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Nota mil: professores escrevem modelo de redação do Enem 2024

Leia o texto elaborado por professores da plataforma Redação Nota 1000

Por Redação
3 nov 2024, 21h23

Neste domingo (3), os milhões de candidatos inscritos no Enem 2024 elaboraram uma redação sobre o tema “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil“. Embora tenha sido avaliada como acessível e de fácil desenvolvimento pelos professores, a temática também apresentava alguns riscos: muitos candidatos poderiam fugir do tema ao abordar apenas o racismo. Será que você se saiu bem?

Enquanto gabaritos extraoficiais são publicados logo no final da prova, quando se trata da redação os candidatos terão que esperar um pouco para saber a nota, divulgada apenas em janeiro. No entanto, ler textos exemplares sobre o assunto pode te ajudar a entender se seguiu pelo caminho certo. Por isso, pedimos aos professores da plataforma Redação Nota 1000 que elaborassem um modelo de redação do Enem 2024.

O resultado você confere abaixo:

A Lei nº 10.639, que completou 20 anos em 2023, incluiu no currículo da Educação Básica a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. Todavia, apesar desse movimento legislativo, o país ainda enfrenta desafios para garantir a valorização da herança africana. Nesse contexto, os principais motivos que levam a esse quadro são a distorção da identidade nacional a partir da narrativa advinda de povos historicamente colonizadores e o consequente apagamento da presença socioespacial do legado africano.

Inicialmente, destaca-se a forma deturpada como a história vem construindo a identidade brasileira. Nesse sentido, a escritora nigeriana Chimamanda Adichie, no TED Talk O perigo de uma história única, alerta para o risco da perda da identidade em detrimento da supervalorização de uma cultura hegemônica, em especial aquela ligada aos povos colonizadores. Exemplos disso são as inúmeras influências afro-brasileiras presentes no cotidiano, cuja origem foi, com frequência, esquecida ou descaracterizada, como a utilização de roupas brancas em sextas-feiras, o ritual de pular sete ondas no Ano Novo, os banhos de ervas para purificação. Dessa forma, esses elementos acabaram sendo absorvidos pela cultura sem o devido reconhecimento da herança africana.

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Além disso, destaca-se o consequente processo de invisibilização da herança africana em espaços anteriormente marcados pela presença negra. Isso pode ser ilustrado pelo apagamento gradual e silencioso da população afro-brasileira ocorrido na região da Liberdade, em São Paulo. Antes de se tornar reduto da cultura japonesa, esse local – outrora nomeado “Campo da Forca” – foi palco de execuções de pena de morte por enforcamento, nos séculos XVIII e XIX, sobretudo de escravizados que ousaram se rebelar ou fugir, conforme reportagem da BBC publicada em 2023. Assim, a reiterada ideia da Liberdade como bairro unicamente japonês na verdade foi utilizada para esconder a história escravagista do local. Logo, é evidente que o esquecimento da presença e da memória africana nos espaços públicos perpetua uma visão incompleta da nossa identidade cultural.

Portanto, fica claro que a nação ainda enfrenta uma série de obstáculos para a garantia da valorização da herança africana, exigindo intervenções para a mitigação dessa problemática. Por isso, entidades de preservação da história e da cultura nacional, a exemplo do IPHAN, devem desenvolver ações de resgate da memória e da presença africana nos aspectos da cultura e nos locais historicamente atrelados a esses povos. Isso pode ser feito por meio da criação de memoriais e museus, nos moldes do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, cujo acervo abarca aspectos culturais africanos e afro-brasileiros, a fim de promover o reconhecimento da contribuição negra na formação do país. Espera-se, com isso, que o conhecimento sobre o legado afro-brasileiro não seja apenas uma obrigatoriedade no currículo escolar, reduzindo o perigo da narrativa única tal qual enunciado por Adichie.

Calendário Enem 2024

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