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Quem foi Darcy Ribeiro, o pensador que quis entender e melhorar o Brasil

Fundador da UnB, Darcy deixou contribuições na área da educação, antropologia, literatura e outras

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 27 out 2022, 12h09 - Publicado em 26 out 2022, 16h42
O antropólogo, educador e político Darcy RIbeiro
 (Fundação Darcy Ribeiro/Reprodução)
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Há exatos 100 anos, em 26 de outubro de 1922, nascia um pensador brasileiro inconstante. Em entrevista ao programa Roda Viva, em 1995, Darcy Ribeiro afirmou que se houvesse “ficado em uma coisa só” poderia ter sido o maior do mundo naquilo em que fosse competente. Mas “enjoava”.

Decidiu deixar sua marca primeiro na causa indígena, a qual se dedicou por longos anos após graduar-se em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1946. Esteve ao lado do marechal Cândido Rondon no SPI (Serviço de Proteção ao Índio) de 1947 a 1958, contribuindo para a criação do Parque Indígena do Xingu e do Museu Nacional do Índio. Consagrou-se um dos mais notórios indigenistas e antropólogos brasileiros com a publicação de livros como “Línguas e culturas indígenas do Brasil”. Então, decidiu partir para a próxima empreitada.

+ Conheça o papel e a história da Funai, órgão que substituiu o SPI 

Darcy Ribeiro com povos indígenas
Darcy Ribeiro com indígenas Urubu-Kaapor, no Maranhão, em 1949 (Fundação Darcy Ribeiro/Reprodução)

Nos anos seguintes, Darcy Ribeiro dedicou-se à carreira de professor universitário, mas também logo percebeu que, para ele, não bastava lecionar, era necessário pensar a educação. Caiu nas graças da política, em suas palavras “irresistível”, e quis fazer mais coisas para o Brasil melhorar. O que tomou como grande missão de sua vida.

Darcy Ribeiro e a defesa da educação

A primeira vez que Darcy Ribeiro entrou em sala de aula como professor, e não mais como aluno, foi no início da década de 1950, quando ensinou etnologia brasileira na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Anos mais tarde, tornou-se professor na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde conheceu aquele que influenciaria permanentemente sua visão de educação: o intelectual e educador Anísio Teixeira.

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A partir daí, nunca mais afastou-se dos debates sobre o assunto. Darcy Ribeiro foi defensor da educação enquanto direito, e a vinculava diretamente à desigualdade no Brasil. Dizia que “a educação no Brasil não é crise, é projeto”. Em outras palavras, acreditava que a manutenção das taxas de analfabetismo e a restrição do acesso às universidades apenas para as elites era um projeto deliberado para perpetuar as desigualdades.

Queria que fosse diferente, e por isso ingressou na vida política.

Foi ministro da Educação e ministro-chefe da Casa Civil no governo do então presidente João Goulart, quando criou a UnB (Universidade de Brasília). Assim como Paulo Freire, outro pensador em atividade na época, Darcy Ribeiro teve seus projetos para a educação brasileira interrompidos pelo golpe militar de 1964.  Por 12 anos, exilou-se no Uruguai, Venezuela, Chile, Peru, Costa Rica e México, ajudando a criar e estruturar universidades nestes países. Além disso, produziu obras relevantes como “O processo civilizatório” e “O dilema da América Latina”.

Darcy Ribeiro na Unb
Darcy Ribeiro na inauguração da UnB, em 1962 (Arquivo Central da Universidade de Brasília/Reprodução)
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De volta ao Brasil, foi vice-governador no mandato de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, entre 1983 a 1987. Influenciado pela defesa de Anísio Teixeira das escolas em tempo integral, criou os Centros Integrados de Educação Pública (Ciesp).

O terceiro e último cargo político de Darcy Ribeiro foi como senador, exercendo o mandato de 1991 a 1997, enquanto enfrentava um câncer. Neste período, foi responsável pelo projeto de lei que criou a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira), uma das mais importantes legislações de educação do país, que abarca do Ensino Básico ao Superior.

“Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”

Em 1995, ainda em tratamento da doença, Darcy Ribeiro conta ter “escapado” do hospital para escrever em 40 dias a obra que gestou durante 30 anos de sua vida: “O Povo Brasileiro“. O político, educador, antropólogo e escritor que passou a vida toda se dedicando a “melhorar” o Brasil, neste livro dedica-se a entendê-lo, explicando de onde viemos, e porque esta “nova Roma, lavada em sangue de índio e em sangue de negro” não havia dado certo.

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“O povo brasileiro conta uma história de sofrimento terrível: colonialismo, dizimação dos negros e indígenas, violência contra a mulher, tomada de terra, destruição de patrimônios culturais”, afirma socióloga Adélia Miglievich-Ribeiro, da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), em entrevista à Fapesp

“Darcy tinha a chama da utopia e acreditava que dessa ninguendade [termo cunhado para denominar o povo brasileiro] nasceria algo novo. Mas isso não acontece naturalmente. Na sua visão, só pela luta política podemos superar a condição de subalternidade.”

Quando questionado sobre o crescente descrédito em relação aos políticos na entrevista ao Roda Viva, o pensador brasileiro definiu a política como “a atividade humana fundamental”.

Darcy Ribeiro faleceu em 17 de fevereiro de 1997.

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