“Fiquei 3 meses sem internet”: alunos da rede pública relatam desigualdade
Mesmo com a falta de ferramentas necessárias e a dificuldade em conciliar estudo e trabalho, estudantes tentam uma vaga por meio do Enem
Na frente da Unigranrio de Duque de Caxias, um dos lugares de aplicação do Enem 2020 no Rio de Janeiro, histórias de estudantes da rede pública ilustram bem como a pandemia reforçou as desigualdades. Taynara Soares da Silva, 17, estudante de uma escola estadual, perdeu três meses de estudo por ficar sem internet, após ter seu celular roubado. Ela relembra que, quando conseguiu voltar à rotina de estudos, precisou colocar as atividades da escola em dia para poder passar de ano. Em meio a muitos obstáculos, a preparação para o Enem ficou para trás.
A garota também lembra que os alunos de escola pública já têm desvantagem em relação aos de instituições particulares. Durante o Ensino Médio, por exemplo, os professores têm que se dividir entre as questões mais específicas da disciplina e a redação. Não há um foco, portanto, nessa habilidade, que é fundamental para uma boa nota no Enem.
Ao seu lado estava a amiga Brendha Carolina da Silva Abreu, 18 anos, que sonha com uma vaga em Engenharia Civil. Também aluna de escola estadual, diz que estudou muito para Matemática, mas não acha que foi o suficiente: “Me sinto despreparada ainda. Se não tivesse parado a educação pela pandemia, teria estudado bem mais”.
Ian Vitor, 21, coordenador geral da União dos Estudantes de Duque de Caxias, assim como no primeiro dia, estava no local de prova. “Viemos com o intuito de denunciar esse processo de acesso à universidade nesse período da pandemia, em que vários estudantes da rede pública ficaram sem acessar as aulas e receberam suas apostilas no final do ano”. Segundo ele, isso transforma o Enem mais um instrumento de disparidade entre estudantes de escola pública e de escola privada.
“São várias questões que a gente precisa colocar, debater e denunciar esse #Enem ‘seguro’. Que, na prática, não foi nada seguro, principalmente para o estudante que está fazendo aqui na Unigranrio" diz Ian Vitor, 21, coordenador geral da União dos Estudantes de Duque de Caxias. pic.twitter.com/jRqEatowFo
— Guia do Estudante (@guiadoestudante) January 24, 2021
Ian também ressaltou mais um problema forte na edição deste ano atípico: as aglomerações. No domingo passado, ele gravou um vídeo da aglomeração na hora de entrar para a prova que viralizou nas redes sociais. “Um total descaso, parecia que não tinha pandemia. As filas lotadas e muita gente sem máscara”, descreve. O jovem explica que a razão do problema é a fiscalização que, na prática, não acontece de forma efetiva. Ele também cita a questão da saúde mental e reconhece que muitos candidatos não querem entrar com muita antecedência na sala para evitar a ansiedade da espera.
Agradecer ao @inep_oficial por fazer o cidadão passar por isso no meio de uma pandemia, aguardem a onda de covid do #Enem2020, ninguém deveria ter que escolher entre sua faculdade e sua saúde!
Vergonha de ser brasileiro… 🤡 pic.twitter.com/dJ6xYPdoLC— Muller (@MullerB91) January 17, 2021
O portão já estava aberto, mas Lucy Oliveira, 19, preferiu aguardar mais um pouco do lado de fora para fugir do calor da sala de aula, onde realizaria sua prova. Com o sonho de entrar no curso de Enfermagem, a estudante fazia um cursinho pago online, mas perdeu o emprego por um período e teve dificuldade para continuar estudando. Ela conta que teve poucas aulas online e não conseguiu absorver direito os conteúdos. “Para quem não tem condição financeira, como eu, foi bem difícil conciliar trabalho e estudo, para conseguir estar aqui e realizar a prova”.
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