Em 1917, Anita Malfatti voltava dos Estados Unidos trazendo para São Paulo uma polêmica exposição com as mais recentes tendências das artes vanguardistas. Em “Exposição de Pintura Moderna”, a artista reuniu 53 obras suas e de colegas que apresentavam as características principais daquela arte tão diferente que era chamada simplesmente de “arte moderna”.
Alguns amaram, outros odiaram. Entre os duros críticos da exposição e do movimento estava Monteiro Lobato, que chamou o trabalho de Malfatti de “arte degenerada”. Muitos dos que elogiaram tornaram-se, mais tarde, grandes nomes do modernismo brasileiro. Esse momento, em 1917, é considerado o estopim do movimento modernista no Brasil, que teve seu auge cinco anos depois na chamada ‘Semana de Arte Moderna’ de 1922.
Entre os 13 e 17 de fevereiro de 1922, artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Plínio Salgado, Di Cavalcanti e a própria Anita Malfatti ocuparam o Theatro Municipal, em São Paulo, para celebrar a inauguração de uma nova arte brasileira. Uma arte que se alimentava das tendências produzidas em países estrangeiros para criar manifestações tipicamente nacionais – conceito que recebeu o nome de antropofagia.
Em 2022, o evento completa cem anos, e entender o que ele representou para a arte e cultura brasileira é uma prioridade para quem presta vestibular neste ano. Por isso, GUIA separou 10 livros para entender tanto a Semana de 22 quanto o próprio movimento modernista no Brasil.
1. “Modernismos 1922-2022”, organizado por Gênese Andrade
O livro aborda o centenário da Semana de 22 levando em consideração aspectos que reverberam desde o ano do evento, como o diálogo com o pensamento feminista, a representação do negro na produção artística do período, a força do design gráfico nos livros e revistas de vanguarda, as relações dos modernistas com a política e a apropriação da temática indígena. Os textos reunidos neste livro trazem para o debate as manifestações e as obras artísticas modernistas, reconhecendo suas virtudes e controvérsias a partir do contexto político, social e cultural da época.
2. “1922 – A semana que não terminou”, de Marcos Augusto Gonçalves
Ao mesmo tempo em que reconstitui passo a passo o evento, a obra explora alguns mitos e polêmicas que cercam a Semana de 22. O autor aborda desde a fantasia associada a uma superioridade paulista na formação da cultura moderna brasileira, até as versões que, ao contrário, insistem em diminuir a importância histórica dos festivais organizados pelos modernistas. O livro incorpora críticas que têm sido feitas, desde a década de 1980, a algumas ideias que foram consagradas como verdades pela historiografia e pelo senso comum – como a alegação de que, antes da Semana, a arte e a literatura brasileira seriam apenas acadêmicas ou tradicionalistas.
3. “Modernidade em preto e branco: Arte e imagem, raça e identidade no Brasil, 1890-1945”, de Rafael Cardoso
Neste livro, o autor Rafael Cardoso procura mostrar que antes de culminar na Semana de 22 o modernismo perpassou diversas classes sociais e áreas geográficas ao longo de décadas, não se limitando somente à elite branca paulista. A obra apresenta uma extensa pesquisa que guia o leitor por vários âmbitos da sociedade brasileira entre 1890 e 1945, repensando questões de raça e contrariando as narrativa mais correntes sobre o nascimento do modernismo brasileiro.
4. “Diário Confessional”, de Oswald de Andrade (organização Manuel da Costa Pinto)
Oswald de Andrade foi um dos grandes nomes do modernismo, sendo, inclusive, o autor do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” e do “Manifesto Atropofágico”. Nesta obra, o leitor tem acesso ao seu diário pessoal, que permaneceu inédito por setenta anos. Os cadernos deixados pelo autor de Serafim Ponte Grande tiveram início em 1948 e fim em 1954, meses antes de sua morte. Nos registros, é possível conhecer uma figura bem diferente do personagem irreverente que se consagrou no imaginário popular. Aqui, Oswald mostra sua mente extraordinária, inquieta e profundamente atormentada por incertezas. É uma maneira de conhecer não só o autor, mas também a cena artística, literária e política de São Paulo nas primeiras décadas do século XX.
5. “Anita Malfatti no Tempo e no Espaço. Biografia e Estudo da Obra”, de Marta Rossetti Batista
Este livro apresenta a vida e a obra de Anita Malfatti, pioneira do modernismo brasileiro. A obra apresenta a trajetória da pintora, mapeia todas as etapas de sua vida (inclusive fases desconhecidas de sua pintura e de seu percurso pessoal) e reúne verbetes das mais de 1300 obras produzidas em seus mais de cinquenta anos de trabalho. O mais interessante é que as informações foram obtidas pela autora Marta Rossetti Batista em visitas ao próprio ateliê de Anita, durante a década de 1960, e por meio da consulta a documentos dispersos em arquivos, bibliotecas e coleções, públicas e particulares. Conhecer Anita Malfatti é conhecer o modernismo brasileiro.
6. “Semana de 22: Antes do começo, depois do fim”, de José de Nicola e Lucas de Nicola
O livro, que reúne uma vasta documentação, é uma ótima pedida para aqueles que estão entrando em contato pela primeira vez com a Semana de 22. A proposta da obra é aprofundar a discussão sobre o relacionamento entre o movimento modernista e a crítica conservadora, levando-a ao grande público. Os dois autores percorrem de maneira ampla os acontecimentos e bastidores da Semana de 22 e propõem análises inéditas sob vários aspectos.
7. “O guarda-roupa modernista: O casal Tarsila e Oswald e a moda”, de Carolina Casarin
À primeira vista, o livro pode até aparecer apenas uma análise fashionista sobre o casal de artistas Tarsila da Amaral e Oswald de Andrade, mas vai muito além disso. A pesquisa inédita da professora e pesquisadora Carolina Casarin revela como os ideais modernistas e as contradições do movimento podem ser compreendidos a partir do guarda-roupa de dois notáveis intérpretes do Brasil. Por meio de diferentes registros da época ― vestimentas, fotografias, pinturas, obras literárias, correspondências, depoimentos e recibos ―, a autora apresenta ao leitor um casal vibrante que soube traduzir em sua aparência a irreverência e as ambiguidades do Brasil do início do século XX.
8. “Tarsila: sua obra e seu tempo”, de Aracy A. Amaral
Aracy Amaral, professora de História da Arte na USP, é uma das maiores pesquisadoras do modernismo no país. Neste livro, ela refaz o percurso biográfico da de Tarsila do Amaral, destacando a década de 1920 e os movimentos Pau-brasil e Antropofagia. Realizada a partir de depoimentos originais e consulta a centenas de fontes no Brasil e no exterior, a obra ainda traz mais de 300 ilustrações, muitas delas inéditas.
9. “Semana de 22: Entre vaias e aplausos”, de Marcia Camargos
Loucura ou revolução estética? Um século depois da polêmica manifestação de jovens artistas no Teatro Municipal, a questão permanece. Por que um evento que resultou em um prejuízo considerável a seus organizadores, foi difamado por boa parte da imprensa da época e recebeu mais vaias que aplausos continua despertando tanto interesse? Para responder a essa questão, a autora Marcia Camargos mergulha no universo intelectual da época, analisa um grande número de documentos e consulta uma vasta bibliografia sobre a Semana de 22.
10. “22 por 22 – A Semana de Arte Moderna Vista Pelos Seus Contemporâneos”, de Maria Eugenia Boaventura
Este livro de Maria Eugenia Boaventura traz a visão daqueles que assistiram ao vivo e em cores o nascimento da Semana de 22. A obra reúne textos publicados originalmente em jornais de São Paulo e Rio de Janeiro ao longo daquele ano-chave e recupera os debates que envolveram escritores, artistas, críticos e jornalistas – com destaque para nomes como os de Oswald e Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet, Plínio Salgado ou Lima Barreto.
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