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Qual o papel das armas nucleares em conflitos políticos?

Com os conflitos entre Coreia do Norte e Estados Unidos, o papel das armas nucleares voltou a ser debatido. É provável que tenhamos uma guerra nuclear?

Por Louise Enriconi, do Politize!
Atualizado em 7 Maio 2019, 18h49 - Publicado em 30 nov 2017, 19h16
Qual o papel das armas nucleares em conflitos políticos?
(Politize!/Politize!)

 

Qual o papel das armas nucleares em conflitos políticos?
(donfiore/iStock)

Quais os tipos de armas nucleares?

As armas nucleares, também chamadas de bombas atômicas, são armamentos de grande poder destrutivo. Sua força vem de reações nucleares, ou seja, reações que acontecem no núcleo dos átomos, as partículas minúsculas que formam toda matéria existente – objetos, animais, natureza, tudo. Essas reações são provocadas pelos humanos para que liberem grande quantidade de energia – e poder explosivo.

Existem basicamente dois tipos de reações possíveis, que resultam em dois tipos de armas nucleares: por fissão ou por fusão dos núcleos atômicos. Vamos explicar melhor cada um deles.

Fissão Nuclear

Na fissão nuclear, núcleos de elementos pesados, como o urânio e o plutônio, são quebrados em átomos menores, através do bombardeamento com nêutrons – partículas minúsculas que também integram os átomos.

Quando a desintegração ocorre, novos nêutrons são liberados, atingindo os núcleos dos átomos pesados que se encontram a sua volta, resultando em uma reação em cadeia que só terá fim quando todos os elementos pesados já tiverem sido quebrados em átomos menores.

Este tipo de armamento nuclear foi utilizado ao final da Segunda Guerra Mundial, pelos Estados Unidos, contra duas cidades japonesas: Hiroshima e Nagasaki. Na primeira, foi utilizado o urânio e, na segunda, o plutônio. Estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham falecido por consequência de seu uso, tanto no momento da explosão quanto pela radiação liberada.

Fusão Nuclear

Na fusão nuclear, como o nome diz, ocorre quase o oposto que na fissão: os núcleos, ao invés de serem quebrados em elementos menores, juntam-se, formando átomos mais pesados. Do mesmo modo como na fissão, o processo de fusão libera uma enorme quantidade de energia.

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Os elementos mais comuns para a realização de uma fusão nuclear são o hidrogênio e o hélio. Por isso, armamentos nucleares que se utilizam da fusão também são conhecidos como “bombas-H” ou bombas de hidrogênio.

A bomba mais poderosa já testada era deste tipo: a “bomba Tsar”, feita pela URSS em 1961 e cuja força era equivalente a aproximadamente 3,8 mil bombas de Hiroshima.

Qual o papel das armas nucleares em conflitos políticos?
À esquerda, bombardeio em Hiroshima, 6 de agosto de 1945; à direita, em Nagasaki, 9 de agosto de 1945 (Charles Levy/Wikimedia Commons)

O papel das armas nucleares em conflitos políticos

Durante a Guerra Fria, URSS e EUA entraram em uma corrida armamentista, buscando expandir ao máximo seu poder bélico. A corrida incluiu testes e desenvolvimento de armamentos nucleares. Quando a URSS testou sua primeira bomba atômica, em 1949, o perigo de uma guerra nuclear entre as duas superpotências se tornou mais real.

Apesar do medo e tensão que geram, as armas nucleares são consideradas um dos grandes motivos para que a Guerra Fria não tenha se tornado “quente”. Com a perspectiva de destruição mútua, ambos os Estados evitaram um conflito direto durante os mais de 40 anos em que durou o embate. O poder das armas nucleares e seu papel na Guerra Fria – bem como nos conflitos atuais – pode ser resumido em 5 pontos.

Físico

As armas nucleares possuem um enorme poder de destruição. Para termos uma ideia, os mísseis atuais podem transportar mais de 100 vezes o poder explosivo da bomba de Hiroshima. Além disso, as consequências das bombas nucleares ainda são incertas. Alguns afirmam que uma guerra nuclear geraria tanto carbono e poeira na atmosfera que impediria as plantas de realizarem a fotossíntese, acabando com os tipos de vida que conhecemos atualmente.

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Político

Com as armas nucleares, percebeu-se uma desproporção entre os meios militares (possibilidade de destruição total) e todos os fins políticos que o país poderia almejar, ou seja, não existe objetivo político que justifique a possibilidade do país ser totalmente destruído. Essa desproporção ocasionou uma paralisia na utilização da força total durante a Guerra Fria, pois o preço a se pagar para alcançar os objetivos políticos do país era muito grande.

Assim, foi restaurada a guerra limitada (os países não utilizavam todos os seus meios bélicos possíveis), as várias crises substituíram uma única guerra central, a dissuasão (desencorajamento pelo medo) se tornou a estratégia central de ambos e as duas superpotências buscaram ser prudentes, tendo o objetivo em comum de evitar a guerra nuclear.

Equilíbrio de terror

Com as armas nucleares, o poder das superpotências foi equilibrado através do terror. Com isso, queremos dizer que as demonstrações de força eram mais psicológicas do que físicas. As armas nucleares não eram utilizadas, e, portanto, seu poder não era visto, mas o conhecimento de que elas existiam era suficiente para impedir um ataque inicial de ambos os lados.

Esse pode ser chamado de “efeito bola de cristal”. Com as armas nucleares, os líderes de ambos os blocos conseguiam prever o que aconteceria se dessem o primeiro passo: destruição de seu território e milhões de mortes. Assim, calculavam que os custos de iniciar uma guerra direta eram muito altos comparado ao retorno que poderiam ter. O fato é que este equilíbrio de terror, somado ao sistema bipolar, produziu o mais longo período de “paz” entre as potências centrais desde o início do sistema de Estados modernos.

Dissuasão nuclear

Esse tipo de dissuasão remete ao raciocínio de que um não pode impedir o outro de atacar primeiro, mas a retaliação de ambos os lados será tão violenta que nenhum dos dois irá realizar o ataque inicial. Para que a dissuasão seja efetiva, dois elementos devem estar presentes: a capacidade de destruição e a credibilidade de que as armas serão utilizadas. A capacidade de destruição era clara por ambos os lados da Guerra Fria a partir da década de 1950, já a credibilidade varia em cada caso, a depender da importância atribuída ao objetivo.

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Era provável que os Estados se utilizassem das armas nucleares para defender seus próprios territórios, por exemplo, bem como de seus aliados mais próximos. Já em conflitos em que não havia um interesse tão grande, era pouco provável que as armas nucleares fossem realmente utilizadas. Os Estados Unidos, por exemplo, não poderiam impedir a União Soviética de invadir o Afeganistão através da dissuasão nuclear, pois a URSS sabia que os norte-americanos não estariam dispostos a arcar com os custos da retaliação por causa desse território.

Já uma ameaça direta, como a instalação dos mísseis soviéticos em Cuba, tornou mais provável que um ataque nuclear fosse realizado em auto-defesa, aumentando assim a dissuasão nuclear. A credibilidade das ameaças estadunidenses de que utilizariam força nuclear caso os mísseis não fossem retirados talvez tenha sido um dos principais fatores para que a URSS tenha removido seus mísseis, evitando assim um conflito nuclear.

Questões morais

As armas nucleares promovem reflexões morais. Por serem armas de destruição em massa, se utilizadas em grande escala não permitem separar civis de combatentes, por exemplo. Por este motivo, muitos consideram seu uso ou mesmo seu desenvolvimento, imoral.

Se utilizadas em pequena escala, as armas nucleares podem funcionar do mesmo modo que armas convencionais, mas como garantir que a partir desse primeiro ataque e de suas retaliações – principalmente se o Estado atacado também possuir a tecnologia nuclear – não haverá escalada do conflito e destruição total?

Desse modo, é possível que um Estado que utilize armas nucleares em algum conflito sofra grande represália internacional, pelo caráter imoral que muitos atribuem a esses armamentos. Este também pode ser considerado um motivo pelo qual as armas nucleares não foram utilizadas durante a Guerra Fria.

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Destruição em Hiroshima após a bomba de 1945 (Keystone/Getty Images)

Como seria uma guerra nuclear?

Diante dos fatos apresentados e de toda incerteza e insegurança que cerca a utilização de armas nucleares em conflitos, parece quase impossível que ocorra uma guerra nuclear nos próximos anos, certo? Mais ou menos.

Uma guerra nuclear ilimitada e absoluta, ou seja, em que todos os recursos possíveis sejam utilizados – digamos, todo o arsenal de armas nucleares existente hoje – é, realmente, muito pouco provável, posto que teria o potencial de acabar com a vida na Terra como a conhecemos.

No entanto, um cenário mais possível – ainda que improvável – seria a utilização limitada de armas nucleares, em alvos específicos e estratégicos. Como já citamos anteriormente, duas bombas nucleares já foram utilizadas em conflito, com essa mesma característica limitada: em Hiroshima e Nagasaki. Claro que na época a situação era bem diferente: somente os Estados Unidos possuíam armas nucleares, portanto não havia perigo de retaliação.

Hoje, além dos EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha, Índia, Paquistão, Irã e Coreia do Norte possuem a tecnologia. Desse modo, a utilização de armamento nuclear se torna uma questão muito mais delicada, posto que uma resposta de igual tipo e porte pode acontecer mais facilmente

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