Questões Sociais: IDH O desenvolvimento humano avança no Brasil
A qualidade de vida em debate
Indicadores de desenvolvimento humano avançam no Brasil, mas o país perde uma posição no ranking global
por Maria Fernanda Teperdgian
Os dados mais recentes divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), referente ao ano de 2014, mostram que o Brasil melhorou seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O relatório revela que o indicador passou de 0,752 em 2013 para 0,755 em 2014. Entre 2010 e 2014, o indicador brasileiro cresceu 0,60% ao ano.
Apesar do aumento, o Brasil caiu uma posição no ranking mundial de desenvolvimento humano, passando a ocupar o 75o lugar entre 188 países e territórios. O país foi ultrapassado pelo Sri Lanka. Esta nação insular localizada ao sul da Índia obteve um ritmo mais acelerado de crescimento nos últimos anos.
O IDH mede o desenvolvimento humano por meio de três componentes: educação, longevidade e renda. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais perto do 1, maior é o bem-estar e a qualidade de vida do país (veja como o IDH é calculado no boxe abaixo). Com IDH de 0,755, o Brasil está na categoria de países de Alto Desenvolvimento Humano. É o segundo maior nível na escala, onde também se encontram países como Uruguai, Venezuela, México, Turquia, Rússia e China.
O impacto da crise
O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) foi divulgado em dezembro de 2015, em meio ao agravamento dos indicadores econômicos brasileiros. Mas será que já é possível identificar os reflexos do atual cenário econômico nos dados de desenvolvimento humano do Brasil?
Apesar de os indicadores serem referentes a 2014, quando a desaceleração da atividade econômica ainda mostrava seus primeiros sinais, é possível perceber que a crise já impactou o rendimento dos brasileiros. Isso porque esse dado específico mostra, de forma mais aparente e rápida, as mudanças da economia. O Brasil registrou queda na Renda Nacional Bruta (RNB) per capita em 2014 (15.175 dólares), quando comparada aos valores de 2013 (15.288 dólares). É a primeira vez, desde os anos 1990, que a RNB do Brasil sofreu uma retração.
Mas se a renda do brasileiro caiu entre 2013 e 2014, afetando um aumento mais expressivo do IDH, os outros dois indicadores que medem os avanços sociais não foram impactados. O RDH mostra que o indicador de esperança de vida ao nascer aumentou de 74,2 anos em 2013 para 74,5 em 2014. Além disso, a média de anos de estudo passou de 7,4 para 7,7 nesse período.
Esses indicadores específicos não foram afetados porque o IDH apresenta mudanças em longo prazo, ou seja, os reflexos sobre os investimentos em educação e expectativa de vida, por exemplo, são notados com o passar de alguns anos. Segundo o relatório, apenas recessões econômicas longas causariam impactos mais profundos no IDH. Os indicadores de escolaridade, por exemplo, podem ser afetados se os jovens deixassem de estudar para trabalhar mais cedo. Uma crise econômica prolongada também pode ter impacto nos serviços de saúde, o que afetaria diretamente a expectativa de vida.
O relatório também fez dez menções diretas ao Brasil, com destaque ao programa social do governo federal, Bolsa Família, lançado em 2003, que recebeu três citações. O RDH reconheceu a iniciativa como uma política pública importante de transferência de renda para famílias mais pobres, melhorando as condições de educação e saúde de milhares de famílias. Segundo a ONU, esse programa poderia ser replicado em outras partes do mundo.
COMO É CALCULADO O IDH
A apuração do Índice de desenvolvimento Humano (IDH) considera três indicadores: educação, longevidade e renda. Conheça o modo como são medidos esses parâmetros:
- SAÚDE É medida pela expectativa de vida: quanto mais saudável uma população, maior sua longevidade.
- RENDA É medida pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita (a soma do PIB do país mais a renda recebida do exterior dividida pela população total).
- EDUCAÇÃO É medida pela média de anos de estudo da população acima de 25 anos e pela expectativa de escolaridade para crianças no início da vida escolar. O IDH é calculado pela média geométrica de todas essas medidas.
Se a desigualdade social for levada em consideração, o Brasil perde mais de um quarto de seu IDH
América do Sul e Brics
No ranking latino-americano, o Brasil fica apenas na 13a posição, atrás de nações como Chile, Uruguai, Cuba, Venezuela e Argentina – o líder na região. Ainda assim, o IDH brasileiro, de 0,755, é maior do que a média da América Latina, que registra 0,748.
Em uma perspectiva de longo prazo, porém, o relatório mostra que o IDH brasileiro cresceu 24,2% entre 1990 e 2014, um aumento anual médio de 0,91% no indicador. Esse foi o melhor desempenho entre os países da América do Sul. Durante esse período, os brasileiros ganharam 9,2 anos de expectativa de vida, viram a renda aumentar 50,7% e, na educação, a expectativa de anos de estudo para uma criança que entra no ensino em idade escolar cresceu 24,5% (3 anos), e a média de anos de estudos de adultos com 25 anos ou mais subiu 102,6% (3,9 anos).
Na comparação com os países do Brics,o grupo que compõe as principais economias emergentes, o Brasil possui o segundo melhor IDH, à frente de China, Índia e África do Sul.
O país é superado apenas pela Rússia, que ocupa o 50o lugar no ranking, com o IDH de 0,798. Embora os russos tenham melhores indicadores de educação e renda, os brasileiros têm quatro anos a mais de expectativa de vida.
Atrás do Brasil, está a China (90o), que possui o índice de 0,727, seguida da África do Sul (116o), com IDH de 0,666. O pior resultado entre os Brics é da Índia, que ocupa o 130o lugar no ranking, com 0,609 de índice. Os indianos também têm a menor renda (US$ 5.497) e menor média de anos de estudo (5,4) entre os membros do grupo. No entanto, ao observar a expectativa de vida dos cinco países, a África do Sul tem o indicador mais baixo, de 57,4 anos.
Desigualdade afeta o índice brasileiro
Mas se a desigualdade social for levada em conta, o Brasil fica com um desempenho pior que seus vizinhos na América Latina. Segundo o Pnud, o IDH é apenas uma média e não ilustra claramente a desigualdade na distribuição do desenvolvimento humano. Por isso, foi elaborado outro índice: o IDH-D (IDH Ajustado à Desigualdade). A distribuição desigual do desenvolvimento humano é medida em cada uma das três dimensões do IDH (longevidade, educação e renda) e então descontada do valor original do indicador. Quanto maior o percentual de desconto, maior a desigualdade no país.
No caso brasileiro, descontada a desigualdade, o IDH teria uma perda de 26,3% e ficaria com 0,557. O país se posiciona abaixo da média da América Latina nesses quesitos – a média para a região é de 0,570 no IDH-D e 23,7% de perda total do IDH. Entre os países considerados com alto nível de IDH (grupo no qual está o Brasil), a média do IDH-D fIca em 0,600, relativamente acima do índice brasileiro, com perda média de 19,4%.
O IDH no mundo
No cenário mundial, a Noruega continua com a primeira colocação no ranking, com IDH de 0,944. Mesmo e a desigualdade social for considerada, o país segue com o índice de 0,893, que é bem elevado. A média de anos de estudo no país é de 12,6 e a expectativa de vida está em 81,6 anos. Atrás da Noruega, estão Austrália, Suíça, Dinamarca e Holanda.
Dos 188 países listados no relatório, 45 conseguiram aumentar o índice em comparação com o último levantamento (2013) – sete deles estão na América Latina. O indicador dos países em desenvolvimento continua a crescer, mas em um ritmo menor do que na década passada. Entre 2000 e 2010, o IDH de países em desenvolvimento cresceu a uma média anual de 1,2%; porém, entre 2011 e 2014, o ritmo foi de apenas 0,7%.
A ONU destacou, no último relatório, que 2 bilhões de pessoas saíram de condições de baixo desenvolvimento humano nos últimos 25 anos. Em relação a 1990, o número de pessoas vivendo em países de IDH baixo caiu 60%, de 3,2 bilhões para 1,2 bilhão. Algumas nações da África Subsaariana, como Gana e Namíbia, estão entre os 19 que saíram dessa categoria. Embora essa região continue a ter o valor mais baixo do índice de desenvolvimento humano, 12 países têm níveis de IDH individuais que os classificam como médio. Entre eles estão Botsuana (106o), Gabão (110o) e Cabo Verde (122o).
Outro fato a ser destacado na análise do IDH é que o aspecto econômico por si só não leva diretamente a um maior desenvolvimento humano. Um exemplo que ilustra esse fato é a comparação entre Guiné Equatorial e Chile. Embora os dois países tenham indicadores de renda similares (ambos na faixa de 21 mil dólares), o IDH é bem distinto. Enquanto o Chile alcançou o índice de 0,832 e está no grupo de muito alto desenvolvimento, a Guiné teve 0,587 e ocupa o 138 o lugar no ranking. Essa diferença se deve aos outros dois indicadores. A média de anos de estudo no Chile é de 9,8 anos, enquanto que no país africano é de 5,5. O mesmo ocorre com os índices de expectativa de vida: os chilenos vivem 24 anos a mais que a população da Guiné Equatorial. Ou seja, a renda no país africano não se traduz em bem-estar para toda a sociedade.
Em relação aos países que mais cresceram no IDH, Ruanda merece destaque.
Em 1990, o índice era de 0,244 e, em 2014, alcançou 0,483. Nesse período, a nação passou pelo trauma de um conflito sectário que causou o genocídio de 1 milhão de pessoas. Nos últimos anos, a economia avançou e o país conseguiu melhorar seus indicadores. A maior mudança é na expectativa de vida da população do país, que aumentou 31 anos em relação a 1990.
Já os países que mais caíram no ranking foram a Líbia (27 posições) e a Síria (15 posições), duas nações afetadas por violentos conflitos internos. O último lugar permanece com o africano Níger, com IDH de 0,348.
SAIU NA IMPRENSA
BRASIL AVANÇA EM DESENVOLVIMENTO OU CAI EM RANKING DO IDH? COMO INTERPRETAR RELATÓRIO DA ONU
A ONU divulgou globalmente nesta segunda-feira seu relatório de Desenvolvimento Humano. (…)
O relatório deste ano traz informações sobre o Brasil que parecem, numa primeira leitura, contraditórias: o país melhorou sua nota no IDH em 2014, mas perdeu uma posição no ranking – da 74a para a 75a – ao ser ultrapassado pelo Sri Lanka, um país insular ao sul da Índia. (…) Mas seria essa queda do Brasil no ranking algo relevante? Para a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) no Brasil, Andrea Bolzon, não. Segundo Bolzon, o mais importante é manter a tendência de avanço na nota.
“O ranking é uma corrida (em direção a maiores níveis de desenvolvimento). O fato de alguém te ultrapassar numa corrida não significa que você parou de andar ou andou para trás, significa que alguém passou mais rápido por você”, acrescenta. (…)
BBC Brasil, 14/12/2015
RESUMO
IDH
IDH Para medir as variações no padrão da qualidade de vida das diferentes populações do globo, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A apuração desse índice considera três indicadores: educação, longevidade e renda.
RANKINGS No ranking mundial, cada país recebe uma pontuação de IDH, que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, melhor a qualidade de vida do país. O Pnud faz o ranking que separa os países em quatro categorias: os com muito alto desenvolvimento, os com alto desenvolvimento, os com médio desenvolvimento e os com baixo desenvolvimento humanos.
BRASIL O IDH brasileiro passou de 0,752 em 2013 para 0,755 em 2014. Apesar do aumento, o país caiu uma posição no ranking mundial de desenvolvimento humano e passa a ocupar o 75o lugar entre 188 países listados no relatório. O crescimento do IDH brasileiro foi afetado pela renda, que caiu 0,74% entre 2013 e 2014. O Brasil está na categoria de países de Alto Desenvolvimento Humano. A expectativa de vida do brasileiro é de 74,5 anos e a média de anos de estudo é de 7,7 nesse último relatório.
IDH E DESIGUALDADE Segundo o Pnud, o IDH é apenas uma média que não ilustra claramente a desigualdade na distribuição do desenvolvimento humano. Por isso, foi elaborado outro índice: o IDH-D (IDH Ajustado à Desigualdade). A distribuição desigual do desenvolvimento humano é medida em cada uma das três dimensões do IDH e então descontada do valor original do indicador. No caso brasileiro, descontada a desigualdade, o IDH teria uma perda de 26,3% e ficaria com 0,557.
CENÁRIO MUNDIAL A Noruega é o primeiro colocado no ranking mundial, com IDH de 0,944. Em seguida, vêm Austrália, Suíça, Dinamarca e Holanda. A África Subsaariana, por sua vez, é a região que mais concentra países com IDH baixo – Níger é o último colocado no ranking, com IDH de 0,348. Entre 1990 e 2014, Síria e Líbia foram os países que mais caíram no ranking.