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‘Barra brava’: a corrupção no futebol e a desigualdade na América Latina 

Série argentina da Netflix ajuda a entender a penetração do crime organizado nas áreas periféricas 

Por Danilo Thomaz
24 jul 2021, 08h00

Após o atentado a um torcedor “barra brava” – como são conhecidos na Argentina e na América Latina o que aqui seria uma torcida organizada – o presidente de um clube de futebol decadente contrata uma advogada para comandar a segurança do clube. A responsável, Diana (Dolores Fronzi), uma mulher rigorosa e determinada, assume a função com desejo de combater a violência dentro do clube. Mas se depara com uma realidade podre. 

Este é o enredo de “Puerta 7” (Barra Bravas, na versão em português) série argentina criada por Martín Zimermann disponível na Netflix que, a partir dos bastidores do time Ferroviários, discorre sobre a corrupção no futebol, o crime organizado, milícias, violência e desigualdade. 

A série, em oito episódios, é daquelas que você só para de ver se tiver algo para inadiável para fazer. Não espere nela respostas fáceis para problemas complexos, julgamentos morais e uma linha clara separando personagens bons e maus. Não. “Puerta 7” é tão controversa quanto a vida. 

Diana, a protagonista da série, é, como dissemos, uma mulher de princípios, mas capaz de aliar-se a um policial aposentado e cometer abusos em nome do que pretende. Lomito (Carlos Belloso), o chefe da milícia local, é um homem corrupto e inescrupuloso, mas também inteligente. Guillermo (Antonio Grimau), o presidente do clube, é um homem que deseja mudar o ambiente em que estão inseridos – mas é fraco e suscetível às circunstâncias.  

Os dois personagens mais complexos da série e que revelam o caráter destruidor da pobreza, da desigualdade e do abandono das populações periféricas na Argentina – que, ali, acaba sendo um microcosmo de toda a América Latina – são Fabian (Esteban Lamothe) e Mário (Ignacio Quesada). O primeiro é o braço-direito de Lomito. Órfão de pai e mãe, viu na milícia não apenas um meio de ascensão social, mas também de estar inserido em uma comunidade e, não é exagero dizer, até numa família. Violento e, se preciso, assassino, é, ao mesmo tempo, culto e preocupado com as crianças. Acredita que a ação do grupo de Lomito no bairro é uma forma de justiça social, ante o completo abandono. Acredita ser uma versão latina de “Robin Hood” – livro que leu, como uma série de outros. 

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O outro personagem é Mário, um garoto abandonado pela mãe, filho de um pai depressivo que vive de comprar e vender sucata e sobrevive à base de exploração e maus tratos numa pizzaria. Ao salvar a vida de Lomito, é levado para dentro do grupo, apesar da oposição do pai. Ali, torna-se amigo de Fabián e experimenta uma espécie arriscada de ascensão social, num contexto, como foi dito, sem perspectivas – e com consequências terríveis. 

Ante o recrudescimento do crime organizado em diversas regiões do Brasil – em especial no Rio de Janeiro – a série é uma boa oportunidade para entender em que espaço e conjuntura o mesmo se insere e se desenvolve – e quem são as pessoas que o movem. 

“Puerta 7” foi realizada em 2019 e tem uma segunda temporada prevista, ainda sem data confirmada.  Abaixo, assista um trailer em espanhol da primeira temporada

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Repertório Cultural
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