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Superfungo de alta resistência chega ao Brasil e gera alerta

Primeiro caso do Candida auris foi confirmado na Bahia e assusta a comunidade científica. Entenda surgimento de micro organismos resistentes

Por Luccas Diaz
Atualizado em 8 mar 2021, 19h52 - Publicado em 8 dez 2020, 16h17
Doenças que podem cair no Enem e Vestibular
 (Drew Hays/Unsplash/Reprodução)
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Em meio ao aumento nos casos de Covid-19 no país – e a corrida pela vacina –, uma nova preocupação atinge a comunidade científica. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta oficial nesta terça-feira (8) sobre um possível primeiro caso de Candida auris no Brasil. O “superfungo” seria resistente aos principais medicamentos antifúngicos, não é identificável através de métodos tradicionais e pode causar infecções fatais.

Segundo o comunicado da Anvisa, variações do C. auris são “resistentes a todas as três principais classes de fármacos antifúngicos”, apresentam resistência a diversos desinfetantes e têm alta probabilidade de “causar surtos em decorrência da dificuldade de identificação oportuna pelos métodos laboratoriais rotineiros e de sua eliminação do ambiente contaminado.”

A descoberta foi informada à agência na segunda (7), após a suspeita ser confirmada por meio de uma amostra coletada de um paciente internado por complicações da Covid-19, na Bahia, no dia 4.

A amostra foi analisada pelo Laboratório Central de Saúde Pública Profº Gonçalo Moniz (Lacen-BA), em Salvador. Após confirmação da suspeita, o material foi enviado para o Laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), que, desde 2017, estuda possíveis casos de C. auris no Brasil..

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Uma ação de prevenção de contágio está sendo realizada no hospital onde o fungo foi encontrado e uma investigação epidemiológica foi encomendada pelo Estado e o município de Salvador para “verificar se existe a contaminação de outras pessoas do serviço de saúde.”

Resistência acima da média

Candida auris
(BBC News/Reprodução)

De acordo com a Anvisa, a maior preocupação com o C. auris seria a sua alta resistência. Desinfetantes e detergentes comuns não são suficientes para eliminá-lo, e apenas produtos de limpeza hospitalar se mostraram competentes na missão. O fungo sobrevive em superfícies durante um longo período e pode também ser transmitido de pessoa para pessoa.

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Em uma pesquisa de 2017 o pesquisador e infectologista Alessandro Pasqualotto, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, constatou que apenas 10% dos laboratórios dos principais centros médicos da América Latina têm capacidade de detectar doenças invasivas originárias de fungos, como o C. auris. A pesquisa foi feita após uma análise de 130 laboratórios.

As análises prévias de DNA desse fungo indicam, ainda, que os genes que promovem a resistência ao C. auris têm passado para outras espécies. O principal exemplo é a variação Candida albicans (C. albicans), um dos principais causadores da candidíase.

O aumento de fungos, vírus e outro microrganismos que se mostram resistentes aos principais recursos da medicina atual preocupa a comunidade científica.

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De acordo com os números do Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), as infecções resistentes a medicamentos são responsáveis por cerca de 2 milhões de casos e levam a 23.000 mortes nos Estados Unidos por ano.

Um texto publicado no site do CDC explica que “as bactérias são especialistas em se adaptar aos medicamentos usados para matá-las. Quando um tratamento com antibióticos falha ou não é concluído, esses seres vivos podem voltar com força total – e querendo vingança”. Casos de doenças que não eram preocupações há décadas têm assombrado o século XXI, como gonorreia, sífilis e tifo.

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Alguns cientistas defendem ainda que as mudanças climáticas e o uso de excessivo de agrotóxicos podem ter relação direta com o surgimento de novas pestes super-resistentes. “Em geral, um aumento nos níveis de temperatura e precipitação favorecem o crescimento e a distribuição da maioria das espécies de pragas, proporcionando um ambiente quente e fornecendo a umidade necessária para seu crescimento”, disse Tek Sapkota, cientista agrícola e de mudanças climáticas do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT).

Uma reportagem da revista Saúde explica as estratégias das bactérias para “escapar” do alcance dos antibióticos.

Histórico do Candida auris

Candida auris
(BBC News/Reprodução)

O alerta internacional para o contágio da Candida auris na América Latina foi feito em outubro de 2016 pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A OPAS publicou um alerta epidemiológico recomendando que os governos dos países latinos tomassem medidas preventivas e de controle para evitar um possível surto, após uma série de casos, isolados, mas significativos, no continente americano. O primeiro ocorreu na Venezuela, entre 2012 e 2013, quando 18 pacientes foram infectados.

Já o primeiro caso do mundo foi identificado em 2009, no canal auditivo de um paciente no Japão. De lá para cá, o surto com mais infectados até agora foi em Londres, em 2012, com 22 pacientes.

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