Veja redações com notas altas no Enem 2017
Ler redações de estudantes que tiraram notas altas pode ajudar você a entender como montar o texto do vestibular e a identificar seus erros e acertos
Na maior parte dos vestibulares, a redação pode ter um grande peso na composição da sua média final. Por isso, ao longo do ano de preparação para os exames, é importante separar algumas horas da sua semana para aprimorar as habilidades necessárias para encarar o texto exigido.
Uma das dicas é ler redações que tiraram notas altas no vestibular que você vai prestar. Essa tática, além de ajudar você a entender como montar o texto, aponta quais são seus erros e acertos.
Na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o tema de redação foi Desafios para Formação Educacional de Surdos, no formato dissertativo-argumentativo. O GE pediu o espelho de alguns estudantes que tiraram nota acima de 900 pontos nessa parte da prova. Veja abaixo a transcrição das redações, sem edição:
Maria Juliana Costa
Em razão de seu caráter excessivamente militarizado, a sociedade que constituía a cidade de Esparta, na Grécia Antiga, mostrou-se extremamente intolerante com deficiências corpóreos ao longo da história, tornando constante inclusive o assassinato de bebês que as apresentassem, por exemplo. Passados mais de dois mil anos dessa prática tenebrosa, ainda é deploravelmente perceptível, sobretudo em países subdesenvolvidos como o Brasil, a existência de atos preconceituosos perpetrados contra essa parcela da sociedade, que são o motivo primordial para que se perpetue como difícil a escolarização plena de deficientes auditivos. Esse panorama nefasto suscita ações mais efetivas tanto do Poder Público quanto de instituições formadores de opinião, com o escopo de mitigar os diversos empecilhos postos frente à educação dessa parcela social.
É indubitável, de fato, que muitos espaços já foram conquistados no que tange à efetivação dos direitos constitucionais garantidos aos surdos brasileiros. Pode-se mencionar, por exemplo, a classificação das Libras – Língua Brasileira de Sinais – como segundo idioma oficial da nação em 2002, a existência de escolas especiais para surdos no território do Brasil e as iniciativas privadas que incluem esses cidadãos como partícipes de eventos – como no caso da plataforma do Youtube Educação, cujas aulas sempre apresentam um profissional que traduz a fala de um professor para a língua de sinais. Apenas medidas flagrantemente pontuais como essas, contudo, são incapazes de tornar a educação de surdos efetiva e acessível a todos que necessitam dela, visto que não só a maioria dos centros educacionais está mal distribuída no país, mas também a disponibilidade de professores específicos ainda é escassa, além de a linguagem de sinais ainda ser desconhecida por grande parte dos brasileiros.
No que tange à sociedade civil, nota-se a existência de comportamentos e de ideologias altamente preconceituosos contra os surdos brasileiros. A título de ilustração, é comum que pais de estudantes ditos “normais” dificultem o ingresso de alunos portadores de deficiência auditiva em classes não específicas a eles, alegando que tal parcela tornará o “ritmo” da aula mais lento; que colegas de sala difundam piadas e atitudes maldosas e que empresas os considerem inaptos à comunicação com outros funcionários. Essas atitudes deploravelmente constantes no Brasil ratificam a máxima atribuída ao filósofo Voltaire: “os preconceitos são a razão dos imbecis”.
Urge, pois, a fim de tornar atitudes intolerantes restritas à história de Esparta, que o Estado construa mais escolas para deficientes auditivos em municípios mais afastados de grandes centos e promova cursos de libras a professores da rede pública – por meio da ampliação de verbas destinadas ao Ministério da Educação e da realização de palestras com especialistas na educação de surdos –, em prol de tornar a formação educacional deles mais fácil e mais inclusiva. Outrossim, é mister que instituições formadoras de opinião – como escolas, universidades e famílias socialmente engajadas – promovam debates amplos e constantes acerca da importância de garantir o respeito e a igualdade de oportunidades a essa parcela social, a partir de diálogos nos lares, de seminários e de feiras culturais em ambientes educacionais. Assim, reduzir-se-ão os empecilhos existentes hoje em relação à educação de surdos na Nação e formar-se-ão cidadãos mais aptos a compreender a necessidade de respeito a eles, afinal, segundo o filósofo Immanuel Kant: “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.
Nota no Enem 2017: 1000
Augusto Piazera
A surdez possui diversas origens. A patológica é definida como uma deficiência do nervo coclear ou da formação dos ossículos da orelha médica. Já a surdez deliberativa é aquela que independe de condições físicas: ela é estabelecida, por sua vez, sob ideais deturpados da moral. E é essa variante – que acomete majoritariamente representantes do Estado – que impede os efetivamente surdos de desfrutarem do sistema educacional.
De forma análoga ao ocorrido durante o Movimento Sufragista Inglês (episódio no qual milhares de mulheres reivindicaram o direito de serem ouvidas nas urnas), no Brasil contemporâneo, a parcela surda da população clama – infelizmente sem sucesso – por igualdade de condições. Essa, que é falaciosamente assegurada pelo artigo 27.º, capítulo IV, da Constituição Federal, não condiz com a realidade. Nesse contexto, tamanha é a ineficiência do Estado no asseguramento dos direitos daqueles que deles mais precisam, que o número de matrículas de surdos na Educação Básica, entre os anos de 2011 e 2016, caiu mais de 20%, segundo dados do Inep.
Nesse cenário, vários são os fatores que dificultam a formação educacional de deficientes auditivos. Dentre eles, a falta de representantes surdos no Congresso e no Senado denuncia o descaso do governo para com essas pessoas. A despeito disso, em uma ultrajante atitude de “tampar os ouvidos” às necessidades dessa parcela da população, irrisória (ou praticamente nula) parcela do erário é destinada a programas de educação aos surdos.
O determinismo do meio, portanto, conforme descrito por Aluísio Azevedo na obra “O Cortiço”, quando adaptado à realidade do surdo brasileiro, evidencia a improbabilidade de ascensão profissional destes. Nesse sentido, cabe aos governos Federal e Municipal a aplicação obrigatória do ensino da Língua Brasileira de Sinais às turmas dos ensinos fundamental e médio, tanto em escolas públicas quanto privadas. Assim, por meio de cartilhas educativas, as crianças e jovens terão maior contato com a realidade dos surdos.
Concomitantemente a isso, a escolarização dos deficientes auditivos deve ser estimulada e encorajada, a partir de auxílios financeiros e logísticos que habilitem o estudante a gozar plenamente dos benefícios providos pela educação. Será somente a partir desse trabalho de parceria entre o Estado e a sociedade que o muro de desigualdades enfrentado pelos surdos poderá ser, estrondosamente, derrubado.
Nota no Enem 2017: 980
Marcus de Oliveira
No Brasil, o início do processo de educação de surdos remonta ao Segundo Reinado. No entanto, esse ato não se configurou como inclusivo, já que se caracterizou pelo estabelecimento de um “apartheid” educacional, ou seja, uma escola exclusiva para tal público, segregando-o dos que seriam considerados “normais” pela população. Assim, notam-se desafios ligados à formação educacional das pessoas com dificuldade auditiva, seja por estereotipação da sociedade civil, seja por passividade governamental. Portanto, haja vista que a educação é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do referido público e, logo, da nação, ela deve ser efetivada aos surdos pelos agentes adequados, a partir da resolução dos entraves vinculados a ela.
Sob esse viés, pode-se apontar como um empecilho à implementação desse direito, reconhecido por mecanismos legais, a discriminação enraizada em parte da sociedade, inclusive dos próprios responsáveis por essas pessoas com limitação. Isso pode ser explicado segundo o sociólogo Talcott Parsons, o qual diz que a família é uma máquina que produz personalidades humanas, o que legitima a ideia de que o preconceito por parte de muitos pais dificulta o acesso à educação pelos surdos. Tal estereótipo está associado a uma possível invalidez da pessoa com deficiência e é procrastinado, infelizmente, desde o Período Clássico grego, em que deficientes eram deixados para morrer por serem tratados como insignificantes, o que dificulta, ainda hoje, seu pleno desenvolvimento e sua autonomia.
Além do mais, ressalte-se que o Poder Público incrementou o acesso do público abordado ao sistema educacional brasileiro ao tornar a Libras uma língua secundária oficial e ao incluí-la, no mínimo, à grade curricular pública. Contudo, devido à falta de fiscalização e de políticas públicas ostensivas por parte de algumas gestões, isso não é bem efetivado. Afinal, dados estatísticos mostram que o número de brasileiros com deficiência auditiva vem diminuindo tanto em escolas inclusivas – ou bilíngues –, como em exclusivas, a exemplo daquela criada no Segundo Reinado. Essa situação abjeta está relacionada à inexistência ou à incipiência de professores que dominem a Libras e à carência de aulas proficientes, inclusivas e proativas, o que deveria ser atenuado por meio de uma maior gerência do Estado nesse âmbito escolar.
Diante do exposto, cabe às instituições de ensino com proatividade o papel de deliberar acerca dessa limitação em palestras elucidativas por meio de exemplos em obras literárias, dados estatísticos e depoimentos de pessoas envolvidas com o tema, para que a sociedade civil, em especial os pais de surdos, não seja complacente com a cultura de estereótipos e preconceitos difundida socialmente. Outrossim, o próprio público deficiente deve alertar a outra parte da população sobre seus direitos e suas possibilidades no Estado civil a partir da realização de dias de conscientização na urbe e da divulgação de textos proativos em páginas virtuais, como “Quebrando o Tabu”. Por fim, ativistas políticos devem realizar mutirões no Ministério ou na Secretaria de Educação, pressionando os demiurgos indiferentes a problemática abordada, com o fito de incentivá-los a profissionalizarem adequadamente os professores – para que todos saibam, no mínimo, o básico de Libras – e a efetivarem o estudo da Língua Brasileira de Sinais, por meio da disponibilização de verbas e da criação de políticas públicas convenientes, contrariando a teórica inclusão da primeira escola de surdos brasileira.
Nota no Enem 2017: 1000
Laís Fernandes
Educação não inclusiva
Na sociedade vigente, nota-se uma defasagem na inclusão de pessoas com deficiência, destacando-se aquelas que sofrem de surdez. Tal defasagem é reforçada na realidade educacional do País, que muitas vezes não proporciona de forma efetiva o que é assegurado aos deficientes na Constituição – segundo o artigo 27, a educação constitui um direito à pessoa com deficiência, que deve contar com um sistema educacional inclusivo. Contudo, a inclusão de portadores de necessidades especiais ainda é um desafio.
Analisando a história da humanidade, observa-se que na Grécia antiga, pessoas com deficiência eram menosprezadas, não sendo consideradas cidadãs. De forma análoga, tem-se no contexto hodierno uma forte presença da intolerância com relação aos deficientes, que sofrem com a exclusão e com a discriminação. Além disso, a falta de apoio e de oportunidades também é um obstáculo na inserção da população referida nas escolas.
Não obstante os fatos supracitados, é necessário destacar também a existência de um despreparo das escolas e do governo em relação aos deficientes auditivos, uma vez que a Libras – Língua Brasileira de Sinais – ainda não é efetivamente difundida. Assim, tem-se professores despreparados, que por não terem acesso ao aprendizado da Libras, não conseguem comunicar-se corretamente com alunos portadores de surdez, situação que se reflete na queda do número de matrículas de surdos na educação básica.
Fica claro, portanto, que medidas devem ser tomadas a fim de atenuar o problema. Faz-se necessário a requalificação de professores, por meio de cursos de Libras oferecidos gratuitamente pelo governo, de forma que a população surda tenha mais acesso a educação. Além disso, a discriminação e a intolerância aos deficientes auditivos devem ser combatidas, por meio de campanhas educativas nas mídias e nas escolas, que reforcem à necessidade de inclusão social, pois segundo Helen Keller “o resultado mais sublime da educação é a tolerância”.
Nota no Enem 2017: 920
Como é feita a correção
Os corretores avaliam cinco competências na redação, cada uma valendo 200 pontos. O detalhamento dos critérios pode ser encontrado na Cartilha de Participante – Redação no Enem.
Competência 1
Norma culta: Avalia a obediência do candidato à norma-padrão da língua escrita.
Competência 2
Capacidade de leitura: Envolve a compreensão da proposta, a aplicação do conhecimento de várias áreas (aqui, entra a avaliação do repertório) e desenvolvimento do tipo de texto pedido – no caso, a dissertação. Nessa competência, é importante entender que um ponto chave da redação é não fugir do tema – para não correr riscos, leia com atenção (e mais de uma vez) a proposta e a coletânea.
Competência 3
Tese e argumentação: Avalia a capacidade de selecionar, relacionar e organizar fatos e opiniões em defesa do argumento.
Competência 4
Coesão: Avalia a articulação e os nexos que se estabelecem entre os elementos do texto. É, basicamente, a utilização de elementos e mecanismos de linguagem que possibilitem a argumentação.
Competência 5
Proposta de intervenção social: Avalia se o candidato conseguiu propor, de maneira objetiva, clara e detalhada a proposta de solução para o problema abordado, e se é plausível e faz sentido em relação ao tema. O aluno ainda deve se lembrar de manter o respeito aos direitos humanos. Repare que a proposta de intervenção é um dos itens mais importantes, pois há uma grade de avaliação somente para ela.