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Resenha de “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”

Livro do escritor Marçal Aquino foi excluído da lista de obras obrigatórias de um vestibular após pressão de deputado bolsonarista

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 4 Maio 2023, 10h28 - Publicado em 3 Maio 2023, 17h00
Imagem mostra a atriz Camila Pitanga vista por uma janela, em cena do filme "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios"
O filme "Eu receberia as piores notícias vindo de seus lindos lábios" foi adaptado para o cinema em 2011. A protagonista foi interpretada por Camila Pitanga (Filmow/Divulgação)
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Censura. É desta forma que a Companhia das Letras, responsável pela publicação do livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, classificou a decisão da Universidade de Rio Verde (UniRV), em Goiás, de retirar a cobrança da obra do seu vestibular para o curso de Medicina.

A universidade optou por excluir o livro do autor brasileiro Marçal Aquino do exame após pressão do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), que publicou em suas redes sociais um vídeo denunciando um suposto caráter “pornográfico” na narrativa. O escritor é um dos mais relevantes autores contemporâneos brasileiros e já ganhou o Prêmio Jabuti.

A própria universidade reconheceu a relevância de “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, cobrado em outros concursos, mas afirma ter optado pela exclusão após a polêmica.

Para a Academia Brasileira de Letras (ABL), a universidade “cedeu a pressões políticas obscurantistas”.

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Em 2016, o GUIA DO ESTUDANTE recebeu uma resenha do livro, escrita pela leitora Beatriz Milanez – que, na época, tinha 19 anos e estudava jornalismo na Unesp.

Confira sua análise do livro:

“Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”

O nome comprido, poético e paradoxal pode assustar quem não conhece a história do autor brasileiro (também escritor, jornalista e roteirista). Os que se recusam a ler mais um romance clichê vão se surpreender ao trombar com Cauby e Lavínia em “o amor é sexualmente transmissível” – a primeira parte do livro.

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A trama, a princípio, é contada sob o ponto de vista de Cauby, um jovem fotógrafo paulistano, viajado e apreciador de música clássica. Considerado galã, ele chama atenção pelo estilo despojado e liberal – possui até plantação de maconha no quintal de casa. Cauby levava uma vida financeiramente estável com a fotografia, mas resolve deixar tudo para trás e ir para o norte do país, com a pretensão de viver novas experiências. No interior do Pará, passa a atuar como o único fotógrafo de certa cidadezinha, fazendo bicos para o jornal local e fotografando paisagens.

Sua narrativa mistura passado e presente: entre flashbacks não pontuados, ele conta que, numa dessas observâncias, se deparou com a beleza e o mistério de Lavínia. Bastou uma troca de olhares para a faísca entre eles acender e se alastrar. Ele se encontrou fascinado pela mulher, que, de personalidade forte e humor volátil, era casada com o Pastor da cidade.

O gosto em comum pela fotografia e a paixão intensa, entretanto, acaba por uni-los. Apaixonado, o casal protagoniza cenas tórridas de amor, que transbordam tesão e poesia. Mas, de antemão, o leitor é avisado de que sua história com Lavínia estava fadada ao fracasso. E fracassou. Em meio a esse ardente envolvimento, ainda, a cidade passava por momentos de conflito por uma corrida do ouro: garimpeiros versus donos de garimpo.

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Ademais, Marçal Aquino ainda cria uma obra paralela – ‘O Que Vemos no Mundo: Um Tratado sobre o Amor Humano, de Benjamim Schianberg’ –, lida e citada inúmeras vezes pelo fotógrafo. O leitor, além de ser arrebatado pelo romance, será atiçado pela vontade de ter em mãos os ensinamentos do terapeuta fictício: “Queremos o que não podemos ter, diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor. É normal, saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta, é o quanto cada um quer o que não pode ter. Nossa ração de poeira das estrelas.”

O autor constrói as personagens de forma profunda e poética. Os traços psicológicos perfeitamente detalhados ajudam o leitor a entender atitudes tomadas por cada um deles, e o incita a pensar nas conseqüências de cada ato – sem deixar de torcer pelo famigerado final feliz. A linguagem poética e minimalista prende quem quer que o leia. A cada página, a angústia e a poesia presentes nas linhas só fazem o leitor querer devorar o livro, mas sem a coragem para terminá-lo.

Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios
Editora: Companhia das Letras
Nº de Páginas:  232

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