Viver em meio a uma pandemia é um desafio: ficar isolado, com o medo constante da doença. Crianças e jovens (e professores) ainda precisam se adaptar a uma nova maneira de ensino, com as pessoas do outro lado da tela e os colegas distantes.
Com tantas mudanças e incertezas, essa nova rotina tem sido objeto de cuidado de muitos professores, orientadores e psicólogos. A Escola Sesc de Ensino Médio, do Rio de Janeiro, é um dos exemplo de instituições que, felizmente, estão conseguindo realizar um acompanhamento dos alunos.
Em março, os professores da escola-residência iniciaram um trabalho de transição do ensino presencial para o modelo baseado em ferramentas virtuais, como videoconferências, chats, videoaulas e podcasts. Desde então, os orientadores pedagógicos da escola estão monitorando comportamento dos alunos – principalmente os fatores emocionais provocados pelo isolamento social, com potencial de gerar danos ao processo de aprendizado.
A assistência emocional que a psicóloga da instituição, Adriana Antunes, prestava presencialmente aos jovens também precisou passar a ser online. Por meio de um questionário de bem-estar enviado semanalmente ao e-mail dos estudantes, ela avalia indícios de problemas emocionais e físicos que eles podem estar enfrentando em casa. A partir daí, é possível, com ligações ou troca de mensagens, entender melhor o que está passando e auxiliar.
Com base na experiência, a especialista contou ao GUIA sobre as questões emocionais que interferem diretamente no desempenho acadêmico e falou como lidar com elas. São pontos importantes para alunos, professores e familiares ficarem atentos durante esse momento delicado.
Nova rotina e sono desregulado
Adaptar-se a uma nova rotina não é tão simples para muitos alunos, que relatam problemas com ansiedade e sono desregulado. A situação e o contexto do ensino remoto fazem com que os estudantes se sintam ligados o tempo todo. Além disso, muitos deles, em situação de vulnerabilidade, precisaram acrescentar atividades domésticas no seu dia a dia.
Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostram que os casos de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80% durante o isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus. O estudo foi feito por meio de um questionário online com mais de 200 perguntas, respondido por 1.460 pessoas em 23 estados, em dois momentos específicos, de 20 a 25 de março e de 15 a 20 de abril.
Adriana Antunes aponta a importância de estabelecer uma rotina funcional e viável, considerando as diferentes formas de lidar com a situação e os contextos familiares distintos. “Se eu não estou conseguindo dormir cedo, eu não posso colocar que eu vou começar a estudar às 6h da manhã. Não vou conseguir ter um sono reparador para que eu esteja pronta para as atividades do dia seguinte. Vamos pensar naquilo que é viável, depois a gente vai ajustando ao longo das semanas”, aconselha a psicóloga.
Outra dica importante quando se fala de rotina é ver quais são as tarefas que devem ser realizadas no dia e alternar momentos de estudo, de convivência familiar e de relaxamento.
Um olhar positivo
Apesar das dificuldades na adaptação, a especialista ressalta que essa nova rotina pode possibilitar um momento rico de autoconhecimento. Uma oportunidade de olhar para as dúvidas recorrentes, como qual área você gostaria de atuar ou qual o estilo de aprendizagem funciona melhor. “É o momento ideal para fazer o mergulho interno, ter curiosidade e experimentar novas práticas”, afirma Adriana.
Além disso, ela observa uma mudança em relação ao olhar para o outro: “Esse cenário nos faz desligar a forma automática com que vínhamos lidando com as nossas relações pessoais. O simples fato de hoje perguntarmos como alguém está ou aconselhar que fique em casa mostra que esse cuidado está mais explícito”.
Luto
No Brasil, até o momento, são mais de 24 mil mortes. Muitos alunos estão lidando com a morte de familiares e amigos, ou com o medo de perder pessoas próximas que estão internadas. Faz parte do luto passar por diferentes fases, como a negação, a raiva, a negociação, até alcançar a aceitação.
Segundo a psicóloga, é hora de colo: de escutar o choro e deixar o jovem falar das lembranças que foram vivenciadas com aquela pessoa especial. É importante não negar o que está sentindo e entrar em contato com essa dor para que esse sentimento seja elaborado.
A iniciativa do artista paulista Edson Pavoni, por exemplo, aborda, com sensibilidade, todas essas perdas. Pensando em homenagear e trazer uma percepção mais humanitária das histórias e números das vítimas da covid-19 no Brasil, o artista, junto com voluntários de todo o país, criou o Memorial Inumeráveis. Familiares e amigos da vítima podem enviar as biografias e os relatos para o site do projeto e as memórias viram homenagens.
A importância da psicologia na escola
“A psicologia na escola é um trabalho de acolhimento, de fazer com que alguns estigmas sejam quebrados, alguns processos sejam revistos e isso só é feito a partir de uma boa relação com diálogo”, explica Adriana. Mas ela fala que esse movimento não precisa, necessariamente, acontecer a partir de um psicólogo.
Dentro da escola e em casa, é importante manter as relações e dialogar. Isso faz com que não haja o sentimento de solidão. Além disso, a troca de experiências traz aconchego. Então esse lugar de escuta é absolutamente necessário em qualquer campo e pode ser criado por todos nós, alunos, professores, amigos e familiares.
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