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Entenda a história da ocupação da Armênia pela Turquia

Cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram e outras milhares foram obrigadas a deixar sua terra natal

Por Camila Luz, do Politize!
Atualizado em 31 jul 2018, 11h57 - Publicado em 3 abr 2018, 07h00
Entenda a história da ocupação da Armênia pela Turquia
(Politize!/Politize!)

Entre 1915 e 1918, o governo da Turquia foi responsável por um dos maiores massacres do século 20: o genocídio armênio. Cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram e outras milhares foram obrigadas a deixar sua terra natal. A ocupação turca dominou a parte ocidental da Armênia, dizimando também relíquias culturais de mais de três mil anos de história.

As consequências da ocupação da Armênia pela Turquia não são reconhecidas por todos os países como um genocídio. O Brasil, por exemplo, ainda não o fez. Por outro lado, a ONU (Organização das Nações Unidas) e o Parlamento Europeu já o fizeram. Vamos entender melhor esses três anos de história?

BREVE HISTÓRIA DA ARMÊNIA

Durante três mil anos, uma próspera comunidade armênia existiu dentro da vasta região do Oriente Médio, cercada pelos mares Negro, Mediterrâneo e Mar Cáspio. A área, conhecida como Ásia Menor, está na encruzilhada de três continentes: Europa, Ásia e África. Ao longo dos séculos, a região foi governada por diferentes povos, como persas, gregos, romanos, bizantinos, árabes e mongóis.

Apesar das repetidas ocupações, a Armênia conservou sua identidade cultural e seu patriotismo. A nação surgiu em 600 a.C., dando início a uma era de paz e prosperidade, marcada pelo invenção de um alfabeto e florescimento da literatura, arte, comércio e arquitetura. Em 301 d.C., foi o primeiro país no mundo a adotar o cristianismo como religião oficial – antes mesmo de Roma.

A primeira invasão turca na Armênia ocorreu no século 21. A partir de então, a nação ficou sob o domínio do poderoso Império Turco-otomano. No entanto, nos anos 1800, os exércitos turcos começaram a perder força e a sofrer constantes derrotas para os europeus. Pouco a pouco, gregos, sérvios, romenos e outros povos conquistaram sua aguardada independência.

Na década de 1890, os jovens armênios passaram a exigir reformas políticas, pedindo um governo constitucional, com direito de voto, e o fim das práticas discriminatórias. O sultão turco começou a reprimir as iniciativas, estimulando algumas cidades a organizar autodefesas. Em Sassun, por exemplo, partidários do partido político “Henchakian” disseminavam ideias de autonomia e resistência. Na época, os armênios ainda pagavam impostos especiais para os turcos simplesmente por serem cristãos. Em resposta às exigências, foram brutalmente perseguidos. Estima-se que mais de 100 mil habitantes tenham sido massacrados neste massacre entre 1894 e 1896, antes do genocídio.

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GOVERNO JOVENS TURCOS

Até 1908, o Império Turco-otomano era governado por sultões que concentravam os poderes em suas mãos. Em julho daquele ano, nacionalistas turcos conhecidos como “Jovens Turcos” forçaram o sultão Abdulhamid II a abdicar, permitindo a criação de um governo constitucional que garantiria direitos básicos. Os Jovens Turcos eram oficiais subalternos do exército que tinham o objetivo de conter o declínio constante do seu país.

O novo governo foi conduzido pelo sultão Mehmed V, que tinha pouquíssimos poderes políticos reais. A princípio, os armênios acreditaram que aquela virada política significaria um futuro melhor. No entanto, suas esperanças caíram por terra quando três integrantes dos Jovens Turcos (Mehmed Talaat, Ismail Enver e Ahmed Djemal) deram um golpe em 1913, assumindo o controle total do governo. Eles queriam unir todos os povos sob seu domínio em uma região, além de expandir as fronteiras da Turquia para o leste em todo o Cáucaso e Ásia Central.

A Armênia, em especial sua região histórica ocidental, ficava no caminho dos planos turcos de expansão para o leste. As desavenças entre as nações eram claras: a relação entre os dois povos foi se enfraquecendo cada vez mais por diferenças culturais e religiosas, sendo que extremistas islâmicos da Turquia provocavam ondas de violência contra os católicos, por exemplo. Além disso, os armênios estavam abertos para reformas políticas e econômicas, apoiando a democracia e o liberalismo. Os líderes turcos, por outro lado, davam pouco valor à educação e não estavam alinhados com as novas ideias que floresciam no Ocidente.

A OCUPAÇÃO PELA TURQUIA E O GENOCÍDIO NA ARMÊNIA

Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914, o Governo Jovens Turco adotou uma política de Pan turquismo para finalmente restabelecer o poder do Império Turco. O objetivo era “turquificar” todos os povos, unificado-os. O conflito foi a oportunidade perfeita para resolver a questão da Armênia e eliminar aquele “obstáculo”.

O extermínio da população armênia começou ainda em 1914, mas a situação ficou realmente grave a partir de 24 de abril de 1915, quando centenas de intelectuais foram presos e mortos. Na segunda fase do massacre, jovens foram recrutados pelo exército turco e, mais tarde, exterminados pelos próprios colegas.

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Por fim, na fase final, mulheres, crianças e idosos foram conduzidos para centros de realocação em desertos estéreis da Síria e Mesopotâmia. Aqueles que não foram aniquilados na própria Armênia padeceram com a fome, a sede e a epidemia de doenças. Milhares de pessoas foram violadas. Muitos dos armênios sobreviventes foram forçados a adotar o islamismo. Já as crianças que sobreviveram ao massacre foram separadas dos pais e criadas como turcas.

Estima-se que ao menos 1,5 milhões de armênios morreram entre 1915 e 1923. No início da Primeira Guerra Mundial, havia cerca de dois milhões vivendo no Império Otomano. Os massacres e expulsões foram conduzidos pelos nacionalistas turcos e por outras figuras importantes do governo.

RECONHECIMENTO DO GENOCÍDIO ARMÊNIO

Entenda a história da ocupação da Armênia pela Turquia
Memorial Tzitzernakaberd, em Yerevan, dedicado às vítimas do genocídio armênio (Ozbalci/iStock)

O termo “Genocídio” foi criado pelo advogado judeu polonês Raphael Lemkin em 1944, cuja família foi vítima do Holocausto. Além de fazer referência ao assassinato em massa dos judeus, Lemkin também procurava descrever as atrocidades cometidas contra os armênios a partir de 1915.

A palavra “genocídio” é a combinação do termo grego geno-, que significa “raça ou tribo”, com a palavra latina -cídio, que significa “matar”. Lemkin definiu a expressão como um “plano coordenado, com ações de vários tipos, cujo objetivo é a destruição dos alicerces fundamentais da vida de grupos nacionais para aniquilá-los”.

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Em 9 de dezembro de 1948, a ONU aprovou a “Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio”, considerando-o um crime internacional que deve ser combatido por todos os países membros. Além da Organização Internacional dos Direitos Humanos, instituições como o Mercosul, a Corte Internacional de Justiça e a Associação Internacional dos Estudiosos do Genocídio já reconheceram que o massacre armênio trata-se de um genocídio.

Além da própria Armênia, os primeiros países a fazer o mesmo foram a Grécia e o Canadá, em 1996. Hoje, mais de 20 países já reconhecem o genocídio armênio, além de 42 dos 50 estados dos Estados Unidos.

A polêmica gira em torno da possível premeditação dos atos de extermínio. O artigo número 2 da Convenção de Viena sobre Genocídio, de dezembro de 1948, o descreve como atos com o objetivo de “destruir, parcial ou totalmente, um grupo étnico, racial, religioso ou nacional”. Isto é, se for premeditada com esses objetivos, o massacre se caracteriza como um genocídio. Ainda que muitos historiadores e políticos considerem que as atrocidades contra os armênios foram calculadas, as autoridades turcas argumentam que nunca houve uma tentativa sistemática de destruir aquela nação. O governo do país diz que muitos muçulmanos inocentes também morreram durante a guerra.

Em 2015, o Senado Brasileiro reconheceu o Genocídio Armênio, pressionando o Governo Federal a fazer o mesmo. Por enquanto, apenas algumas cidades e estados brasileiros o reconhecem, como a capital paulista, Campinas e o estado do Paraná. Veja aqui a lista.

O FIM DO MASSACRE ARMÊNIO

Os armênios resistiram ao extermínio total, adquirindo armas e lutando contra os turcos. A invasão foi finalmente repelida na batalha de Sadarabad, em 1918. Após essa vitória, líderes do país declararam o estabelecimento da República Independente da Armênia.

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A Primeira Guerra Mundial terminou no mesmo ano com a derrota da Alemanha e dos poderes centrais, incluindo a Turquia. Pouco antes do fim do conflito, os líderes dos Jovens Turcos (Talaat, Enver e Djemal) fugiram para terras alemãs, onde receberam asilo.

Além da eliminação dos armênios, os turcos destruíram boa parte do patrimônio cultural da Armênia, incluindo obras de arte, construções, antigas bibliotecas e arquivos. Cidades inteiras foram destruídas. Após o extermínio, a Armênia entrou em uma fase de reconstrução. O Museu e Instituto do Genocídio Armênio, fundado em 1995, é a principal instituição dedicada à pesquisa e reconhecimento do genocídio no mundo todo.

Este artigo foi publicado originalmente no Portal Politize

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