5 fatos para entender a violência no Brasil
O Brasil é um país violento. Para chegar a esta constatação não é necessário muito esforço. Basta acompanhar os casos que a mídia expõe diariamente. Às vezes, a nossa a própria experiência nos encarrega de lembrar disso – afinal, quem já não foi vítima ou conhece alguém que sofreu algum tipo de violência?
Mesmo sabendo que vivemos em um país extremamente violento, um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) ajuda a dar uma dimensão mais precisa sobre o problema.
Veja a seguir algumas informações extraídas do Atlas da Violência que não deixam dúvidas sobre a ameaça da violência em nossa sociedade.
1. O Brasil é o país com o maior número de assassinatos no mundo
Em 2014, o Brasil registrou 59.627 homicídios. Para entender a enormidade desse número, isso significa que 13% dos assassinatos do mundo aconteceram aqui em solo nacional. A taxa é a maior já registrada no Brasil e colocou o país como recordista mundial em número absoluto de homicídios.
Em termos relativos, são 29,1 mortes para cada 100 mil habitantes, uma das maiores do mundo também. O índice é quase três vezes maior que a taxa considerada epidêmica – aquelas acima de 10.
2. A violência está migrando das capitais para o interior
Engana-se quem acha que a violência é um fenômeno que atinge principalmente as grandes metrópoles. Nos últimos anos, as taxas de homicídio estão crescendo com maior velocidade nas cidades do interior do país. As microrregiões de Senhor do Bomfim, Serrinha e Santo Antônio de Jesus – todas na Bahia – apresentaram um aumento de mais de 800% no número de assassinatos entre 2004 e 2014.
Segundo o Atlas da Violência, o número de homicídios tem avançado especialmente no Nordeste. Os seis estados que apresentaram 100% de aumento na taxa de homicídio entre 2004 e 2014 são da região – Ceará, Sergipe, Paraíba, Bahia, Maranhão e Rio Grande do Norte, este último com um aumento de 308,1%.
3. Homem, jovem, negro e pouco escolarizado: este é o perfil da vítima de homicídio
O pico de homicídios para os homens ocorre aos 21 anos. Com esta idade, pretos e pardos possuem 147% mais chances de serem assassinados em relação a indivíduos brancos, amarelos e indígenas. Além disso, enquanto a taxa de homicídio de negros entre 2004 e 2014 aumentou 18,2%, o mesmo indicador para não negros diminuiu 14,6%.
O fator escolaridade também interfere nas taxas de homicídio. As chances de uma pessoa com até sete anos de estudo sofrer homicídio são 15,9 vezes maiores do que as de quem cursou o ensino superior.
4. De cada quatro assassinatos no Brasil, três são causados por armas de fogo
A difusão das armas de fogo influencia diretamente no número de homicídios no país. Em 2014, 44.861 pessoas foram assassinadas em decorrência do uso de armas de fogo. Este número representa 76,1% do total de homicídios ocorrido no Brasil. Para efeito de comparação, na Europa esta taxa é de 21% em média.
Mesmo com o Estatuto do Desarmamento, que tem como objetivo impor restrições à posse de armas de fogo, nota-se que os homicídios continuam em alta. Mas um estudo do Atlas da Violência aponta que sem o Estatuto do Desarmamento, o número de assassinatos seria ainda maior.
5. A polícia mata muito – e também morre muito
A violência da polícia brasileira, principalmente sua letalidade no policiamento preventivo e no combate à criminalidade, chama a atenção. Segundo o Atlas da Violência, em 2014, 3.009 pessoas morreram assassinadas em ações das polícias Civil e Militar em todo o país – um aumento de 27% em relação ao ano anterior. O número é considerado elevado nas comparações internacionais, evidenciando o uso abusivo da força letal como resposta pública ao crime e à violência. Os Estados que apresentaram o maior número de mortes por intervenções policiais são Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.
Além de matar muito, a polícia também é vítima. Em 2014, 398 policiais foram mortos – quase 25% deles só no Rio de Janeiro. Especialistas creditam estes números elevados, tanto de mortes por policiais como de agentes mortos, à política de segurança baseada na lógica do enfrentamento e do confronto direto.