por exemplo, não pedisse a opinião do candidato, mas sim seu conhecimento sobre o que configura um dialeto.
Ainda que a comissão tenha revisto e possivelmente eliminado textos-base do banco do Enem, novas questões não foram criadas. Por isso, o candidato não deve esperar uma prova completamente diferente e reformulada.
Mesma cartilha de redação, mesmas regras
O presidente do Inep também lembrou que a cartilha de redação do Enem, divulgada na última semana, prevê as mesmas regras do ano anterior, inclusive a de perda de pontos por desrespeito aos Direitos Humanos.
Além disso, a banca de corretores da redação da prova não é integrada por membros do Inep. Segundo Lopes, o importante será apresentar uma redação bem argumentada em defesa de um ponto de vista. “Quem fizer uma redação de esquerda vai ser prejudicado? Acho que não. Quem fizer de direita vai ser prejudicado? Acho que não também”.