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Desigualdade Social: O mundo cada vez mais desigual

Desigualdade Social: O mundo cada vez mais desigual

MAL NA FOTO Garotas posam para fotografia ao lado de morador de rua em Nova York (EUA):desigualdade cresce em todo o mundo

 

O mundo cada vez  mais desigual

A disparidade entre ricos e pobres atinge patamar histórico e coloca em debate o papel de empresas trabalhadores e Estado no capitalismo.

por Thereza Venturoli

 

A desigualdade econômica no mundo bateu um recorde em 2015, com a maior concentração de riquezas já registrada na história: 1% da população mundial detém 50% de toda a riqueza do planeta. Essa divisão desigual foi divulgada num relatório da organização não governamental Oxfam,com base em dados do banco de investimento suíço Credit Suisse. A análise da Oxfam segue com outros números, que detalham a desproporção entre ricos e pobres:

• As 62 pessoas mais ricas do mundo concentram a mesma riqueza que cabe à metade mais pobre da humanidade – cerca de 3,6 bilhões de pessoas;

• Entre 2010 e 2015, esses 62 bilionários ficaram mais ricos em cerca de 540 bilhões de dólares; no outro extremo, a metade mais pobre perdeu 1 trilhão de dólares;

• Desde o início do século, esses mesmos 50% mais pobres beneficiaram- se de apenas 1% do crescimento total da riqueza global. A Oxfam conclui seu relatório constatando que essa disparidade é resultado de um sistema vantajoso para poucos eleitos em detrimento da maioria, que desencadeia um círculo vicioso: quem tem menos recursos vive em condições mais precárias de saúde, habitação e educação. Isso, por sua vez, resulta em menores oportunidades de conseguir trabalho com remuneração adequada – o que nos leva de volta ao início da cadeia e ao crescente agravamento das desigualdades econômicas e sociais.


ÍNDICE DE GINI: A RÉGUA DA DESIGUALDADE

O principal indicador usado para medir a concentração de renda na população de um país ou uma região é o índice (ou coeficiente) de Gini. É uma régua que mostra o desvio na distribuição da riqueza, numa escala de 0 a 1. Quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade.

O índice pode ser calculado sobre diferentes parâmetros – renda familiar, renda per capita ou renda vinda apenas do trabalho. Segundo os dados do Banco Mundial, de 2013, os cinco países com os mais baixos índices de desigualdade são Suécia (0,250), Ucrânia (0,256), Noruega (0,258), Eslováquia (0,260) e Belarus (0,265). O Brasil figura na lista do Banco Mundial (que realiza um cálculo diferente do IBGE) com o índice
de Gini de 0,547. Trata-se de um dos mais elevados níveis de desigualdade do mundo – na comparação com os vizinhos sul-americanos, o indicador é maior que o da Argentina (0,445) e do Uruguai (0453).


Economia financeira

Especialistas apontam como causa das grandes disparidades o atual estágio do capitalismo que privilegia a economia financeira em relação à economia real.

A riqueza criada da produção e comercialização de bens e serviços compõe a economia real – aquela do dia a dia, na qual pessoas, empresas e governos contratam, trabalham, compram e pagam. Já a riqueza gerada pelo próprio capital constitui a economia financeira.

O mundo das finanças é aquele das ações das bolsas de valores e de títulos de bancos de investimento. Ações e papéis funcionam como uma espécie de aposta ou empréstimo a risco. De um lado, a empresa que recebe o dinheiro deve usá-lo como um financiamento para desenvolver suas atividades. Na outra ponta, o investidor acredita que a empresa em que investiu crescerá e que o capital retornará, acrescido de juros ou dividendos. Entre quem investe e quem recebe o investimento, bancos e bolsas ficam com parte dos lucros (ou das perdas).

Essa economia imaterial é importante para financiar o crescimento de empresas ou ações do Estado, como programas governamentais de habitação. Mas existe uma face perversa na economia financeira: ações e títulos são, muitas vezes, comprados e vendidos em transações de especulação: o suposto investidor não está interessado no sucesso da atividade econômica em que investiu, mas, sim, na possibilidade de que os papéis subam de valor no mercado, para lucrar com sua venda. Esse tipo de especulação não é investimento e, portanto, não gera trabalho.

O poder do capital

Entre os anos 1980 e 1990, a economia financeira ganhou impulso com o advento da globalização, que alavancou o processo de integração  econômica dos países no comércio, na prestação de serviços e no mercado financeiro, impulsionada pelo avanço da tecnologia da informação, particularmente pela internet. As políticas econômicas neoliberais dão sustentação à globalização, ao possibilitar a abertura econômica para o livre trânsito de produtos e capitais, afrouxando as regras para os mercados de trabalho e financeiro e para as operações de empresas em territórios estrangeiros.

Essas mudanças permitem que o capital se movimente rapidamente pelo mercado financeiro internacional. Papéis emitidos em Taiwan são comprados no Chile e geram novos títulos, que serão negociados na Irlanda. Grandes empresas e milionários mantêm fortunas em bancos no exterior, nos chamados paraísos fiscais, onde a tributação é mínima ou nula, e, assim, subtraem do Estado recursos que entrariam na forma de impostos e taxas, que seriam destinados a programas sociais. Enfim, os jogos do capital na economia financeira se tornam muito mais atrativos do que nas atividades produtivas da economia real. Mas são essas atividades produtivas, da economia real, que envolvem trabalho, que podem reduzir as desigualdades.

E quem detém o poder econômico detém também o poder político. Isso é bem visível na questão do financiamento de campanhas eleitorais por grandes grupos empresariais, tema quente no debate político brasileiro em 2016. Ao auxiliar um candidato, ou um partido, na concorrência por um cargo no Legislativo, ou a Presidência da República, a empresa espera que, tendo chegado lá, o novo deputado, senador ou presidente defenda seus interesses. O poder econômico também interfere na elaboração de leis, por meio dos chamados lobbies. Prática comum e legal em países como os Estados Unidos (EUA), o lobby é a pressão que setores organizados do meio empresarial e financeiro exercem para tentar convencer parlamentares a aprovar leis ou projetos em seu benefício.

 

Desigualdade Social: O mundo cada vez mais desigual

PANORAMA DA DESIGUALDADE Favela de Paraisópolis, em São Paulo, ao lado de prédio de luxo

 


Após a eclosão da crise  econômica em 2008,  o número de bilionários  praticamente dobrou em todo o mundo


 

Desigualdade Social: O mundo cada vez mais desigual

A BASE E O TOPO Na base da pirâmide, 3,4 bilhões de pessoas (71% da população mundial de adultos) têm patrimônio equivalente a menos de 10 mil dólares. Essa faixa detém apenas 3% do total das riquezas mundiais. Já no topo, apenas 34 milhões de adultos acumulam mais de 1 milhão de dólares. O patrimônio dessa faixa soma 45% da riqueza total mundial.

 

Crise econômica mundial

A economia financeira é uma economia baseada em promessas e expectativas. Quando alguma coisa não dá certo, em vez de ganhos, os títulos resultam em perdas. E, numa era de economia globalizada, em que os mercados financeiros estão interligados, se um perde todos perdem. Foi o que aconteceu em 2008, no estouro da bolha imobiliária nos EUA, quando pessoas que haviam financiado a aquisição da casa própria não conseguiram quitar a dívida. Os imóveis foram devolvidos, a oferta subiu demais e, pela lei de oferta e procura, os preços despencaram. Além disso, os títulos atrelados ao crédito desses imóveis também se desvalorizaram. Isso desencadeou um efeito dominó que resultaria na pior crise econômica mundial desde a Grande Depressão iniciada em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York.

As instituições credoras dos inadimplentes ficaram sem recursos para cobrir os compromissos com seus investidores e para conceder novos créditos, a pessoas, empresas e governos. Grandes bancos de investimento norte-americanos faliram. Pela dinâmica do sistema financeiro internacionalizado, instituições de diversos países negociam títulos entre si. Assim, o desastre nos EUA contaminou bancos de todo o mundo e transformou-se de uma crise financeira em crise econômica, que se estendeu por todas as atividades da indústria, do comércio e de prestação de serviços ao redor do globo.

A crise afetou principalmente os países que já estavam altamente endividados, como Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e Espanha – e, nessas nações, a população mais pobre. Na tentativa de reequilibrar o orçamento, os governos desses países impuseram uma série de medidas de austeridade, reduzindo benefícios sociais, como seguro-desemprego e aposentadorias. Essas medidas, que beneficiaram a economia financeira, atingiram duramente a economia real, dos trabalhadores, e geraram instabilidade política. Além disso, instituições financeiras quebradas foram socorridas com polpudas somas de dinheiro público – ou seja, dinheiro daqueles que pagam  impostos. Essas assimetrias contribuíram para aumentar o fosso entre ricos e pobres: entre 2009 e 2014, mesmo com a crise econômica, o número de bilionários praticamente dobrou em todo o mundo.

Brasil

No Brasil, a desigualdade é elevada, mas já foi maior. Entre 2004 e 2014, o índice de Gini calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para os rendimentos de trabalho caiu de 0,545 para 0,490 – quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade . Em termos de rendimentos totais, a queda foi de 0,501 para 0,497. Ambas as quedas se devem à elevação na renda das camadas mais pobres da população. No entanto, a concentração de renda ainda é muito grande, inclusive entre os mais ricos.

Segundo a Receita Federal, 8,4% da população se apropria de 59,4% das riquezas nacionais. E os 0,1% mais ricos detêm 6% do total de riqueza e renda declaradas. Ou seja, 6% de todo o patrimônio e renda declarados no Brasil estão nas mãos de apenas 26,7 mil contribuintes. Essa camada no topo da pirâmide da desigualdade tem rendimento total médio da ordem de 5,8 bilhões de reais ao ano.

Propostas de soluções

Organizações como a Oxfam e a ONU defendem uma série de medidas para minimizar as desigualdades socioeconômicas. Dentre elas, ações como regulamentação das relações de trabalho, fortalecimento dos sindicatos nas negociações, garantia de um patamar mínimo de remuneração e implementação de programas de transferência de renda (como o Bolsa Família). Outras medidas visam a redistribuir mais igualitariamente a riqueza acumulada no topo da pirâmide. Por exemplo, a partilha de lucros e ganhos de capital das empresas com os trabalhadores e a criação de impostos que incidam sobre a renda e o patrimônio dos mais ricos.

 

Desigualdade Social: O mundo cada vez mais desigual
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Desigualdade Social: O mundo cada vez mais desigual
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Desigualdade social

DESIGUALDADE RECORDE A concentração de riquezas bateu um recorde em 2015. Metade de toda a riqueza do planeta (renda e patrimônio) está nas mãos de apenas 1% da população mundial. As 62 pessoas mais ricas do mundo concentram a mesma riqueza que cabe aos 3,6 bilhões mais pobres. Desde o início do século esses 50% mais pobres beneficiaram-se com apenas 1% do crescimento total das riquezas do planeta. Essa disparidade agrava as desigualdades sociais (acesso à saúde e educação, por exemplo) e de oportunidades à sociedade como um todo.

ECONOMIA REAL E FINANCEIRA Economia real é a que gera riqueza pelo trabalho, na produção e comercialização de bens e serviços. A economia financeira gera riqueza apenas do capital, por meio de transações de ações nas bolsas de valores e de títulos em bancos de investimento. No atual estágio do capitalismo, a economia financeira predomina sobre a real.

NEOLIBERALISMO E GLOBALIZAÇÃO Entre os anos 1980 e 1990, a economia financeira ganhou impulso com o advento da globalização, que alavancou o processo de integração econômica dos países no comércio, na prestação de serviços e no mercado financeiro, graças aos avanços tecnológicos. As políticas econômicas neoliberais dão sustentação à globalização ao possibilitar a abertura econômica para o livre trânsito de produtos e capitais, afrouxar as regras para os mercados de trabalho e financeiro e para as operações de empresas em territórios estrangeiros.

ÍNDICE DE GINI É um indicador do grau de concentração de renda de um país ou uma região. O índice segue uma escala de 0 a 1, e quanto mais próximo do zero, menor a desigualdade.

BRASIL Entre 2004 e 2014, o índice de Gini caiu de 0,545 para 0,490. A queda se deve à elevação na renda das camadas mais pobres da população. No entanto, a concentração ainda é muito grande: 59,4% das riquezas nacionais estão nas mãos de apenas 8,4% da população.

 

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MAL NA FOTO Garotas posam para fotografia ao lado de morador de rua em Nova York (EUA):desigualdade cresce em todo o mundo   O mundo cada vez  mais desigual A disparidade entre ricos e pobres atinge patamar histórico e coloca em debate o papel de empresas trabalhadores e Estado no capitalismo. por Thereza Venturoli   A desigualdade econômica no mundo […]

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