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Donald Trump e a rejeição à globalização

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, durante campanha eleitoral em Dallas, Texas (foto: Tom Pennington/Getty Images) Contrariando quase todas as projeções, Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos (EUA) após a votação realizada em 8 de novembro. Para perplexidade mundial, o republicano, que causou polêmica durante a campanha com um discurso xenófobo, racista […]

Por Fabio Sasaki
Atualizado em 24 fev 2017, 14h06 - Publicado em 11 nov 2016, 11h37
Donald Trump e a rejeição à globalização

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, durante campanha eleitoral em Dallas, Texas (foto: Tom Pennington/Getty Images)

Contrariando quase todas as projeções, Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos (EUA) após a votação realizada em 8 de novembro. Para perplexidade mundial, o republicano, que causou polêmica durante a campanha com um discurso xenófobo, racista e misógino, derrotou a candidata democrata Hillary Clinton, favorita nas pesquisas.

A candidatura de Trump mostrou ter um apelo grande entre o eleitorado branco, de classe média, sem ensino superior. Trata-se de um dos estratos da população norte-americana que mais foi afetado economicamente nos últimos anos, com o achatamento da renda e a falta de perspectivas de ascensão social.

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Nesse sentido, o discurso populista de Trump soou como música para os ouvidos desses eleitores. Durante sua campanha, o agora presidente eleito culpou os imigrantes e as parcerias comerciais com outros países pelas mazelas econômicas no país. Dessa forma, Trump propõe uma série de ações que ameaçam uma ruptura com o atual sistema, que os EUA ajudaram a moldar e por meio do qual consolidaram sua hegemonia mundial: a globalização.

Tema sempre presente nos vestibulares e no Enem, a globalização enfrenta uma série de contestações no mundo desenvolvido, que se manifestam não apenas na eleição de Trump, mas também no plebiscito que iniciou o processo de saída do Reino Unido da União Europeia – o Brexit.

Por isso, é importante entender de que forma a vitória de Trump pode abalar quatro dos principais pilares da globalização:

1. A livre circulação de pessoas

O discurso anti-imigratório foi um dos pontos mais polêmicos na campanha presidencial de Trump. O republicano prometeu deportar os 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem nos EUA, erguer um muro na fronteira sul do país para impedir a entrada de mexicanos e barrar o ingresso de muçulmanos no país.

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Na visão do presidente eleito, os estrangeiros competem com os norte-americanos pelos postos de trabalho nos EUA, e a sua expulsão seria uma forma de combater o desemprego. Já os muçulmanos são considerados por Trump potenciais terroristas que devem ser impedidos de entrar no país. Embora a forma como o governo lida com os estrangeiros que vivem no país sempre tenha sido um tema sensível, Trump aponta o dedo diretamente para os imigrantes culpando-os pelas mazelas econômicas dos EUA. Dessa forma, ele se une a um movimento bastante forte na Europa ao se contrapor a um dos elementos mais frágeis da globalização: a livre circulação de pessoas.

2. Os acordos comerciais

Os acordos comerciais são outro componente essencial da globalização. Com o objetivo de estimular as trocas comerciais, os países se unem em blocos econômicos, que reduzem ou eliminam as barreiras alfandegárias. Com isso, as mercadorias ficam mais baratas no comércio entre os países-membros, tornando suas economias mais integradas.

Desde 1994, os EUA fazem parte do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), com o México e o Canadá. Em 2015, o país assinou um acordo para criar a maior área de livre comércio do mundo, o Acordo Transpacífico (TPP), que inclui 12 nações e somam 40% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. O acordo ainda depende de aprovação parlamentar dos países-membros para entrar em vigor

Durante sua campanha, Trump disse que irá rever os termos do acordo com os EUA com o Nafta e irá retirar o país do TPP. Por trás desse discurso, está a alegação de que, ao facilitar as importações, esses acordos prejudicam setores essenciais da economia – no caso dos EUA, principalmente a indústria. Isso leva muitas empresas a fecharem as portas e a demitir funcionários.

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3. A Divisão Internacional do Trabalho

A globalização e os avanços tecnológicos impuseram uma nova Divisão Internacional do Trabalho. As companhias transnacionais, muitas delas com sede nos EUA, passaram a montar fábricas para produzir em países mais pobres, transferindo empregos para lugares como China, México, Coreia do Sul, Indonésia, Tailândia e Brasil. Essas empresas são atraídas pela maior oferta de matéria-prima e energia, mão-de-obra mais barata e isenções fiscais.

Dessa forma, muitas empresas transnacionais distribuem seu processo produtivo por todo o globo. Um carro, por exemplo, pode ter o seu motor feito num país, o chassi em outro, os acessórios num terceiro e ser montado em outra nação, mais próxima dos mercados consumidores.

Para Trump, esse modelo foi responsável pelo fechamento de diversas fábricas no país, prejudicando a geração de empregos na indústria. Diante deste cenário, o presidente eleito prometeu que irá cobrar mais impostos das empresas que decidirem migrar para o exterior, tentando impor restrições a essa divisão internacional do trabalho que se consolidou com a globalização.

4. O processo de integração internacional

A globalização também é caracterizada pela maior integração entre as nações. Instâncias multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) servem de palco para a deliberação conjunta de medidas de interesse internacional. E os EUA, na condição de maior potência econômica e militar do planeta, exerce o papel de fiador desse sistema internacional de nações. Sua liderança têm permitido ao país e muitos de seus aliados extrair diversos benefícios econômicos da globalização, fortalecendo suas empresas com atuação internacional e as instituições financeiras. No campo militar, a postura intervencionista dos EUA tem como propósito manter o equilíbrio das rivalidades regionais, evitando que a hegemonia de alguma nação possa ameaçar a sua própria liderança mundial.

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Sobre o processo de integração mundial, Trump disse: “Nós não deixaremos mais este país ou o seu pavo cair no falso canto do globalismo. Eu sou cético em relação a uniões internacionais que prejudicam os EUA”, disse o republicano.

Conforme abordado nos tópicos anteriores, Trump propõe medidas protecionistas na economia, que têm por objetivo fechar o país ao comércio internacional.

Já no plano geopolítico, sua agenda também tem um caráter isolacionista. Durante a campanha, Trump deixou claro que sua política externa será moldada a partir do lema “America First” – ou seja, os interesses norte-americanos em primeiro lugar. Dessa forma, Trump quer restringir a abrangência das parcerias militares com aliados históricos. Ele alega que os EUA gastam muito repassando ajuda financeira a parceiros históricos como Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita.

Outra possível ruptura tem como alvo alguns acordos internacionais firmados pelo atual presidente Barack Obama. O Acordo de Paris, assinado por todos os membros da ONU em dezembro passado e que entrou em vigor neste mês, impõe limites às emissões de gases do efeito estufa para os próximos anos. Trump é cético em relação ao aquecimento global e pode ignorar os termos do Acordo de Paris. Já a reaproximação com o Irã e com Cuba também corre risco – Trump já ameaçou romper com o acordo que restringiu o alcance ao programa nuclear iraniano e é evasivo quanto ao processo que levou EUA e Cuba a reatarem as relações diplomáticas no ano passado.

 

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