Entenda o maior colapso do sistema de saúde da história do Brasil
Por que não é tão simples abrir novos leitos de UTI e precisamos redobrar a prevenção diante da taxa de ocupação
A taxa de ocupação dos leitos de UTI no Brasil está acima de 90% em 16 estados da federação. Em três deles, a taxa de ocupação é acima de 100% – há mais pacientes do que leitos disponíveis. Entre os 26 estados e o Distrito Federal, apenas Roraima e o Rio de Janeiro têm uma ocupação abaixo de 80%. Este, porém, tem verificado um crescente de casos e deve ultrapassar a barreira de 80% de ocupação em pouco tempo. Em São Paulo, pela primeira vez na história, a rede privada pediu leitos ao SUS – usualmente, o que acontece é o contrário: a rede pública de saúde é quem aluga leitos privados para dar conta da demanda.
Para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o país vive a maior crise sanitária e hospitalar de sua história. Em São Paulo, foi notificada a primeira morte de um paciente por falta de leito. Era um jovem de 22 anos. Além da alta taxa de ocupação dos leitos de UTI, há também o estresse nas enfermarias, para onde vão os pacientes menos graves. E a falta de suprimentos essenciais, como oxigênio, que gerou sofrimento e mortes em Manaus, e remédios para a intubação de pacientes, como sedativos e bloqueadores musculares.
Boletim extraordinário do Observatório #Covid19 @fiocruz aponta maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil https://t.co/nGv6JnARc5 pic.twitter.com/8gftnh6RRE
— Agência Fiocruz (@agencia_fiocruz) March 17, 2021
Mas, na prática, o que significa o colapso no sistema de saúde? Como ele afeta os doentes de Covid-19 e as pessoas que estão sofrendo de outras doenças? Há perspectiva para que a situação melhore? A seguir, veja respostas sobre as dúvidas mais frequentes sobre o colapso hospitalar que o Brasil enfrenta.
O que significa a taxa de ocupação?
Trata-se de um média calculada a partir do número de leitos disponíveis em uma cidade ou estado. Suponhamos que um estado brasileiro tenha 10 leitos distribuídos por seu território e 9 estejam ocupados. Isso significa uma taxa de ocupação de 90%. Em muitos lugares, a diferença entre 90% e 100% é de apenas alguns casos, o que explica a gravidade da situação.
Por que devo me preocupar com a ocupação de leitos de UTI?
A taxa de ocupação diz respeito a um determinado território. Isso não significa, porém, que não haja plena ocupação em alguns bairros, por exemplo, ou que não haja uma demanda por leitos acima da capacidade de certo hospital ou região. Além disso, não basta ter leitos. É preciso ter profissionais em quantidade suficiente para atender a esses pacientes, os chamados médicos intensivistas, profissionais muito qualificados e que representam menos de 2% do total de médicos registrados no Brasil. Além de enfermeiros e fisioterapeutas, muito importantes no tratamento dos casos mais graves de covid-19. Ou seja, mesmo que haja excedente de vagas, é preciso haver equipe disponível para atender – e bem – esses pacientes.
Esses dados referem-se apenas aos leitos disponíveis para os pacientes graves de Covid-19?
Sim. Mas isso não melhora em nada – absolutamente nada – a situação, uma vez que a maior parte dos leitos está alocada para a Covid-19 e há outras doenças e catástrofes – como incêndios e acidentes automobilísticos – que também demandam atendimentos em UTIs.
E por que não se amplia a quantidade de leitos?
Aí é que está: houve ampliação de leitos em uma série de estados brasileiros, como o Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e a Paraíba. Mas isso demanda recursos financeiros e humanos – ambos escassos. No caso financeiro, há ainda as indefinições orçamentárias com relação a 2021. O orçamento do Governo Federal deve ser votado somente na próxima semana. Só então será definido o valor disponível para a saúde, motivo de preocupação entre especialistas, dada a gravidade do nosso quadro. Com a alta de casos, o Brasil é o epicentro mundial da pandemia.
A vacinação tende a melhorar essa situação?
Sim. Basta ver a queda no número de mortes e casos graves entre os idosos vacinados. No entanto, a vacinação no Brasil está muito lenta – especialmente quando consideramos a aceleração no número de casos e a taxa de ocupação de leitos de UTIs e enfermarias. Como mostram exemplos internacionais, só a imunização não basta. É preciso combinar uma vacinação rápida com medidas restritivas. No entanto, ainda há as novas variantes do coronavírus e estudos sobre a eficácia das vacinas para esses casos. As variantes começam a ser dominantes no país, como alerta o microbiologista Átila Iamarino.
A variante P.1 está a caminho de causar a maioria dos casos no país, apesar de ter surgido recentemente. Só não tem uma tendência tão forte no Nordeste, onde outra variante é mais frequente, a P.2.https://t.co/P2SY7VDihK pic.twitter.com/oOiMsRmuUi
— Atila Iamarino (@oatila) March 16, 2021
Quanto tempo isso deve perdurar?
O estresse no sistema de saúde deve ser uma realidade por muito tempo, mesmo com um eventual arrefecimento dos casos de Covid-19. Isso porque, além da doença, há as sequelas decorrentes da doença, que demandam acompanhamento médico. Outro problema é o represamento de atendimento de outras doenças pelo SUS, em decorrência do foco no combate à Covid-19. Cientistas e especialistas apontam que além da vacinação e necessário que o Brasil tenha um plano nacional centralizado para controlar a situação.
Segunda fase da tempestade começa a surgir no horizonte: o Colapso Funerário a nível NACIONAL! https://t.co/aXdhlrbfON
— Miguel Nicolelis (@MiguelNicolelis) March 17, 2021
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