Os feitos históricos de diplomatas brasileiros exemplificam alguns dos papéis que um diplomata pode assumir. A imagem que vem à mente de muitas pessoas tem a ver com reuniões formais em organizações supranacionais como as Nações Unidas, ou mega reuniões tratando de comércio e parcerias entre um país e outro. Acontece que o trabalho diplomático, ainda que contemple tais atividades, não se limita a elas.
“As grandes linhas de atuação na carreira diplomática são a consular e a diplomática propriamente dita”, resume o brasileiro Gustavo Westmann, que hoje serve na Embaixada do Brasil na Indonésia e também passou pela Embaixada em Roma, na Itália. “A primeira delas tem foco nos cidadãos, e a segunda, nos interesses nacionais”, pontua ele, que é diplomata há dez anos.
Em outras palavras, é possível moldar a carreira a uma infinidade de atividades, já que a trajetória dos diplomatas é tão versátil.
Ainda assim, vale ressaltar que o “glamour” comumente associado à carreira pode não corresponder à realidade, como destaca Gustavo. “É interessante desmistificar um pouco o imaginário de grandes negócios, festas glamourosas e coquetéis”, explica ele. Para além de grandes missões e grandes decisões ao representar o país, o diplomata tem de cuidar de muita papelada, comandar setores específicos na embaixada, o que nem sempre atendendo a tal estereótipo.
Por outro lado, a mudança de país a país e de níveis dentro da carreira permite que os profissionais atuem em mais de um campo. Mas não há, a princípio, um departamento específico de Recursos Humanos que indique o caminho mais certeiro para cada profissional. “Entretanto, a oportunidade de mudar recorrentemente de área também evita a monotonia”, ressalta Gustavo.
Atividades na linha consular
Antes de falar dessas atividades, é necessário entender onde elas acontecem. O ambiente de trabalho de um diplomata pode ser uma embaixada ou consulado em país estrangeiro, ou mesmo um cargo no Palácio Itamaraty, prédio projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e que abriga o Ministério das Relações Exteriores.
Quando se fala em linha consular, o ambiente mais comum é, claro, o dos consulados. Nesses cargos, o profissional cuida de assuntos que tem a ver com os cidadãos brasileiros no exterior, trabalhando de forma mais direta com essa comunidade. Por exemplo, um diplomata pode trabalhar com a emissão de vistos, ou mesmo visitar brasileiros que tenham sido presos no exterior, por algum crime cometido em terras estrangeiras.
Como explica Gustavo, que se formou em Direito e em Relações Internacionais, essa rotina de trabalho envolve muita papelada. “Leia-se: mexer com folhas de pagamentos e burocracias licitatórias”, exemplifica ele, que também fez mestrado na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos e na Libera Università Internazionale degli Studi Sociali, em Roma.
Se, por um lado, essas atividades se distanciam do imaginário popular ligado à diplomacia, por outro auxiliam de perto as comunidades brasileiras no exterior.
Atividades na linha diplomática
Nesse caso, são as atividades que têm mais a ver com o imaginário popular sobre o que é ser diplomata. Isso é, tratar de acordos bilaterais, transmitir ao governo brasileiro as informações de interesse no país estrangeiro, atuar junto a órgãos como as Nações Unidas. “Uma pessoa recém ingressada na carreira diplomática pode desempenhar funções que vão desde temas comerciais, ou agricultura, até direitos humanos”, cita Gustavo.
É uma oportunidade de se envolver em processos decisórios e negociações complexas, que envolvem os interesses brasileiros em nações específicas. O profissional pode, ainda, representar o Brasil em áreas específicas, como, por exemplo, a cooperação para o combate à fome.
Como o brasileiro destaca, essas são algumas das atividades que tornam a carreira tão atrativa. “Conseguir negociar acordos internacionais, participar de grandes conferências, conhecer autoridades e participar da tomada de decisões”, lista ele.
Atuação na carreira diplomática no Itamaraty
Um país da importância do Brasil, com relações diplomáticas com todos os 192 países membros da ONU, também precisa garantir um quadro de diplomatas por aqui. Assim, outra possibilidade de atuação na carreira diplomática é desempenhar suas funções em Brasília, cuidando de questões administrativas e mantendo o contato com delegações estrangeiras que vêm ao Brasil.
Post publicado originalmente no site Na prática, da Fundação Estudar.