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10 passos para entender o “toma lá, dá cá” na política brasileira

Congresso Nacional (fonte: iStock) A poucas semanas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o PMDB decidiu encerrar a aliança com o governo do PT no dia 30 de março. O PMDB era o maior partido da base aliada do governo. Além de ter controlado cerca de 600 cargos na administração […]

Por Fabio Sasaki
Atualizado em 24 fev 2017, 15h11 - Publicado em 31 mar 2016, 14h26
10 passos para entender o “toma lá, dá cá” na política brasileira

Congresso Nacional (fonte: iStock)

A poucas semanas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o PMDB decidiu encerrar a aliança com o governo do PT no dia 30 de março.

O PMDB era o maior partido da base aliada do governo. Além de ter controlado cerca de 600 cargos na administração federal e sete ministérios durante a parceria, a sigla ainda possui a maior bancada no Congresso, com 69 deputados e 18 senadores, e pode ser o fiel da balança para definir a permanência ou a saída de Dilma. O PMDB também é o partido do vice-presidente Michel Temer – é ele quem assume no caso de Dilma perder o cargo em um processo de impeachment.

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Desde o final da ditadura militar em 1985, o PMDB desempenha papel central na política brasileira, ocupando cargos de primeiro escalão em todos os governos federais após a redemocratização, independentemente da posição ideológica do partido que está no poder.

Um dos fatores que explica esta relação do PMDB e de outros partidos com o Poder Executivo é o chamado fisiologismo.

Entenda como esta prática do “toma lá, dá cá” funciona e por que o problema vem se perpetuando no atual sistema político brasileiro:

1. No jogo institucional entre o Poder Executivo e o Congresso Nacional, fala-se de alianças e composições entre o partido do governo e outras siglas para formar uma base aliada.

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2. No caso do governo federal, essa prática é chamada de presidencialismo de coalizão – o governo busca manter uma maioria parlamentar no Congresso Nacional para conseguir aprovar os seus projetos.

3. O que justificaria estes acordos seria a governabilidade, ou seja, o presidente busca condições estáveis na relação com o Poder Legislativo, de forma a governar sem sobressaltos. Isso foi o que fizeram todos os governos desde o regime militar, encerrado em 1985.

4. Nesses casos, os partidos que compõem a base aliada exigem algo em troca do apoio ao governo. Esse “algo”, nas negociações políticas, costuma ser cargos estratégicos na máquina pública – de diretorias de estatais, como a Petrobras, a ministérios. É o chamado loteamento dos cargos públicos.

5. Trata-se de um mecanismo que deveria ser normal. Afinal, se partidos se aliam para disputar eleições, supostamente compartilham ideias e projetos em comum, que são sistematizados em um programa de governo. Portanto, nada mais natural do que dividir a responsabilidade por coordenar a ação governamental.

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6. Na prática, porém, as alianças políticas se formam sem uma base clara de programa. São muitas as eleições nas quais inimigos se unem por conveniência, em acordos visivelmente sem princípios. É o chamado fisiologismo, usado por governos com o intuito de obter maioria no Legislativo e poder aprovar as leis de que necessitam para governar. Em outras palavras, o Executivo faz uma barganha: oferece cargos na administração pública a partidos e em troca recebe apoio para as propostas do governo.

7. O fisiologismo substitui o debate de projetos, que deveria nortear a atuação do Parlamento e sua relação com o Poder Executivo, por uma troca de favores. Essa prática leva ao chamado clientelismo – quando um político encaminha projetos de importância duvidosa, só para favorecer indivíduos ou pequenos grupos. Isso facilita a corrupção, seja para fins pessoais, seja para arrecadação de dinheiro para partidos.

8. O fisiologismo de muitos políticos brasileiros, a falta de distinção ideológica e programática clara entre os partidos e questões quanto à real representatividade do Poder Legislativo são alguns dos fatores que estimulam a pressão pela reforma política.

9. Se o governo quiser promover uma reforma política para alterar o sistema atual, precisará apresentar um projeto para votação no Congresso. E, para isso, deverá contar com uma base aliada sólida que lhe garanta os votos necessários para a aprovação.

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10. Mas como a maioria dos deputados e senadores que compõem o Congresso se beneficia do atual sistema, não há interesse concreto em aprovar uma reforma política que rompa com seus privilégios. E, dessa forma, o fisiologismo se perpetua na política brasileira.

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