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Literatura: Arcadismo

A inspiração da natureza

No Arcadismo (1768-1836), a produção poética privilegia a simplicidade e a vida no campo

O movimento árcade também pode ser chamado de “neoclassicista”, pois retoma elementos da tradição greco-latina. A busca de equilíbrio e de simplicidade formal (por oposição ao rebuscamento barroco) caracteriza os textos que, no período iluminista, valorizavam a razão e o aproveitamento dos prazeres terrenos.

Período iluminista – O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA:
Iluminismo é a corrente de pensamento dominante na Europa, no século XVIII (conhecido como século das luzes”), e defende o predomínio da razão e da ciência sobre a fé, representando a visão de mundo da burguesia. Os ideais iluministas foram reunidos na Enciclopédia, organizada pelos filósofos Diderot e D’Alembert.

No Brasil, essa mesma mentalidade, aliada a acontecimentos como a independência dos Estados Unidos, motiva jovens estudantes e poetas de Vila Rica (atual Ouro Preto, em Minas Gerais) a promover uma nova estética na produção poética, ao mesmo tempo que organizam a Inconfidência Mineira, a fim de libertar o Brasil do domínio português.

Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), poeta que adotou as convenções pastoris e bucólicas do Arcadismo, compôs um longo poema dedicado à amada Marília, no qual exalta a vida campestre e constrói uma argumentação que convida, de acordo com a ideia do carpe diem (viver o dia intensamente), a aproveitar os momentos breves e efêmeros da vida.

Literatura: Arcadismo

Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela.
Graças à minha Estrela![1]

Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os Pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste
nem canto letra, que não seja minha.
(…)

Lira XIII
Ornemos nossas testas com as fores.
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.[2]
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre[3]
Com os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
triste o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
(…)
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.[4]

https://www.dominiopublico.gov.br


PERSUASÃO: O uso de uma linguagem simples, sem construções sintáticas sofisticadas, chama atenção para os ideais de simplicidade defendidos pelo movimento. O processo persuasivo acontece sob a forma de um convite – e não necessariamente de um convencimento direto e explícito.



[1] SIMPLICIDADE:
Os versos revelam a condição superior do eu lírico (que expressa os sentimentos do autor), que não cuida de gado alheio, tem casa própria e possui bens. Esses versos são típicos do convencionalismo e do artificialismo árcades, em defesa de uma vida pastoril e de uma paisagem europeia (acentuada por elementos como “azeite” e “vinho”), distante da realidade da cidade de Vila Rica. Apesar da descrição de aspectos da vida burguesa, o ideal exaltado se refere a uma vida simples, ligada ao desprezo pelos bens materiais.

[2] VALORIZAÇÃO DA NATUREZA: Dirceu propõe a sua amada uma ida ingênua ao campo. O tema da fuga da cidade atualiza a expressão clássica fugere urbem. A natureza passa a ser vista como o lugar ideal e privilegiado para os idílios amorosos e para uma vida amena.

[3] PRAZERES TERRENOS: A simplicidade e a pureza do comportamento inocente dos pastores são reforçadas pela amenização do discurso erótico, disfarçado em imagens bucólicas e descrições de travessuras infantis. No entanto, por detrás da suposta pureza e contemplação, há o desejo de concretização dos prazeres do corpo.

[4] INSTANTES PASSAGEIROS e PERSUASÃO: A experimentação dos prazeres materiais não é vista sob o signo do pecado e não causa arrependimento. A existência é formada por instantes passageiros, e o tempo deve ser aproveitado para desfrutar a felicidade terrena (atualiza-se a expressão clássica do carpe diem).

 

Literatura: Arcadismo

Mina,
Seus cabelo é “da hora”,
Seu corpo é um violão,
Meu docinho de coco,
Tá me deixando louco.

Minha Brasília amarela
Tá de portas abertas,
Pra mode a gente se amar,
Pelados em Santos.[1]

Pois você minha “Pitxula”,
Me deixa legalzão,
Não me sinto sozinho,
Você é meu chuchuzinho!
Music is very good! (Oxente[2] ai, ai, ai!)

Mas comigo ela não quer se casar,
Na Brasília amarela com roda gaúcha,
Ela não quer entrar.

É feijão com jabá
Desgraçada num quer compartilhar
Mas ela é lindia
Muitcho mais do que lindia
Very, very beautiful

Você me deixa doidião
Oh, yes! Oh, nos!
Meu docinho de coco
(…)

Pro Paraguai ela não quis viajar,
Comprei um Reebok[4] e uma calça Fiorucci[5],
Ela não quer usar.

Eu não sei o que faço
Pra essa mulé eu conquistchar
Por que ela é lindia
(…)


MESMA PROPOSTADa mesma forma que no poema árcade Marília de Dirceu, um sujeito apaixonado convida uma jovem para ir a um local afastado da cidade, propondo diversões inocentes que ocultam as reais intenções de aproveitar os prazeres sensuais da vida.


[1] ARGUMENTAÇÃO: Ainda que o tempo os separe por dois séculos, ambos os apaixonados vivem situações parecidas: desejam conquistar a amada. Para isso, usam técnicas argumentativas similares. Gonzaga quer mostrar à sua musa seus dotes (fazenda, gado). Já o eu lírico de Pelados em Santos conta com sua Brasília amarela e alguns presentes no processo de sedução burguesa.

[2] VALORES BURGUESES: A canção apresenta valores da burguesia: o conquistador tenta se passar por um integrante dessa classe, mas termos populares (oxente) revelam sua condição: trata-se de um sujeito pertencente às camadas populares.

[3] DISTINÇÃO: O tênis Reebok e a calça Fiorucci, produtos importados do Paraguai, davam a distinção necessária ao rapaz, assim como os produtos “importados” (azeite e vinho), produzidos na fazenda de Dirceu, em Liras.

[4] ADJETIVO: Reebok é o adjetivo que acompanha o substantivo tênis, que está subentendido. Neste caso, podemos dizer que Reebok é um adjetivo substantivado (veja outros usos do adjetivo no Saiba mais ao lado).

 

Literatura: Arcadismo

 

ADJETIVOS

O adjetivo – que acompanha o substantivo, indicando qualidade – pode desempenhar várias funções nas sentenças, conforme o contexto em que está inserido.

Adjetivos indicando característica ou qualidade

  • A conferência internacional reuniu representantes de países pobres e de países ricos. (neste caso, pobres e ricos são adjetivos )

Adjetivos utilizados como substantivo

  • Robin Hood roubava o dinheiro dos ricos e entregava aos pobres. (as palavras destacadas funcionam como substantivos)

Adjetivos usados como advérbio

Os adjetivos podem acompanhar um verbo e indicar as circunstâncias da ação

  • João era um garoto tímido e baixo. (aqui, tímido e baixo são adjetivos que se referem ao substantivo garoto)
  • João era um garoto tímido e falava baixo. (tímido é adjetivo, mas baixo torna-se um advérbio ligado à ação de falar)

Alteração de sentido em razão da colocação (antes ou depois do substantivo)

  • João será, provavelmente, um homem grande. (= alto)
  • João será, provavelmente, um grande homem. (= virtuoso)

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