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Os casais mais icônicos de livros cobrados no vestibular

O amor está no ar... e nos livros cobrados no vestibular também!

Por Luccas Diaz
Atualizado em 10 jun 2022, 20h15 - Publicado em 10 jun 2022, 16h16

Ah, o Dia dos Namorados… alguns arriscam dizer que nesta época do ano o amor fica no ar e se vê casais por toda a parte. Se você, vestibulando, já está se sentindo invadido – e até um pouco distraído – por toda essa aura romântica, saiba que é possível conciliar tudo isso: diversão, Dia dos Namorados e, de quebra, um pouquinho de estudo.

Pensando nisso, o GUIA DO ESTUDANTE separou uma lista dos casais mais icônicos de livros que já apareceram em vestibulares como a Fuvest e a Unicamp. Até mesmo o Enem, que não cobra leituras específicas, acaba abarcando questões de clássicos da literatura na prova de Linguagens.

Confira um pouco sobre estes casais que marcaram a literatura e sobre o enredo dos livros em que aparecem:

Pedro Bala e Dora – “Capitães da Areia”

Cena do filme
(Imagem Filmes/Divulgação)

Em Capitães da Areia, livro de 1937 de Jorge Amado, o leitor conhece um grupo de menores de idade abandonados que vivem nas ruas da cidade de Salvador. Descritos como esfomeados, sujos e agressivos, os meninos, que fazem de um armazém abandonado o seu lar, vivem nas margens da sociedade baiana e sobrevivem a partir de esmolas e roubos. O líder do grupo é o corajoso Pedro Bala, jovem que foi parar na rua aos 5 anos depois de seu pai, um líder grevista, ser morto no cais. Pedro é descrito como um jovem ágil, habilidoso, de cabelos loiros e uma cicatriz no rosto.

Certo dia, dois novos órfãos se integram ao grupo: Dora e Zé Fuinha. A mãe dos dois havia morrido em meio a um surto de varíola. A menina Dora, entre seus 13 e 14 anos, tem olhos grandes e cabelo também loiro, seus seios “já haviam começado a surgir sob o vestido”. A beleza da jovem, e o fato de ser a primeira garota do grupo, logo chama atenção dos meninos, a fazendo centro de uma disputa para saber quem teria relações sexuais com ela.

Pedro Bala, de início, é contra a permanência de Dora no grupo, mas personagens como Professor e João Grande a defendem e a jovem passa a representar uma função quase maternal no grupo. A presença de Dora vai se tornando cada vez mais vital, se fazendo não apenas uma mãe, mas uma igual.

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Pedro e Dora se apaixonam e desenvolvem um relacionamento de cumplicidade, tal qual o rei e a rainha daquele reino de meninos perdidos. Para Pedro, que até então só se relacionava com mulheres para o seu prazer sexual, Dora representa a descoberta do amor verdadeiro e do companheirismo.

Jerônimo e Rita Baiana – “O Cortiço”

Jerônimo e Rita Baiana
(Argos Filmes/Reprodução)

O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é a principal obra quando se fala da corrente literária do Naturalismo no Brasil. Escrito em 1890, o livro acompanha o dia a dia de um cortiço na região central do Rio de Janeiro. O local concentra pequenas moradias baratas para figuras de pouco poder aquisitivo da sociedade carioca. Entre seus moradores, está o português Jerônimo, um homem trabalhador e disciplinado que trabalha como cavouqueiro na pedreira de João Romão, o dono do cortiço.

A estética naturalista dá o tom em “O Cortiço” ao mostrar o lado mais primitivo de seus personagens. Cada um ali representa um comportamento ou um sentimento humano, mas não de uma forma idealizada como se faz no Romantismo, mas, sim, apresentando a sua versão mais animalesca.

Jerônimo é um dos melhores exemplos do livro sobre a capacidade do cortiço de instigar em seus moradores instintos selvagens. Casado, o homem se apaixona por sua vizinha, a calorosa e sensual Rita Baiana, descrita como uma “mulata” que encanta homens, mulheres e crianças. A paixão, porém, não é movida por um sentimento de amor, mas por uma ânsia sexual.

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A personagem de Rita é a síntese dos estereótipos associados a mulher brasileira pelos colonizadores: “respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas”.

A jornada pela conquista de Rita Baiana, que inicialmente é parceira de outro homem, é marcada pela transformação de Jerônimo. De homem trabalhador, disciplinado e dedicado se reduz a uma fera insaciável pelo corpo de Rita Baiana, negligenciando no caminho a própria esposa e filha.

No Marca Texto, o podcast do Guia do Estudante que analisa os livros do vestibular, há um episódio dedicado a “O Cortiço” que reflete sobre os principais aspectos da obra.

Iracema e Martim – “Iracema”

Foto com homem branco europeu de vestes coloniais, ao lado de mulher indígena usando vestimentas típicas. Ao fundo, há um cortina de palha
Atores da peça “Iracema dos lábios de mel: o musical” interpretam o casal Martim e Iracema, no Theatro José de Alencar. (Jarbas Oliveira/Divulgação)
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Talvez um dos casais mais idealizados da literatura brasileira, Iracema e Martim incorporam não somente os ideais da primeira geração do Romantismo no Brasil, como também o próprio senso da época sobre a fundação da nação brasileira. Na obra de José de Alencar, escrita em 1865, o leitor acompanha o romance histórico entre um homem branco colonizador e uma mulher indígena, união que representaria o florecer do caráter miscigenado da identidade nacional.

Os dois personagens são abordados no livro não como indivíduos únicos com pensamentos e experiências próprias, mas sim como embaixadores de suas culturas e povos. Martim é a própria Europa, a cultura civilizada, polida e moderna dos brancos; enquanto Iracema é a “selvageria”, a inocência e a liberdade dos povos originários.

Ao avistar Martim pela primeira vez, Iracema atira nele um flecha certeira para se defender, mas logo percebe que o homem não tem intenções de machucá-la. O movimento remete à própria flecha do cupido e já demonstra os talentos e o lado bruto de Iracema. Durante toda a obra, a “virgem dos lábios de mel” é descrita usando analogias que remetem à fauna e à flora brasileira e também a um certo misticismo acerca da cultura indígena.

Ela tem “cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira”, é “mais rápida que a ema selvagem”, seu sorriso é “mais doce que o favo da jati” e “nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado”.

Para muitos, o casal pode lembrar a história de Pocahontas, a jovem indígena que se apaixona por um explorador inglês nas colônias norte-americanas. A diferença entre as duas, porém, é que a mulher Iracema nunca existiu. Ela é fruto da interpretação de José de Alencar da cultura indígena (incluindo estereótipos e clichês) e da própria visão que se queria cultivar dos povos originários durante o Romantismo – de ser um povo valente, porém inocente e puro.

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O fato de o nome Iracema ser um anagrama para América mostra a intenção do autor. Já Martim realmente existiu. Foi um colono português que esteve presente na primeira expedição ao Ceará, em 1603.

Fabiano e Sinhá Vitória – “Vidas Secas”

Cena do filme
(Herbert Richers/Divulgação)

Nem mesmo a aridez e as dificuldades descritas em Vidas Secas foram capazes de separar o casal Fabiano e Sinhá Vitória, a mãe e o pai de uma família de retirantes no nordeste brasileiro. O livro clássico de Graciliano Ramos, publicado em 1938, é apontado como uma das principais obras da vertente regionalista da segunda fase do Modernismo.

Na história, o leitor acompanha a saga da família de sertanejos tentando sobreviver em meio aos períodos de seca da caatinga. Fabiano trabalha como vaqueiro em uma fazenda; é um homem rude, de poucas palavras e, com frequência, enxerga a si mesmo como um animal. A esposa Sinha Vitória trabalha ao seu lado, mas também cuida da casa e dos filhos. É ela quem faz as contas das finanças da casa e alerta o marido em situações de trapaça. Juntos, o casal cria dois filhos e uma cadela.

Uma das razões que fez de “Vidas Secas” um clássico é a fidelidade com a qual o autor conseguiu retratar as dificuldades da vida retirante. Descrições curtas, com poucos adjetivos parecem imitar a própria aridez da caatinga. Essa fidelidade também se aplica ao casal protagonista; Fabiano e Sinhá Vitória incorporam toda uma camada da população da brasileira que vive na miséria, lutando contra a fome e sem condições básicas.

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Ele, um homem sem instruções, que sofre nas mãos de chefes que abusam de seu trabalho e que gostaria de saber se comunicar melhor. Ela, uma mulher de fé, que sonha em dormir em uma cama de fita de couro e oferecer uma vida melhor aos filhos. Mesmo que durante as páginas do livro não se encontre grandes demonstrações de afeto, é nítido a fortaleza do relacionamento.

É juntos que toleram as adversidades da vida sofrida.

Bentinho e Capitu – “Dom Casmurro”

Cena da minissérie Capitu, de 2008, com atores interpretando Bentinho e Capitu. Bentinho está beijando a mão de Capitu, que está de lado para ele.
Os personagens Bentinho e Capitu em adaptação para a televisão, de 2008. (Globoplay/Divulgação)

Traiu ou não traiu? O casal mais célebre da literatura brasileira é, sem dúvidas, Bentinho e Capitu, da obra-prima de Machado de Assis, Dom Casmurro. Neste romance realista de 1899, o autor narra a história de Bento Santiago, da juventude até o fim de sua jornada, como se a “atar as duas pontas da vida”. No meio tempo, é contado como (e por que) o jovem recebeu a alcunha de “Dom Casmurro”.

Entre altos, baixos, amores e frustrações, as figuras que passaram pela vida de Dom Casmurro são apresentadas ao longo dos capítulos. Mas um nome marcou não apenas o coração do jovem, mas a própria liga de personagens femininas mais fascinantes da literatura brasileira: Capitu. A jovem de “olhos de cigana oblíqua e dissimulada“, é descrita como um ser enigmático, magnético, dona de um “fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro”, tal qual o mar em um dia de ressaca.

Bentinho e Capitu se conhecem ainda na adolescência e o relacionamento, mesmo com o nariz torcido de alguns, tem tudo para dar certo a não ser por um detalhe: o rapaz foi prometido pela mãe para se tornar padre. E é antes de ser enviado ao seminário que os dois selam o primeiro beijo.

Depois de a mãe do jovem ter dado um “jeitinho” para Bento escapar da promessa, o casamento com Capitu por fim acontece. Mas não demora muito para os problemas começarem a aparecer. O romance entre Bentinho e Capitu, que pode ser visto como o ponto alto da vida de Dom Casmurro, é contaminado por atos de ciúmes e suspeitas de adultério.

Tudo é piorado com a dificuldade dos dois em ter filhos. Quando finalmente conseguem, a criança, aos olhos de Bento, é a cara de seu melhor amigo.

O caloroso debate que sempre figura nas discussões sobre “Dom Casmurro” envolve a suposta traição de Capitu. No meio dessa discussão que divide leitores tal qual gregos e troianos, todos costumam concordar: a complexidade do casal Bentinho e Capitu é o grande destaque da obra.

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