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De olho na História: Há 30 anos ocorria o acidente nuclear de Chernobyl

De olho na História: Há 30 anos ocorria o acidente nuclear de Chernobyl

Há 30 anos, um acidente na usina de Chernobyl, na Ucrânia, provocou o pior desastre nuclear da história e deixou milhares de vítimas

Na manhã de 28 de abril de 1986, um funcionário da usina nuclear de Forsmark, na Suécia, identificou um nível anormal de radiação em seus sapatos. Nesse momento, ele temeu pelo pior: será que algum dos reatores estaria vazando material radioativo? Para seu alívio, as inspeções constataram que não havia nenhum problema na usina de Forsmark. Na verdade, as autoridades descobriram que a radiação ali encontrada viajara 1.100 quilômetros até a Suécia. Ela foi trazida pelos ventos da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, que na época era uma república da União Soviética (URSS). Dois dias antes, em 26 de abril, um dos quatro reatores da central de Chernobyl havia explodido, lançando uma enorme quantidade de material radioativo no ar.

Sem saber exatamente as dimensões do acidente, as autoridades soviéticas tentaram acobertar o caso. Mas quando a nuvem radioativa chegou à Suécia e a outros países da Escandinávia e da Europa Central ficou difícil esconder que algo muito grave havia acontecido em Chernobyl. Foi o pior desastre nuclear da história, atingindo o nível 7 – a mais alta classificação na escala internacional de acidentes nucleares.

O acidente

A usina de Chernobyl foi inaugurada em 1977 para suprir a demanda de energia elétrica na Ucrânia. No fatídico dia, os operadores da central realizaram um teste para checar como o reator funcionaria com baixo nível de energia. Devido a uma falha no projeto e a erros operacionais, o nível de energia caiu demais, e o sistema de resfriamento parou de funcionar. Com o superaquecimento, o reator explodiu. A energia liberada arrebentou a laje superior do edifício e deixou o local em chamas. Uma nuvem de matéria altamente radioativa foi lançada na atmosfera e logo se espalhou.

Somente no dia seguinte, as autoridades da URSS decidiram comunicar acidente aos 50 mil habitantes da cidade de Pripyat, situada a apenas 3 quilômetros da central nuclear. Quando começaram a ser retirados da área, já haviam ficado expostos durante 36 horas a altas doses de radiação. Apenas quando os funcionários da usina de Forsmark, na Suécia, descobriram que a radiação vinha de Chernobyl é que o governo soviético admitiu o fato e intensificou a força-tarefa para lidar com a situação.

Outros 116 mil moradores que viviam num raio de 30 quilômetros da usina também tiveram de ser retirados da região. As operações de contenção do incêndio e confinamento do material radioativo envolveram cerca de 600 mil pessoas. A emissão de material radioativo foi contida apenas duas semanas depois. Entre maio e novembro foi construído um enorme abrigo de concreto e aço sobre o reator, que ficou conhecido como “sarcófago”. Ali dentro estão cerca de 200 toneladas de combustível nuclear que, ainda hoje, precisa ficar isolado, sob pena de provocar danos incalculáveis.

Mesmo depois do acidente, a usina de Chernobyl continuou funcionando, até ser completamente desativada em 2000. Nos últimos anos, foram identificadas rachaduras no “sarcófago” que protege a usina 4, por onde ainda vaza água radioativa. Para evitar que o material se espalhe, uma nova cobertura começou a ser construída em 2011, com previsão de que fique pronta em 2017.

As vítimas

Há uma grande controvérsia em relação ao número de vítimas. A explosão no reator matou dois funcionários. Em um período de três meses após o desastre, outras 29 pessoas que trabalharam na operação morreram devido à exposição direta à radiação – nas primeiras horas depois do acidente bombeiros e equipe de socorro trabalhavam sem trajes adequados para lidar com a situação.

O número de mortos em decorrência do acidente em Chernobyl, contudo, é infinitamente maior. Como os problemas de saúde causados pela radiação se manifestam a longo prazo, é difícil estabelecer o número exato de vítimas fatais. Um relatório divulgado pelas Nações Unidas em 2005 aponta para a morte de cerca de 4 mil pessoas. A organização ambientalista Greenpeace contesta esses dados e estima em cerca de 100 mil as vítimas fatais do desastre em Chernobyl. A diferença se deve à dificuldade em precisar quantos casos de óbitos por câncer – especialmente de tireoide e leucemia – podem ser creditados à exposição à radiação da usina de Chernobyl.

Além disso, o impacto da contaminação nuclear sobre a saúde mental da população foi muito alto. Registram-se casos de depressão, alcoolismo e suicídios em número elevado. Mas não é só a exposição direta à radiação que afetou a população. Como o solo também foi afetado pelo material tóxico, durante anos as pessoas foram contaminadas pela ingestão de carne, leite e verduras produzidos na região.

Riscos persistentes

A contaminação provocada pelo maior acidente nuclear da história ainda é sentida 30 anos depois. Estudos indicam que levará pelo menos 20 mil anos para que o entorno da usina de Chernobyl possa ser habitado novamente. A região de Pripyat, mais próxima da central nuclear, tornou-se uma espécie de cidade fantasma, com prédios e infraestrutura abandonados. Ainda assim, em 2011, o governo da Ucrânia decidiu abrir a região de Chernobyl e de Pripyat para turistas. As autoridades afirmam que a radiação absorvida pelos visitantes durante o passeio não representa riscos, mas exigem que os turistas assinem um termo de responsabilidade. O local se tornou um dos principais destinos turísticos da Ucrânia.

Com o desastre em Chernobyl, a energia nuclear passou a ser contestada no mundo todo, colocando em xeque os argumentos de que sua produção é segura. Muitos países na Europa, como Alemanha, Itália e Reino Unido, reduziram seus projetos de ampliação de usinas. Ainda assim, a energia nuclear é responsável pela geração de 11% da eletricidade mundial – a França é campeã nesse quesito, com 75% de sua eletricidade gerada de centrais nucleares.

PARA IR ALÉM O filme O Desastre de Chernobyl (de Thomas Johnson, 2006) é um documentário produzido pelo Discovery Channel que traz imagens da operação para conter o vazamento na usina e depoimentos de autoridades e funcionários que enfrentaram a tragédia.

 

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