Relâmpago: Assine Digital Completo por 3,99

Gêmeas tiram a mesma nota na redação do Enem 2024 e passam juntas em Direito na UFF

Ambas tiraram 960 citando Paulo Freire e Thomas Hobbes! Leio os textos completos das jovens

Por Ludimila Ferreira
Atualizado em 14 abr 2025, 15h54 - Publicado em 13 abr 2025, 19h00
gêmeas nota 960
 (Acervo/Reprodução)
Continua após publicidade

Imagine tirar 960 pontos na redação do Enem , em uma edição em que apenas 10% dos candidatos ultrapassaram os 900? Agora, pense só se você comemorasse essa conquista com uma irmã que também fez a prova e atingiu a exata mesma nota? Foi isso o que aconteceu com as gêmeas Giovanna e Giulianna Langoni, de 17 anos. Para completar a coincidência, as duas ainda usaram dois repertórios iguais ao dissertar sobre os “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil“.

O desempenho na prova garantiu, para cada uma, uma vaga no curso de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Apesar da coincidência, elas contam que tinham rotinas de estudo individuais, compartilhando apenas ideias e referências ao longo do ano de aprendizado. Para o GUIA DO ESTUDANTE, as gêmeas relembraram como foi o processo que culminou nos 960 da redação.

+ Como o mito da democracia racial perpetua o racismo no Brasil

A preparação para o Enem 2024

Esse foi o primeiro Enem oficial das estudantes. Elas fizeram a prova como treineiro no primeiro e segundo ano do Ensino Médio. Compreendendo o modelo do exame, preferiram entrar em um cursinho para se preparar melhor. Para Giovanna, foi essencial ter a ajuda dos professores do Estratégia Vestibulares na hora de organizar as ideias.

Giulianna também acrescenta que as aulas extras não bastam, é que também é preciso dedicação e estratégia. “Fazia uma redação por semana, e quando chegou perto da prova, aumentei para uma por dia. Mas o mais importante era corrigir e entender onde eu estava errando”, explica a estudante.

As duas, por coincidência, acabaram citando Paulo Freire e Thomas Hobbes na redação.  “Nosso estudo era individual, mas fazíamos bloquinhos juntas com repertórios que achávamos interessantes”, conta Giovanna.

Além dos dois pensadores, Giovanna também citou o seriado “Ginny e Georgia” no seu texto, enquanto Giulianna optou pelo livro “Casa Grande e Senzala”, do sociólogo Gilberto Freyre.

Continua após a publicidade

+ Conheça a história do movimento negro no Brasil

Mudança de planos

Direito nem sempre o sonho das duas irmãs. No começo da preparação, ambas pensavam em caminhos diferentes. Giovanna queria fazer Relações Internacionais, e Giulianna, Arquitetura e Urbanismo, inspirada por programas de design e reforma.

“Eu gostava muito de assistir ‘Irmãos à Obra'”, comenta a estudante sobre o reality em que dois gêmeos reformam casas nos Estados Unidos. Porém, no fim do terceiro ano, Giulianna mudou de ideia depois da irmã lhe apresentar o documentário ‘Juízo’, que mostra o dia a dia de uma juíza no Rio de Janeiro. A essa altura, Giovanna já tinha se decidido também pelo Direito.

Abaixo, leia as redações escritas pelas gêmeas!

Redação Giulianna 

redação giulianna
(Inep/Reprodução)
Continua após a publicidade

“No livro “Casa Grande e Senzala”, o sociólogo Gilberto Freyre destaca o termo “democracia racial”, cenário em que, pela miscigenação ocorrida no Brasil, durante o período colonial, haveria harmonia racial. No entanto, tal situação não repete-se na contemporaneidade brasileira, visto que grande parte da população negra não é lembrada pelas suas crenças e tradições, mas pelo marco da escravidão no país, enquanto a história e cultura da população branca é disseminada pretigiosamente. Assim, evidencia-se a dificuldade na preservação das heranças transmitidas pelos povos africanos, haja vista a determinação da história negra como apenas o período escravocrata, propiciando o esquecimento da cultura africana no Brasil. 

Sob essa perspectiva, a invalidação das culturas afro-brasileiras ocasiona os seus distanciamentos do conhecimento público. Destarte, segundo o educador brasileiro Paulo Freire, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, ou seja, sem a sociedade ser ensinada acerca dos costumes deixados como herança pelos africanos, ela não os enxerga como necessários e relevantes para preservação. Dessa forma, constata-se a desvalorização da cultura negra nacional, já que poucos são os indivíduos que tem acesso a essas manifestações culturais. 

Outrossim, o apagamento da identidade africana decorre da falta de atenção dada à temática pelo poder público. Ademais, de acordo com o filósofo inglês Thomas Hobbes, “é dever do Estado garantir o bem-estar social”, isto é, sem políticas públicas que atuem de forma efetiva na valorização da herança africana, os cidadãos deixam de se identificar com uma cultura de extrema importância para a construção da nação. Logo, percebem-se empecilhos para a aceitação social da história negra, configurando a redução da população negra ao povo que enfrentou a escravidão. 

Portanto, vislumbra-se a ignorância em relação à valorização das tradições africanas e afro-brasileiras e denota-se a iminência de medidas para reverter a problemática em questão. Para tanto, cabe ao Ministério da Educação – órgão responsável pelo sistema de ensino no país – garantir a perpetuação dos valores e práticas afrodescendentes, por meio da inserção de aulas nas grades curriculares de escolas públicas e privadas que trabalhem em cima das culturas que foram sujeitas a esteriótipos, a fim de assegurar a preservação dos conhecimentos africanos pela sociedade. Por essa tratativa, as tradições passadas pelos povos africanos não serão esquecidas pelos cidadãos, promovendo o bem-estar da população negra no Brasil ao vivenciar a valorização de seus costumes.”

+ O que é racismo recreativo e por que ele ainda é tolerado?

Continua após a publicidade

Redação Giovanna 

redação giovanna
(Inep/Reprodução)

“No seriado televisivo “Ginny e Georgia”, a estudante Ginny, filha de pai preto, recebe a tarefa de ensinar tradições da cultura africana aos seus colegas de classe, porém ela nunca teve contato com crenças africanas, o que a impediu de cumprir sua lição. De modo análogo à contemporaneidade brasileira, é visto que não é de conhecimento geral a cultura afro-brasileira, levando ao esquecimento da história do país. Assim, evidencia-se a pouca difusão da cultura africana, haja vista a trivialização e a representação estereotipada de seus costumes e tradições, proporcionando a perda da herança afro-brasileira no Brasil. 

Sob essa perspectiva, a noção superficial e estereotipada, como folclores, do povo africano ocasiona o distanciamento dos brasileiros com o real legado deixado por este. Destarte, de acordo com o educador e sociólogo Paulo Freire, “se a educação sozinha não transforma a a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, isto é, sem o aprendizado e o contato com a cultura afro-brasileira, os indivíduos deixam de cultivar o patrimônio histórico e cultural brasileiro. Dessa forma, constata-se a falta de ensino dos conhecimentos africanos nas escolas, apagando o legado de um importante grupo social. 

Outrossim, o desaparecimento da herança africana no país decorre da falta de transmissão de suas tradições, o que propicia a exclusão de sua cultura do imaginário popular. Ademais, de acordo com o filósofo inglês Thomas Hobbes “é dever do Estado garantir o bem-estar social”, ou seja, sem políticas públicas que assegurem o fluxo de conhecimentos afro-brasileiros, os cidadãos deixam de contribuir com a valorização destes. Logo, a falta de ações governamentais influencia na estagnação das transmissões culturais africanas, caracterizando um entrave para a identidade nacional. 

Continua após a publicidade

Portanto, vislumbra-se a desvalorização das tradições africanas, e denota-se a iminência de medidas para reverter a problemática em questão. Para tanto, cabe ao Ministério da Educação – orgão responsável por promover ensino de qualidade no país – incentivar a aprendizagem da cultura afro-brasileira nas escolas, por meio da imerção da história afro-brasileira na grade nacional curricular e incentivo à leitura de contos africanos, a fim de proporcionar o contato dos cidadãos com a herança do povo africano. Por essa tratativa, a cultura africana será de conhecimento do brasileiro e valorizada pelas futuras gerações, e a falta de contato com crenças africanas, como abordado na série “Ginny e Georgia” será atenuada.”

+ 9 livros de autoras negras que abordam o racismo

Comentário do professor

O professor de redação que acompanhou as estudantes no cursinho apontou os pontos fortes dos textos das jovens.

“A Giovanna utilizou referências que prenderam o leitor desde o início e apresentou uma proposta de intervenção simples, mas bem articulada com o problema, apontando desenvolvimentos que não são chavões: a trivialização e a representação estereotipada da cultura africana”, explica.

Já Giulianna, na análise do professor, surpreendeu na introdução ao citar Gilberto Freyre de forma pertinente. “Essa redação é um exemplo de como uma boa introdução eleva o nível do texto, que foi mantido pelo domínio linguístico. Vale a pena ressaltar a importância de se expressar de forma fluente e clara, algo que só se consegue com treino”, aponta Andrade.

Continua após a publicidade

Entre no canal do GUIA no WhatsApp e receba conteúdos de estudo, redação e atualidades no seu celular!

Compartilhe essa matéria via:

 Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso GUIA DO ESTUDANTE ENEM e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.

Publicidade
Gêmeas tiram a mesma nota na redação do Enem 2024 e passam juntas em Direito na UFF
Enem
Gêmeas tiram a mesma nota na redação do Enem 2024 e passam juntas em Direito na UFF
Ambas tiraram 960 citando Paulo Freire e Thomas Hobbes! Leio os textos completos das jovens

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

Apenas R$ 3,99/mês*

Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.