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Setembro Amarelo: como surgiu e por que ele é tão importante

Embora o suicídio seja um assunto delicado, ele não pode se tornar um tabu. É preciso falar e acolher para conseguir prevenir

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 6 set 2021, 14h37 - Publicado em 6 set 2021, 14h18
 (Getty Images/Reprodução)
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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio em algum lugar do planeta. Ou seja, em um ano, mais de 800 mil pessoas perdem sua vida dessa maneira. Dados levantados pela instituição em 2016 também apontam que suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. 

Diante desse cenário, fica clara a necessidade de dar mais atenção ao tema, com campanhas de conscientização e debates que possibilitem a quebra do tabu sobre o problema. E é essa a proposta do Setembro Amarelo. 

Iniciada no Brasil em 2015, a campanha brasileira de prevenção ao suicídio busca popularizar a discussão ajudando a identificar sinais de alerta e incentivar a prevenção. 

Como surgiu?

Em setembro de 1994, nos Estados Unidos, o jovem de 17 anos Mike Emme cometeu suicídio. Ele tinha um Mustang 68 amarelo e, no dia do seu velório, seus pais e amigos decidiram distribuir cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais.

A ideia acabou desencadeando um movimento de prevenção ao suicídio e até hoje o símbolo da campanha é uma fita amarela.

Inspirado no caso Emme, o “Setembro Amarelo” foi adotado em 2015 no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

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Importância da campanha

Além de trazer esse tema à tona, as campanhas disponibilizam informações e opções de tratamento para o público, visando a reduzir o tabu que faz com que muitas pessoas evitem falar sobre suicídio e buscar ajuda. 

O fato de muitos acharem que o suicídio é algo distante e que afeta poucas pessoas – o que a OMS mostra não ser verdadeiro –, também prejudica discussões mais aprofundadas que seriam benéficas para quem precisa.

“Apesar de ser um problema de saúde pública, ainda não é tratado como tal. Então, é muito importante desenvolvermos canais de comunicação e informação para que as pessoas sintam-se apoiadas, percebam que não estão sozinhas e que existem caminhos para lidar com o seu sofrimento”, diz Thais Arantes Ribeiro, psicóloga e coordenadora do Colégio Poliedro Campinas.

Pandemia

O suicídio pode ter diversas causas, mas, segundo o CVV, as mais comuns estão associadas a transtornos psicológicos. E a saúde mental é um tema que merece ainda mais atenção no contexto do isolamento social exigido pelo novo coronavírus.

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“A quarta onda”. É assim que especialistas têm definido as sequelas emocionais que serão deixadas pela pandemia. A primeira onda é a do vírus em si, enquanto a segunda e a terceira estão relacionadas aos problemas no setor de saúde e ao abandono de tratamento de doenças crônicas por pessoas que não estão com Covid-19. 

“A onda das doenças mentais já chegou e não temos mais tempo a perder”, diz o Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Dr. Antônio Geraldo da Silva. “Temos que atuar firmemente para minimizar os prejuízos que todos terão deste momento, monitorando a saúde mental da população e o atendimento psiquiátrico”.

Uma pesquisa realizada pela ABP com cerca de 400 médicos de 23 estados e do Distrito Federal, revelou que 89,2% dos entrevistados tiveram pacientes que apresentaram agravamento de quadros psiquiátricos por causa da pandemia. 

Como se não bastasse a piora de quem já enfrentava algum tipo de transtorno, o levantamento também aponta que 67,8% dos especialistas receberam pacientes novos, após o início da quarentena, que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos antes.

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Outro dado preocupante é que  44,6% dos médicos relataram diminuição de seus pacientes. A maioria abandonou o tratamento por medo de contaminação e restrições impostas durante a quarentena, inclusive financeiras. Ou seja, parte da população não está conseguindo receber o apoio adequado, mesmo precisando.

Canais de contato

Vale ressaltar que, segundo a OMS, 90% dos suicídios podem ser prevenidos.

Se você conhece alguém que pode estar precisando de ajuda é importante saber ouvir sem emitir julgamentos e ser empático sobre os sentimentos do outro. Minimizar os problemas enfrentados pela pessoa, ainda que pareçam desimportantes para você, não é uma boa opção. É preciso respeitar a forma como a pessoa vê a situação. Ao mesmo tempo, por mais que as intenções sejam as melhores, é fundamental incentivar a pessoa a procurar ajuda especializada.

“Há um limite para o que um amigo ou colega pode fazer por outro. A escuta não-qualificada pode ajudar pontualmente, mas também acabar sobrecarregando quem acolhe, sem realmente ajudar a pessoa que precisava de uma escuta especializada ou até mesmo de uma intervenção medicamentosa”, alerta Mayra Temperine, psicóloga do Curso Anglo.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma associação sem fins lucrativos que oferece apoio emocional e busca prevenir casos de suicídio. Caso precise de ajuda ou conheça alguém que precise, ligue para o 188 ou acesse o site do CVV. Tanto o chat da página quanto o telefone ficam disponíveis para contato 24 horas por dia em todos os dias da semana. O serviço é sigiloso e gratuito.

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