Você sabe usar vírgulas? Esse tópico gramatical é frequentemente deixado de lado, ainda que seja essencial para uma redação coerente. Tem gente que acha que, para saber usá-las, basta prestarmos atenção na maneira como falamos – a vírgula seria o sinal gráfico de uma pausa na fala. Não é o caso.
“A vírgula é uma marca gramatical que indica um deslocamento sintático”, esclarece Christiana Leal, professora de português e coordenadora do programa de Leitura, Interpretação e Produção Textual do colégio Mopi. “Uma frase que não está na ordem direta (com sujeito, verbo e complementos) precisa de uma marcação na escrita, com algum sinal gráfico, indicando que essa alteração de ordem foi feita”.
Christina explica que a dificuldade maior da vírgula vem da base de conhecimento necessária para que seus usos gramaticais sejam entendidos. “Saber aplicar a vírgula demanda a compreensão de vários outros tópicos gramaticais – como a ordem direta dos termos da oração, o que é um sujeito, o que é um objeto, o lugar do verbo, o que é um adjunto adverbial e seu lugar na oração, etc. São muitas as questões que precisam estar claras para o aluno para que ele consiga aplicar bem a vírgula”, a docente explica.
Mas então, como saber como usar a vírgula? Falar em “deslocamento sintático” é muito amplo, então, vamos pensar em uma lista prática: 3i+o — ou seja: intercalar, isolar, inverter e omitir. Você usa a vírgula para:
- intercalar adjuntos adverbiais (O Congresso, infelizmente, não aprovou o projeto), conjunções (“Penso, logo existo”, Descartes) e expressões explicativas ou corretivas ( A violência social é um fato grave, ou melhor, assustador.).
- inverter adjuntos adverbiais (Naqueles tempos, havia uma maior interação entre as pessoas), objetos pleonásticos antepostos ao verbo (Aos insensíveis, por que não ignorá-los?) e nomes antepostos às datas (Rio de Janeiro, 22 de março de 2017.).
- isolar apostos (São Paulo, considerada a metrópole brasileira, possui um trânsito caótico.) e vocativos ( “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal” Fernando Pessoa) e separar elementos coordenados uns dos outros (“A Mônica explicava pro Eduardo/Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar” Renato Russo ) omitir verbos repetidos, o recurso chamado de elipse (“A praia deserta, ninguém àquela hora na rua.” Autran Dourado).
A professora Christina lembra que a vírgula não é um tópico que tem sido cobrado no enem. “Não é o perfil da prova”, ela ressalta, mas lembra que o uso correto da marca gramatical é muito importante na redação — que tem um peso enorme no exame. “A vírgula pode acarretar perda de ponto na competência 1, que julga a modalidade escrita da língua. Assim, se o candidato separar o sujeito de verbo por vírgula, ele estará cometendo um desvio gramatical e ferindo esta competência”, explica.
Em períodos muito longos, em que a vírgula é usada de forma indiscriminada, a competência quatro, que julga a coesão, pode ser prejudicada. “Assim, já são duas competências comprometidas, o que totaliza 40% da prova. Sem contar que um texto com problemas graves de pontuação também peca em coerência, a competência três”, Christina enumera.
“Como examinadora, se eu tenho dificuldades de entender o texto, até mesmo as outras competências que não tratam diretamente da vírgula serão penalizadas. Isso só corrobora a importância dela na produção textual e na elaboração de uma boa redação”, conclui a professora. Motivos de sobra pra você ficar ligado nas vírgulas da próxima vez, né? 😉