Argo narra episódio com norte-americanos nos primórdios do Irã islâmico
A obra recebeu os prêmios de melhor filme no Oscar 2013 e o melhor na categoria drama, no Globo de Ouro
Apesar de tratar de um fato histórico com desfecho conhecido, a missão do agente secreto Tony Mendez, narrada em Argo, tem a capacidade de deixar os espectadores pregados na tela do começo ao fim. O protagonista é um integrante da CIA (agência central de inteligência dos Estados Unidos) cuja missão é retirar clandestinamente do Irã seis diplomatas norte-americanos no fim da década de 1970. Para isso, Mendez elabora um plano nada ortodoxo: ele viajaria ao país como chefe de uma equipe de filmagem, em busca de locações para um falso filme de ficção científica com o nome de Argo. Na saída do Irã, traria os diplomatas como se fossem os membros de sua equipe de filmagem.
Assistir a Argo dá uma boa ideia da tensão entre Estados Unidos e o governo do Irã à época da Revolução Islâmica, em 1979. Até o ano anterior, o Irã era governado pela ditadura do xá Reza Pahlevi, que havia chegado ao poder em 1953 e se mantinha com apoio aberto do governo norte-americano. Em janeiro de 1979, um movimento popular amplo derruba a ditadura, e o xá foge para os EUA, onde consegue abrigo. Em abril, é declarada a República Islâmica, cujo chefe de Estado é o aiatolá Khomeini (líder religioso supremo), absolutamente hostil ao governo dos Estados Unidos.
Em novembro, agrupa-se uma manifestação em frente à embaixada norte-americana em Teerã, a capital do país, exigindo que o país extraditasse o xá de volta ao Irã, para que fosse submetido a julgamento. Os manifestantes invadem a embaixada e transformam dezenas de funcionários em reféns – em episódio que vai durar 13 meses e marcar a relação entre os dois países. Seis funcionários fogem por uma porta lateral para as ruas da cidade. Nessa hora, começa o filme.
Agindo de improviso, os seis buscam abrigo na casa do embaixador do Canadá. Cria-se uma situação de emergência, pois a atitude do embaixador viola as regras da diplomacia e não poderia ser descoberta. É preciso tirar os funcionários do Irã sem revelar a identidade deles. Mesmo sendo arriscado, o plano apresentado pelo agente Mendez é a única saída encontrada pelas autoridades norte-americanas para enfrentar o problema.
A história manteve-se secreta por mais de duas décadas, tornando-se pública recentemente. Ao assistir a Argo, porém, é importante ter em mente que o filme romantiza os acontecimentos à moda de Hollywood. Seu enfoque do conflito entre os países é, obviamente, pró-norte-americanos. Não se aborda, por exemplo, o asilo dado pelos EUA a um ditador sanguinário como o ex-xá, acusado de crimes em seu país. A obra foi duramente criticada pelo governo do Irã, que considera seu país estigmatizado na fita e promete, em resposta, uma produção sobre o mesmo tema.
Argo recebeu os prêmios de melhor filme no Oscar 2013 e o melhor na categoria drama, no Globo de Ouro.
Argo
DIREÇÃO | Ben Affleck | ANO 2012