O que estudantes podem tirar de ‘Adolescência’, série que está colocando o mundo para pensar
Cansou de ouvir campanhas falando as mesmas coisas sobre bullying? Essa série apresenta o assunto de um jeito diferente

Não é à toa que o mais novo sucesso da Netflix, a série inglesa Adolescência, está gerando debates em todas as esferas imagináveis. Pais e mães discorrem nas redes sociais sobre o medo desencadeado pelo drama, o parlamento britânico passou a debater crimes motivados por misoginia e agora cogita exibir os quatro episódios em escolas do país.
Para quem é estudante e se prepara para os vestibulares, aí vai uma boa analogia: se fosse uma conclusão na redação do Enem, Adolescência chegaria perto da nota máxima ao apontar os principais responsáveis pela violência que atinge crianças e adolescentes. Mas não gabaritaria, já que deixa para nós, espectadores, a função de encontrar uma saída (ou proposta de intervenção) para a crise.
Em poucos episódios, que se desenrolam a partir do momento em que a polícia invade a casa de Jamie e leva o menino de 13 anos preso sob suspeita de matar uma colega de escola, os adultos (de dentro e fora da série) se veem em busca das motivações do crime. O que levaria um menino dessa idade a assassinar uma garota? Por que ele postava fotos de mulheres mais velhas e que não conhecia em suas redes sociais? O que faz um garoto inteligente, sem problemas familiares, cometer um crime brutal como este?
Se para os adolescentes as razões podem parecer um tanto óbvias conforme os episódios avançam, vale um olhar mais atento. A série, lembrando, tem classificação indicativa para maiores de 12 anos.
Na palma da mão
O caldeirão que desemboca no bullying (crime no Brasil desde 2024) ou em outras violências envolve muito mais atores do que imaginamos. Alguns são invisíveis, como os algoritmos das redes sociais. Quem nunca assistiu um vídeo com animais engraçadinhos, crianças espertas ou cabelos malucos e depois passou semanas a fio com o feed dominado por posts destes mesmos assuntos? Troque os temas por vídeos de brigas, insultos a mulheres e padrões de beleza inalcançáveis e perceberá o tamanho do problema.
“A gente sabe como os algoritmos atuam para criar realidades parciais com a aparência de serem um todo. Isso afeta a nós, adultos, que já estamos formados, imagina um adolescente ou criança que ainda está em fase de formação”, analisa a psicopedagoga Andrea Nasciutti, membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral da UNICAMP/UNESP (GEPEM).
Especializada na prevenção e combate ao bullying, Nasciutti explica que conforme somos expostos a conteúdos inadequados, por negligência das plataformas, o cérebro se adapta e passa a tomar a violência como algo normal e natural. O que a série retrata, e o que vivemos na realidade, é também consequência disso. “Se eu passar o dia todo vendo cenas de uma pessoa fazendo uma violência enorme contra outra, vou achar aquilo viável em algum momento. E tenho uma tendência maior, inclusive, de fazer igual”.
+ 7 funções das redes sociais criadas para te viciar
Um crime, muitos culpados
Pareceu, por si só, perigoso? Acrescente a isso mais alguns elementos: a ascensão de discursos extremistas na sociedade; a falta de diálogo e acompanhamento dos pais, que muitas vezes vivem sob o mesmo teto sem escutar seus filhos; e a crise na educação, com escolas e professores fechando os olhos e até reforçando violências. “A linguagem dos educadores com os estudantes [na série] era o tempo todo agressiva, violenta, ninguém tinha uma visão individual do ser humano. Era aquele bando de alunos que ia passando enquanto eles gritavam pelos corredores”.
Para quem ainda não viu a série, um spoiler contido: repare nas cenas envolvendo os personagens Adam (filho do detetive) e Jade (melhor amiga da garota assassinada). Elas dirão muito sobre a relação de ambos com o ambiente escolar. “Isso é uma das causas que tornam o clima propício para que o bullying e outras formas de desrespeito aconteçam”, afirma a psicopedagoga.
Se, em meio a tantas falhas e responsáveis, fica difícil entender como agir, a especialista aponta um bom jeito de começar essa proposta de intervenção. “O que mais precisamos fazer para levar essas e outras reflexões para os adolescentes é aprender a ouvi-los. A gente precisa aprender a escutar o que eles têm a dizer, muito mais do que falar, dar sermão, injetar experiências nossas. Precisamos ouvi-los para, por meio disso, buscar qualquer tipo de conexão. Eu acho que isso é fundamental”.
+ O que os adolescentes acharam da série ‘Adolescência’ da Netflix
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