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Jerusalém: entenda a disputa entre israelenses e palestinos pela cidade

Decisão dos Estados Unidos de reconhecer a cidade como capital de Israel dificultou ainda mais o entendimento entre israelenses e palestinos

Por Fabio Sasaki
Atualizado em 7 ago 2019, 15h23 - Publicado em 17 Maio 2018, 12h29

Em 2017, os Estados Unidos (EUA) inauguraram a sua nova embaixada em Israel. A representação diplomática foi transferida de Telaviv para Jerusalém. A mudança ocorre cinco meses após o anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. A decisão carrega um forte simbolismo que mexe com os sentimentos nacionalistas de israelenses e palestinos.

Israel considera Jerusalém a sua capital “eterna e indivisível”. Esse status, contudo, não é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), de modo que todos os países que possuem relações diplomáticas com Israel mantêm suas embaixadas em Telaviv. Para acirrar a polêmica, a parte oriental de Jerusalém é reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro Estado. Revoltados com a inauguração da embaixada em Jerusalém, milhares de palestinos protestaram na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza. Pelo menos 58 palestinos morreram e outros 2.700 ficaram feridos.

A seguir, saiba mais sobre a polêmica envolvendo a decisão sobre o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel:

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As motivações de Trump

Formalmente, o governo Trump justificou sua decisão como o reparo de uma injustiça contra Israel, que é a única nação sem ter sua capital reconhecida internacionalmente. Mas suas reais motivações para alterar o equilíbrio em uma das mais complexas disputas geopolíticas em curso no planeta estão relacionadas à própria política interna norte-americana. Durante a campanha eleitoral, Trump obteve o apoio financeiro de grupos que atuam na defesa dos interesses de Israel na política norte-americana – o chamado “lobby pró-Israel”. Portanto, o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel é visto como uma contrapartida às doações feitas pelo lobby israelense à campanha de Trump.

A medida também atende a outra expressiva parcela do eleitorado de Trump, formada por cristãos conservadores. O interesse desse grupo em ver Jerusalém reconhecida como capital israelense atende a questões religiosas. Isso porque muitas denominações evangélicas acreditam que o retorno dos judeus a Jerusalém seria a concretização de uma profecia bíblica relacionada à volta de Jesus Cristo, à luta do bem contra o mal e ao fim do mundo.

No plano externo, alguns analistas entendem que a decisão do presidente possa ter o objetivo de romper com o impasse das negociações entre israelenses e palestinos. Isso porque Trump não se referiu a Jerusalém como cidade unificada, o que ainda mantém a possibilidade de negociar a cessão do lado oriental da cidade aos palestinos. Ao mexer uma peça do jogo em favor de Israel, Trump ainda teria a possibilidade de negociar uma contrapartida por parte dos judeus.

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Ainda que houvesse uma estratégia de negociação por trás dessa iniciativa, a percepção da comunidade internacional é que a decisão de Trump sabotou as negociações de paz. A ONU propõe que Jerusalém tenha um status especial, sem pertencer a nenhum país. Ainda que não haja consenso sobre essa questão, na visão do secretário-geral da ONU, o português António Guterres, qualquer decisão sobre Jerusalém não pode ser tomada de forma unilateral e devem ser acertadas no âmbito das negociações de paz entre israelenses e palestinos.

Além disso, ao tomar partido de Israel, os EUA passam a ser visto como um ator parcial nas negociações, o que os impedem de assumir o protagonismo na mediação do conflito, como vinham exercendo nas últimas décadas.

Histórico de Jerusalém

A disputa por Jerusalém envolve uma das questões mais complexas das relações internacionais. Tanto judeus como árabes reivindicam precedência histórica sobre o território e possuem suas próprias narrativas de perseguição e de pertencimento a Jerusalém. Os primeiros vestígios de ocupação da cidade datam de 5 mil anos atrás, quando povos cananeus se fixaram na região. Segundo relatos bíblicos, os judeus conquistaram Jerusalém por volta de 970 a.C., quando Davi fundou o reino de Israel, embora não haja evidências arqueológicas.

Nos séculos seguintes, a região foi invadida por assírios, babilônios, persas, macedônios e romanos. Foi no Império Romano que Jerusalém e seu entorno recebeu o nome de Palestina, no século I d.C.. Com o surgimento do islamismo e a expansão do Império Árabe, Jerusalém foi conquistada pelos muçulmanos em 638, onde exerceu seu domínio até 1099, ano em que os católicos tomaram a cidade com a chegada das Cruzadas. Menos de um século depois os muçulmanos reconquistaram a cidade, que passou ao domínio do Império Otomano a partir de 1517.

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No século XIX, surgiu o Movimento Sionista, cujo objetivo era criar um “lar nacional” para o povo judeu na Palestina. Gradativamente, a região passou a receber imigrantes judeus, principalmente da Europa Central e Oriental, que fugiam do antissemitismo (discriminação contra os judeus). Com a dissolução do Império Otomano após o fim da I Guerra Mundial, em 1918, a Palestina passou a ser administrada pelo Reino Unido, por meio do Mandato Britânico. Nessa época, apesar de majoritariamente árabe, a Palestina já contava com uma expressiva população judia.

O apoio internacional à criação de um Estado judaico aumentou depois da II Guerra Mundial com a revelação do genocídio de cerca de 6 milhões de judeus nos campos de extermínio nazista, o Holocausto. Em 1947, a ONU aprovou a partilha da Palestina em dois Estados: um para os judeus, com 53% do território, outro para os árabes, com 47%. Dessa forma, em 14 de maio de 1948, foi criado o Estado de Israel.

A partilha não foi aceita pelos países árabes, que atacaram Israel para tentar impedir a sua fundação. Mesmo com um exército mais numeroso, Egito, Síria, Transjordânia (atual Jordânia), Iraque e Líbano foram derrotados por Israel em poucos meses. Com a vitória, o novo Estado ampliou seus domínios em relação às fronteiras originais aprovadas pela ONU, passando a ocupar 75% da Palestina.

Veja também>> Israel completa 70 anos

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Jerusalém: cidade sagrada para islã, judaísmo e cristianismo

A disputa pelo controle político de Jerusalém possui um forte componente religioso. Isso porque a cidade abriga alguns dos locais mais sagrados para as três principais religiões monoteístas do planeta: o islamismo, o judaísmo e o cristianismo.

Na cidade velha de Jerusalém fica uma área que é conhecida pelos muçulmanos como Esplanada das Mesquitas, onde foram erguidos a mesquita Al Aqsa e o Domo da Rocha, dois dos lugares mais sagrados para o islã. Além disso, os muçulmanos creem que foi a partir desse local que o profeta Maomé chegou aos céus.

Essa mesma área recebe outro nome pelos judeus: Monte do Templo. Ali fica o Muro das Lamentações, o lugar mais reverenciado pelos judeus por ser a única estrutura que restou do Templo de Salomão, local de culto judaico, erguido para guardar as tábuas originais dos dez mandamentos, mas que foi destruído no século I pelo Império Romano.

Por fim, os cristãos, que não se envolvem na disputa pelo controle de Jerusalém, também possuem um lugar de culto. Na cidade velha encontra-se o Monte Gólgota, que abriga a Igreja do Santo Sepulcro – lugar onde, de acordo com a fé cristã, Jesus foi sepultado.

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Para saber mais sobre o tema:

Crônicas de Jerusalém: HQ de Guy Delisle

Palestina: HQ de Joe Sacco

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