Entenda as razões econômicas da crise na Venezuela
País enfrenta cenário de recessão e aumento da pobreza, com inflação galopante e falta de produtos básicos nos supermercados
A Venezuela vem enfrentando uma onda de protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro que deixou pelo menos 32 mortos nos últimos dias. As manifestações ganharam força após a decisão da Suprema Corte do país de assumir as funções da Assembleia Nacional, em 30 de março. O tribunal considerou que o Congresso agia em desacato por manter três deputados suspensos por suspeita de fraude eleitoral. A medida foi revogada dias depois, mas o episódio serviu de combustível para inflamar as manifestações da oposição contra o governo de Maduro.
No dia 3 de maio, Maduro entregou ao Conselho Nacional Eleitoral o decreto de convocação de uma nova Assembleia Constituinte. O objetivo do presidente é alterar a Constituição do país, promulgada em 1999. A oposição acusa Maduro de manobrar para formar uma Assembleia repleta de representantes de seu grupo de apoio.
Além do do quadro de polarização política, os protestos têm origem na grave crise econômica enfrentada pelo país. A Venezuela enfrenta um cenário de recessão e aumento da pobreza. A taxa de inflação está acima de 800% ao ano e faltam itens básicos nos supermercados, como alimentos, produtos de higiene e remédios.
Confira a seguir as quatro principais causas da crise econômica na Venezuela:
1. Dependência do petróleo
O petróleo responde sozinho por 96% das exportações da Venezuela. Durante a presidência de Hugo Chávez, entre 1999 e 2013, o governo conseguiu financiar diversos programas sociais que reduziram a pobreza e a desigualdade no país graças à bonança do petróleo, cujo valor atingira preços recordes no período.
No entanto, a queda recente no valor do barril de petróleo, que caiu de 120 dólares em 2008 para menos de 50 dólares a partir de 2014, afetou em cheio a economia venezuelana. Sem essa fonte de recursos, o governo perdeu a capacidade de importar muitos itens de necessidade básica e reduziu os investimentos sociais. Em uma economia mais diversificada, o país não ficaria tão vulnerável à flutuação do preço do petróleo.
2. O controle de preços
Uma outra ação tomada ainda durante o período do governo Chávez impediu o desenvolvimento de um setor empresarial mais dinâmico: o controle de preços. Adotado inicialmente como medida paliativa para conter a inflação e garantir que a população mais pobre tivesse acesso a produtos essenciais, o congelamento se prolongou por muitos anos sem resolver o problema.
Pior: a medida acabou desestimulando os investimentos da iniciativa privada, uma vez que, em muitas situações, os itens acabavam sendo vendidos a preços inferiores aos custos de produção. Consequentemente, os produtos sumiram das prateleiras, gerando a atual crise de abastecimento.
3. O controle sobre o câmbio
O controle do Estado sobre o câmbio, adotado desde 2003 com o objetivo inicial de impedir a fuga de dólares do país e controlar a inflação, também desestruturou a economia. Esse complexo sistema funciona assim: o governo mantém duas taxas de câmbio, uma delas com a cotação do dólar mais barata para ser utilizada apenas na importação de insumos de primeira necessidade.
O problema é que boa parte desses dólares é desviada ilegalmente por militares e membros do governo, que os revendem no mercado paralelo, cuja cotação chega a ser 100 vezes maior que o câmbio oficial. Essa medida não apenas alimenta a corrupção, como provoca uma escassez de moeda estrangeira que deveria ser utilizada para os investimentos no setor produtivo, agravando o problema de abastecimento.
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4. A tensão política
A polarização política no país também produz seus efeitos na economia. A tensão entre governo e oposição praticamente paralisa o país e impede adoção de medidas necessárias para superar a crise. Enquanto o governo prioriza a manutenção do poder em vez de privilegiar ações de estímulo econômico, a oposição se faz valer da crise para obter ganhos políticos. Maduro acusa os líderes oposicionistas de cooptar empresários para reter os seus produtos e agravar o desabastecimento dos supermercados.