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Conheça – e evite – a falácia do falso dilema

A falácia do falso dilema envolve apresentar um número limitado de alternativas quando, na verdade, há mais

Por Ana Prado
Atualizado em 15 Maio 2019, 22h38 - Publicado em 13 Maio 2016, 20h06

Conheça – e evite – a falácia do falso dilema
A imagem ilustra o que significa um falso dilema: é como se você só tivesse dois caminhos possíveis, geralmente um certo e outro errado, quando na verdade tem outras opções (Foto: iStock)

Saber argumentar é necessário para mandar bem nas provas de redação que pedem dissertações, como a do Enem e a da Fuvest. Mas não só: essa habilidade é também fundamental para que você possa construir e defender suas opiniões em qualquer outro contexto.

Uma argumentação, quando utiliza o raciocínio, pode ser bem construída ou falaciosa. Quando bem construída, sua tese é apoiada por evidências organizadas de forma lógica. Quando falaciosa, contém uma falácia, ou seja, um erro de raciocínio que leva a uma conclusão incorreta (embora possa ser, muitas vezes, bem convincente).

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Falácias podem ser usadas de propósito, visando manipular opiniões, mas é muito mais comum que ocorram por acidente, sem que se tenha essa má-fé: nenhum de nós está livre de cometer esse tipo de erro, seja por falta de atenção, por falta de conhecimento ou por não termos tido tempo de pensar melhor no que estamos dizendo.

É preciso ficar atento ao fato de que encontrar um argumento falacioso não quer dizer que a tese defendida está necessariamente incorreta – significa apenas que aquele determinado argumento não é válido. (Se todos os argumentos que apoiam a tese são falaciosos, no entanto, é necessário repensá-la!).

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Em uma série de posts que começa agora, vamos apresentar algumas das falácias mais comuns e apresentar exemplos de cada uma. Saber reconhecê-las é útil não apenas para defender suas opiniões, mas também para refutar argumentos que parecem confiáveis, mas são falsos. Nossa primeira falácia é a do falso dilema.

Falso dilema

Envolve apresentar um número limitado de alternativas – na maioria das vezes, fala-se como se houvesse apenas duas – quando, na verdade, há mais. Essa falácia está ligada a uma visão limitada e simplista, que não leva em conta as múltiplas variáveis e contextos envolvidos em uma situação.

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Exemplo:

Conheça – e evite – a falácia do falso dilema

No comentário acima, o autor admite apenas duas alternativas: um governo comandado por militares ou um governo semelhante ao de Fidel Castro, que levaria tanto o Brasil quanto o Chile a uma história igual à de Cuba (que ele diz ter ficado “presa ao passado” devido a esse governo).

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Esse argumento ignora outras possibilidades de formas de governo (que não fossem nem a de uma ditadura militar nem a de uma ditadura comunista) e de desdobramentos da forma de governo escolhida (sem os militares, os países necessariamente teriam o mesmo destino que Cuba, mesmo com características históricas, sociais, naturais e econômicas distintas).

Veja outros exemplos:

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Aqui, são aceitas apenas duas situações possíveis: ter votado na Dilma e não poder reclamar posteriormente de preços altos, ou não ter votado e aí, sim, ter o direito de reclamar. Acontece que uma pessoa tem o direito de reclamar sobre o que bem entender e esse direito não está vinculado ao seu voto em um ou outro candidato. Logo, uma pessoa pode ter votado na Dilma e reclamar, bem como não ter votado e não querer reclamar.

Conheça – e evite – a falácia do falso dilema

O tuíte acima comete um erro comum em discussões sobre temas polêmicos: reduzir uma situação complexa a apenas dois lados possíveis. Ignora-se que é possível não concordar com nenhuma das duas partes apresentadas, ou concordar apenas parcialmente com uma delas ou até mesmo com as duas.

Conheça – e evite – a falácia do falso dilema

Embora condene a generalização, o post acima começa com uma – o que também é uma falácia, mas trataremos dela em outro post. O que nos interessa aqui é novamente aquele papo de preto-ou-branco: se você tem medo da polícia, tem que ser “vagabundo, bandido, desordeiro”, pois gente de bem não tem por que temê-la. Acontece que há muitos “vagabundos e bandidos” que não têm medo algum da polícia, bem como inúmeras pessoas “de bem” que a temem: há motivos variados para a presença ou a falta desse medo, que não se resumem ao fato de a pessoa ter cometido ou não um crime.

Fica a sugestão para um exercício: dê uma olhada nos posts que aparecem no seu feed do Facebook e veja quantos falsos dilemas você consegue encontrar. Nestes tempos de crise política, o número provavelmente será bem elevado.

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