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Por que o TikTok é o novo capítulo da guerra comercial EUA x China

Donald Trump disse que uma empresa americana deveria comprar o aplicativo chinês. Veja como a disputa afeta o mundo todo

Por Letícia Albuquerque
Atualizado em 23 ago 2020, 21h46 - Publicado em 19 ago 2020, 21h07

Resumo:

A disputa entre o governo dos Estados Unidos e os aplicativos chineses tem se tornado uma questão geopolítica importante mundialmente. Na sexta-feira, dia 6, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou duas ordens executivas para banir os apps TikTok e WeChat do país em 45 dias. 

O acontecimento vem logo após o governo anunciar diversas preocupações em relação ao compartilhamento de dados de usuários entre os aplicativos e o governo chinês. Do outro lado, a China acusa o governo americano de “intimidação pura e simples”.

Entenda por que os EUA querem banir o TikTok e como isso pode influenciar no resto do mundo.

Disputa de dados 

Assim como outros aplicativos e redes sociais, o TikTok tem acesso às informações de todos os usuários que fazem o seu download. De acordo com uma pesquisa do The Washington Post, a localização do usuário, o sistema operacional do celular usado e, se o usuário der permissão, idade, número de telefone e contatos do telefone são coletados. Porém, a reportagem também aponta que o TikTok não parece coletar mais dados que outras redes sociais.

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A preocupação dos governos, então, volta-se a outro motivo. O TikTok pertence à empresa chinesa ByteDance, criada pelo engenheiro de software Yiming Zhang. Uma lei de 2017 afirma que todas as empresas nacionais precisam cooperar com o governo caso ele precise de informações. Isso preocupa autoridades de diversos países de que os dados estariam à disposição do Partido Comunista Chinês.

O TikTok alega que, por suas bases de dados estarem localizadas em Los Angeles, nos EUA, e em Singapura, ele estaria livre da obrigação de compartilhar informações com o governo chinês. Essa é apenas uma das tentativas da empresa para se distanciar das autoridades de Pequim. Ainda este ano, a companhia nomeou como CEO (Chief Executive Officer) o americano Kevin Mayer, que antes trabalhava na Disney. E, ainda, suspendeu suas atividades em Hong Kong após a promulgação da lei de segurança nacional, que restringe as liberdades na região autônoma.

Porém, em 2019, o aplicativo se meteu em algumas polêmicas envolvendo o ocultamento de conteúdos de oposição ao governo chinês, como os gerados pela minoria muçulmana que vive na província de Xinjiang. O caso cria fundamentos para a preocupação do governo dos EUA.

Trump alega que os dados só ficariam seguros caso a plataforma fosse vendida. “Uma companhia muito segura, muito americana tem que comprá-lo”, anunciou. É importante lembrar, porém, que o Facebook, uma rede social americana, se envolveu em uma série de polêmicas por venda de dados à empresa Cambridge Analytica. A consultoria britânica, que trabalhou na campanha presidencial de Trump, comprou dados não-autorizados de até 50 milhões de usuários do Facebook, rompendo normas da rede social.

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Guerra Fria 2.0

As sérias acusações ao TikTok vêm na sequência de uma longa guerra comercial envolvendo EUA e China. De acordo com Israel Mielli, professor de Geografia do colégio Anglo 21, de São Paulo (SP), “já tem muitos pesquisadores que, há alguns anos, estão chamando essa tensão de Guerra Fria 2.0”. 

Diferentemente da Guerra Fria do século 20, entre EUA e União Soviética, a disputa atual não giraria mais em torno da questão bélica e da corrida espacial. Mas, sim, da tecnologia de telecomunicações. “Especificamente agora, também estamos falando de uma disputa tecnológica por mercados”, comenta o professor de Relações Internacionais Pedro Brites, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

A disputa é marcada pela chamada 4ª Revolução Industrial, também chamada de indústria 4.0, que se caracteriza pelo uso de tecnologias de automação e troca de dados. Entre os avanços estão as tecnologias de computação em nuvem e internet das coisas. Isso está ligado ao desenvolvimento da internet 5G, que causará um grande impacto em nossas vidas. Segundo Israel, essa tecnologia vai ser fundamental para a automatização das fábricas, aumentando a produtividade com baixo custo.

Dessa forma, a imposição do presidente americano pela venda da atuação global do TikTok (fora da China) também pode fazer parte de um novo momento da guerra comercial. O professor da FGV explica: “por muito tempo, os EUA não tinham concorrentes, então essa é uma tentativa de quebrar o avanço das empresas chinesas, como Huawei e TikTok”. 

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Para onde isso vai?

O processo de banimento pegou o TikTok de surpresa. Em um comunicado da empresa, as ordens executivas foram emitidas “sem o devido processo legal”. Eles afirmam ainda que, há um ano, vêm tentando fornecer soluções construtivas, como a disponibilização do algoritmo do aplicativo em seu Centro de Transparência, algo raro entre as empresas de software privado. 

Enquanto isso, a China acusa o governo americano de violar os princípios do livre comércio estabelecidos pela Organização Mundial do Comércio (OMC). De fato, a atitude movida em Washington passa por cima de um discurso previamente defendido pelo país desde a Guerra Fria. “Faz parte de um discurso que os EUA, ao longo da história recente, defenderam. Mas, na prática, eles não precisavam lidar com esses desafios, eles não eram ameaçados”, afirma Pedro. O cenário, agora, é outro. “Poderíamos dizer que, sim, cria um pouco de hipocrisia nas ações americanas, mas é condizente com o perfil do país de buscar manter-se como o principal líder internacional”, finaliza.

Com tudo isso, a atuação do TikTok fica ameaçada. Se forem banidos dos EUA, eles temem perder uma de suas maiores operações. Caso optem pela venda, como sugeriu o presidente americano, a ByteDance pode perder sua empresa de maior valor.

Mas Pedro indica que essas ações também demonstram um momento de crise na crença da globalização. “Os países têm optado por estratégias nacionais mais autônomas, em que muitas instituições internacionais, como a OMC, perderam a força”, explica. Enquanto isso, o Brasil fica em uma corda bamba. Nos últimos tempos, o país adota um discurso de proximidade com os EUA, reforçando a aliança histórica entre os dois. Mas não é possível deixar de lado a dependência econômica em relação à China, nosso maior parceiro comercial.

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“Quanto mais essa briga se aprofunda, mais fica um clima parecido com a Guerra Fria, em que os países são obrigados a escolher um dos lados”, diz Pedro. Porém, ele acredita que esse não é um processo sem volta e, apesar das pressões externas, não estamos no momento de definir um aliado. Enquanto isso, a disputa entre China e EUA cria novos caminhos para a economia mundial e coloca os países para refletirem sobre o futuro da globalização.

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