Enem: Como estudante aumentou nota da redação em quase 400 pontos
Iryna recomenda estudar bastante história e filosofia para produzir um bom texto
Pode não parecer, mas não é tão diferente a preparação para a prova de redação em relação às outras provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Tanto uma quanto as outras exigem muito treino e a memorização de preceitos básicos. Por isso, ir bem na redação é uma questão de prática. É o que comprova a estudante Iryna Miréia Nunes Azevedo, de 20 anos, que, após obter pontuação 540 na prova de 2015, teve um salto impressionante para 920 em 2016.
Seu segredo? Dedicação. “Ia toda semana aos plantões de redação do meu cursinho. A professora repassava o tema da semana e eu tentava ler tudo que podia sobre o assunto. Também li muitas redações nota mil de anos anteriores, para entender por que elas tiravam pontuação tão alta”, explica Iryna, que estudou no cursinho Maximize, em São Paulo.
Iryna conta que usará a nota do Enem para prestar Ciências Biológicas na Universidade Federal do ABC (UFABC) e na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mas também está tentando uma vaga na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A decisão pelo curso aconteceu há um ano. “Antes disso, eu já estava no cursinho, mas não me dedicava muito porque não sabia o que queria fazer. Pensava em Jornalismo, mas entrei como jovem aprendiz em um jornal e, acompanhando a rotina da redação, vi que eu gostava mesmo era de ciência, de biologia”, explica.
Depois de definir o curso, a decisão por se dedicar ao vestibular veio naturalmente. “Parei de faltar às aulas e estudava todos os dias. Acordava às 9h e ia para o cursinho na hora do almoço, para ficar estudando e tirando dúvidas nos plantões até a hora da aula, que era à noite”, conta.
Técnicas de redação
E o salto de quase 400 pontos na redação? “Na primeira vez que fiz a prova e recebi a nota, foi um baque, porque eu achava que escrevia bem. Sempre fiz escola pública, mas tirava notas boas em português e redação. Só que eu não sabia a estrutura da redação do Enem, não sabia que tinha que colocar propostas de intervenção, então fiz uma dissertação comum. Já esse ano coloquei três propostas na conclusão”, explica.
Durante a preparação no cursinho, Iryna conta que, de tanto ler redações nota mil de outros anos, começou a perceber um padrão nas estruturas dos textos. “O que eu percebi é que a introdução sempre tem uma contextualização histórica. Também costumam colocar algumas correntes filosóficas no desenvolvimento, ou informações da mídia para contextualizar. Aí, na conclusão, duas a três propostas de intervenção e um resumo de tudo que foi apresentado.”
– Leia redações nota mil de anos anteriores
– Mantenha-se atualizado com jornais e revistas
– Estude história e filosofia para ajudar na construção de argumentos
– Busque entender o formato da redação do Enem e as exigências da banca corretora
Quanto ao tema, Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil, ela diz que não era um assunto que dominava, mas já havia discutido em debates em sala de aula e lido sobre em jornais. “Tentei puxar a questão para o lado das religiões afrobrasileiras. Segui o padrão: fiz uma introdução história e usei algumas ideias do Iluminismo para debater ignorância e intolerância”, conta.
Para quem vai prestar este ano, Iryna diz que manter-se informado é o mais importante. “É preciso ler muito, jornal, revista, tudo. Conhecer bastante história e filosofia também me ajudou no desenvolvimento do texto”, diz. Além disso, sua técnica de ler as redações com nota máxima de anos anteriores ajuda a pegar dicas para elaborar seu próprio texto. “Vale a pena se dedicar, mesmo que isso signifique sacrificar os fins de semana. O resultado final é só alegria.”
Leia abaixo a redação de Iryna:
Historicamente, a intolerância religiosa sempre esteve presente em nosso cotidiano. Nos tempos em que éramos uma colônia portuguesa, qualquer pessoa que não seguisse a religião oficial da metrópole, era passível de punição física. Atualmente, mesmo existindo leis que condenem essa prática, ela ainda permanece.
Nas mídias, diariamente vemos notícias relacionadas ao preconceito religioso, principalmente contra as de origem africana, pelo fato de serem religiões trazidas pelos escravos e altamente condenáveis pela elite da época. Ataques que ocorrem em redes sociais evidenciam tal prática. Além do aspecto cultural em criminalizar socialmente grupos minoritários, a falta de conscientização e informação mostram o porquê desses acontecimentos.
Segundo princípios iluministas, o conhecimento traz a luz para o homem. Ou seja, o preconceito é o principalmente fator da ignorância, do medo e da falta de informação. Para que a intolerância religiosa acabe – ou aconteça em menor proporção – o ser humano tem que livrar-se de concepções que favoreçam tais práticas.
A família e a escola tem papel importante nesse processo. Com os pais educando seus filhos, ensinando a respeitarem as diferentes crenças e a escola com palestras informativas, apresentando diversos dogmas religiosos, ou mesmo a falta de um, faz a criança crescer habituada com a diversidade que existe em nosso país.
Além disso, o Governo, com o Ministério da Cultura, lançando programas midiáticos, divulgando informações e atualizando a sociedade sobre as religiões e a justiça punindo quem comete tais crimes contra a crença individual, será notável a diminuição da intolerância religiosa no Brasil.