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Luca: filme da Pixar dá aula de inclusão

Veja como o filme pode ser alento para a comunidade LGBTQIA+

Por Giulia Gianolla
29 jun 2021, 17h16
Poster de divulgação de Luca, com o garoto e seus dois amigos Giulia e Alberto ao fundo.
 (Disney+/Divulgação)
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No mês do Orgulho LGBTQIA+, assistir “Luca” foi uma experiência diferente. Disponível desde o dia 18 de junho, o lançamento da Disney-Pixar no Disney+ é uma história sobre a amizade e descoberta do mundo, mas também parece uma alegoria muito adequada para o processo de autoconhecimento de quem se descobre LGBTQIA+. 

Luca é um garoto monstro-marinho. Ele tem a pele cheia de escamas verdes, uma cauda e trabalha com os pais como “pastor” de peixes no fundo do mar. Sua família o proíbe de ir à superfície, com o intuito de protegê-lo dos perigos do mundo exterior. Os homens do vilarejo não aceitariam quem ele é e iriam machucá-lo.

Ao longo do filme, ele conhece Alberto, um monstro-marinho um pouco mais velho que vive há anos sozinho na superfície, disfarçado de humano. Juntos, eles sonham em conhecer o mundo, descobrem como é o modo de vida dos humanos e, para viver entre eles, tentam esconder quem realmente são. 

A história gira em torno do descobrimento de Luca sobre essa nova vida longe da proteção de seus pais, assim como da aceitação (ou não) dos moradores da vila com o que é diferente deles. Apesar de não ser explicitamente sobre temas queer, o filme fala muito sobre inclusão e a data de lançamento durante o mês do orgulho LGBTQIA+ torna a associação mais concebível.

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Reação e preconceito

Por ser um filme infantil, Luca é uma ótima resposta para a pergunta “como vou explicar isso para os meus filhos?”. Sem dar muitos spoilers, o filme aborda com leveza como as diferenças são superadas com a convivência. 

O pai de Giulia, menina humana que vira amiga dos dois garotos-monstros, é um exemplo. Ele cresceu como pescador e caçador de monstros marinhos. Sua casa tem arpões por todo lado e ele, de estatura enorme e tatuagens, parece um homem bruto e raivoso.

Sem saber que Alberto é uma das criaturas que caça, ele se aproxima e acaba criando um afeto especial, paternal, com o garoto. Ao descobrir sua real identidade, – mais uma vez, vou tentar evitar spoilers – é interessante ver a reação de Massimo e fazer uma comparação com o processo de “sair do armário” que muitos queers têm com suas famílias.  

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Proteção da família

Algumas falas da família do menino-monstro Luca também parecem muito a relação complexa que alguns pais têm com a identidade e orientação sexual dos filhos.

O instinto de proteção e medo da reação do mundo exterior me lembra muito um discurso sobre a Dona Hermínia, interpretada pelo eterno Paulo Gustavo, em “Minha mãe é uma peça 3”. Juliano, seu filho, está se casando com outro homem e comenta a reação de sua mãe ao saber que ele era gay: “Meu medo é lá fora porque o mundo é mau. Mas aqui dentro de casa, eu tô fechada com você.”

Há uma linha tênue entre a proteção e o controle, tanto em Luca quanto fora do filme,. E o filme explora bem isso, mostrando até onde um pai pode proteger seu filho do que é externo e até perigoso, e o quanto essa tentativa é saudável ou não.

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A importância de um filme infantil como Luca

 Como Machado de Assis disse em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “o menino é pai do homem”. Isso significa que tudo que vemos na infância de alguma forma se reflete em todo resto de nossas vidas. A primeira impressão que temos sobre um tema, as primeiras sensações ao entender isso ou aquilo – tudo pode desencadear certezas da vida adulta. A delicadeza com que Luca aborda o tema do preconceito e da inclusão é emocionante. Principalmente por saber que esse pode ser um primeiro contato com o tema da diversidade para muitas crianças.

Apesar de não apresentar explicitamente nenhuma relação com a luta das ditas “minorias”, o filme é uma aula sobre aceitação. É emocionante, leve e com até algumas mensagens escondidas, como é a imagem de duas senhoras da vila, que revelam serem monstros disfarçados depois de muito tempo – cena que quase não ganha destaque no filme, sendo apenas uma composição do fundo.

Fica aqui a minha recomendação para encerrar o mês do Orgulho. Aproveite o fim de semana, pegue uma pipoquinha e mergulhe nas águas italianas com Luca. 🙂

*Esse texto tem caráter de opinião, portanto tem parcialidade. Para ver o posicionamento oficial dos criadores do filme, em inglês, clique aqui.

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