O que há em comum entre retirantes que fogem da seca, refugiados que atravessam mares em botes e os milhares de mortos pela pandemia de covid-19? Para Odyr Bernardi, é a vida severina. O quadrinista e ilustrador assumiu a missão de adaptar para quadrinhos o clássico poema da literatura brasileira “Morte e Vida Severina“, do pernambucano João Cabral de Melo Neto, publicado pela primeira vez em 1956. Ao longo de 175 páginas, mostrou que, lamentavelmente, a obra segue mais atual que nunca.
Logo na primeira parte, rimou o célebre verso “e se somos Severinos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina” com a imagem de refugiados caindo de um bote e afogando-se em alto mar.
Mais adiante, outra tragédia contemporânea. A conversa entre dois coveiros, escrita por João Cabral de Melo Neto, ganha novos contornos quando combinada com ilustrações que envolvem uso de máscara de proteção, paramento médico e a imagem de dezenas de covas abertas – uma referência à tragédia da covid-19. “Não tem onde trabalhar e muito menos onde morar. E da maneira em que está não vão ter onde se enterrar.”
É fato que “Morte e Vida Severina” sempre foi uma obra atemporal e universal – não é à toa que Cabral de Melo Neto recebeu importantes prêmios internacionais como o Camões e o Neustadt de Literatura, considerado o Nobel americano. Também é de se intuir que quando falava de seus “Severinos” o autor não tratava apenas dos retirantes fugidos da fome e da seca, mas de todos que enfrentam a miséria e buscam esperança para prosseguir.
Mas para os que não entenderam o recado, Odyr Bernardi desenha.
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Qual a história de Morte e Vida Severina
Em “Morte e Vida Severina”, seu poema mais famoso, João Cabral de Melo Neto conta a saga do retirante Severino – um entre tantos outros de mesmo nome e mesma sina –, que deixa o agreste rumo a Recife, capital de Pernambuco.
Ao longo do caminho, o retirando percebe aos poucos como sua vida e seu entorno estão marcados pela morte – seja “a morte de que se morre de velhice antes dos 30, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia”.
A cada nova região que chega – primeiro a Zona da Mata, depois Recife – por um instante tem a esperança renovada, até perceber que, de um lugar para o outro, a miséria só muda de cara.
Por fim, Severino cogita o suicídio e pensa em se afogar no rio Capibaribe, mas é dissuadido por um carpinteiro de nome José, que acaba de ter um filho. Aos poucos, visitantes chegam com presentes singelos para o menino, cuja vida renova as esperanças de todos e convence o retirante a viver. Graças a essas referências do nascimento de Cristo, “Morte e Vida Severina” é tido como um auto natalino.
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Morte e Vida Severina
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