Quem melhor para contar a você como é um curso de Jornalismo do que professores dessa graduação? Pensando nisso, o Guia do Estudante entrevistou dois coordenadores, Alvaro Benevenuto Junior, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e Janine Marques Passini Lucht, diretora do curso de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing, em Porto Alegre (ESPM-Sul), ambos no Rio Grande do Sul. Acompanhe o que eles disseram.
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1- Qual o perfil do aluno de Jornalismo? Que características/interesses, em geral, eles têm?
Profa. Janine: O aluno de jornalismo, em geral, se interessa por histórias. Gosta de ouvi-las e de contá-las. Costuma gostar de ler e escrever e está sempre antenado com o que acontece a sua volta.
2- Como um estudante de Ensino Médio pode saber se ele tem o perfil para o curso?
Prof. Alvaro: Ele tem que pensar se é criativo e descolado para, eventualmente, seguir carreira solo (como free lancer). Tem, também, que ter disposição para deixar o conforto da casa dos pais e bastante curiosidade para viver em outros locais (nem sempre amigáveis). E precisa gostar de geografia, política, sociologia, filosofia, estatística, economia, humanidades, poesia, música, cinema, artes plásticas e dramáticas. É muito indicado, ainda, conhecer os segredos da informática e ter prática de publicação em redes sociais.
3- Do que parte do curso os estudantes costumam mais gostar?
Profa. Janine: Na ESPM, as aulas são sempre muito práticas, o que estimula e desafia os estudantes logo de cara. No segundo semestre, por exemplo, eles têm que desenvolver um podcast, produzir pelo menos cinco episódios de 15 minutos cada e postar num site próprio. Eles fazem, também, webséries, jornais e revistas ao longo do curso.
4- Como está estruturado o curso?
Profa. Janine: Na ESPM, temos quatro núcleos bem distintos: formação básica, formação técnica, comunicação corporativa e formação em negócios. O de formação técnica possui a maior concentração de carga horária, até porque dá sustentação para as demais áreas.
Prof. Alvaro: Na UCS, são 1/3 de atividades teóricas e de formação humanística, 1/3 de práticas profissionais e 1/3 de estudos laboratoriais e estágio. Dentro desses terços está o trabalho de conclusão de curso.
5- Quais as principais disciplinas básicas? O que se aprende em cada uma delas?
Profa. Janine:
Teorias do Jornalismo: aqui os estudantes conhecem um poucos das teorias que regem o jornalismo, como o agendamento (quando um tema é pautado pela mídia) ou o gatekeeper (função exercida pelos editores ao “barrar” determinado assunto, por exemplo).
Marketing: fundamental para compreender como funciona o mercado e os consumidores.
Cibercultura: são estudados os vários fenômenos sociais relacionados à internet e às novas formas de comunicação em rede, como as mídias sociais, games, realidade aumentadas etc.
Comunicação, cultura e poder: aborda desde a história da comumicação até os movimentos culturais, políticos e econômicos contemporâneos. Os alunos aprendem, também, sobre as disputas políticas dentro do campo da comunicação.
Prof. Alvaro:
Acrescento disciplinas como Filosofia, Sociologia, Economia e Teoria da Comunicação, que apresentam questões sobre ética e moral social, economia e o funcionamento do Estado (nas esferas política e social), além daquelas que fazem da Comunicação Social um campo de estudo.
6- E as disciplinas específicas? Quais os destaques?
Profa. Janine:
Estratégias narrativas audiovisuais: já no primeiro semestre, o aluno tem contato com a linguagem de vídeo e aprende sobre enquadramento, composição de cena, formas de captação da imagem e edição de vídeo.
Comunicação corporativa e assessoria de imprensa: o aluno aprende a gerenciar projetos de comunicação para empresas e faz assessoria de imprensa para clientes reais.
Produção de rádio e mídias sonoras: o aluno é desafiado a produzir e apresentar seus próprios programas de rádio, no formato tradicional ou em podcast.
Produção de jornalismo audiovisual: o estudante produz conteúdo em vídeo, seja no modelo tradicional de televisão ou webséries.
Produção em mídias digitais: o aluno vai entender como funciona a internet e qual a melhor forma de produzir conteúdo relevante para web e redes sociais.
Prof. Alvaro:
Também destaco as oficinas de redação jornalística, os ateliês de jornalismo (nos suportes impresso, rádio, televisão e digital) e fotojornalismo. Nessas disciplinas, o estudante “vai para a rua”.
7- Poderia nos contar alguns exemplos de atividades práticas?
Profa. Janine: Em 2016, uma equipe de alunos foi a Gramado, na Serra Gaúcha, acompanhada por professores, para realizar a cobertura do 44º Festival de Cinema de Gramado, um dos mais importantes do país. O material produzido diariamente foi exibido em mais de vinte salas do GNC Cinemas, em Porto Alegre e Caxias do Sul, além de passar também na TVE-RS. Outro exemplo são as aulas de assessoria de imprensa. Os alunos produzem e implantam projetos em ONGs da cidade.
8- Há obrigatoriedade de trabalho de conclusão de curso? Em geral, como ele é feito?
Profa. Janine: Sim, o TCC é obrigatório. Na verdade, na ESPM temos dois, que são realizados ao longo de dois semestres. Um monográfico e individual e outro prático e em grupo, o Projeto de Graduação em Jornalismo (PGJ). Nele, os estudantes são desafiados a criar e desenvolver uma nova empresa de comunicação/jornalismo (um portal, uma editora, uma produtora, uma agência de conteúdo etc), como se fosse um projeto incubado, para em seguida desenvolver o conteúdo jornalístico.
9- E os estágios? Como funcionam?
Profa. Janine: O estágio é obrigatório desde 2013, quando as novas diretrizes curriculares nacionais foram publicadas pelo Ministério da Educação (MEC) para o curso de Jornalismo. Na ESPM, os alunos podem se matricular no estágio a partir do 5º semestre e precisam assistir às aulas dessa disciplina (estágio). A professora os orienta na realização do relatório, que é um case sobre a empresa onde estão estagiando. No total, os estudantes cumprem 288 horas de estágio.
10 – Quais as áreas de atuação da maioria dos egressos?
Profa. Janine: Temos muitos alunos em emissoras de rádio, trabalhando com fotografia, agências web e de conteúdo, empresas públicas e privadas ou fazendo mestrado, no Brasil e no exterior.
Prof. Álvaro: O s jornalistas formados pela UCS estão, em sua maioria, em trabalhos de assessoria de imprensa e em produção de conteúdos para mídias digitais. Outros estão no jornalismo radiofônico e na televisão, mas hoje são poucas as oportunidades de trabalho nesses veículos. Alguns, ainda, têm investido em projetos especiais para revistas customizadas, dirigidas a públicos bem específicos.
11 – Como você vê o impacto das novas tecnologias de comunicação no trabalho do jornalista?
Prof. Alvaro: O Jornalismo está em fase de mudança paradigmática. Os suportes tradicionais (rádio, TV e meio impresso) estão dando lugar à internet e novas plataformas, como laptops, tablets e smartphones. No entanto, há que relativizar quando observamos esse fenômeno no Brasil e na maioria dos países da América Latina. Muitos não têm acesso aos dados e/ou ambientes virtuais (internet e redes sociais), o que dá certa sobrevida aos meios tradicionais de Jornalismo, especialmente rádio e TV. De qualquer forma, uma coisa não mudou: a demanda por informação precisa, rápida e útil, que sempre vai existir.