Assine Guia do Estudante ENEM por 15,90/mês
Continua após publicidade

O que Biden quer fazer com a economia dos EUA?

Pacote aprovado pelo democrata é o segundo maior da história do país, que é rico, mas muito desigual – como mostra o ganhador do Oscar Nomadland

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 29 abr 2021, 08h26 - Publicado em 28 abr 2021, 17h20
O presidente americano Joe Biden assina documento na Casa Branca
 (Divulgação/Reprodução)
Continua após publicidade

Não é só pelo acelerado processo de vacinação em massa que os primeiros 100 dias do governo de Joe Biden ficarão marcados. O democrata, que derrotou Trump em sua campanha pela reeleição, está liderando também um amplo processo de medidas de estímulo à economia americana e de valorização dos salários que ganhou o nome de Bidenomics. 

O pacote de estímulos está orçado em quase US$ 2 trilhões e deve financiar, na próxima década, áreas como educação, saúde e cuidados infantis. Batizado de “Plano das Famílias Americanas”, será custeado com aumento de carga tributária para os mais ricos e cortes de impostos para a classe trabalhadora.

Com isso, Biden quer garantir uma recuperação econômica consistente após a queda de 3,5% verificada em 2020, em decorrência da pandemia. Ele também pretende recompor a massa salarial americana, estagnada há décadas, num cenário de crescente desigualdade. E, mais importante, garantir a preponderância geopolítica americana frente à China, que também tem investido em tecnologia verde e pretende ampliar sua classe média, de 400 milhões de pessoas – o número é maior do que toda a população dos EUA. 

Os Estados Unidos são, hoje, o país desenvolvido com os piores índices de pobreza. São 40 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha oficial da miséria. O empobrecimento, agravado pela crise financeira de 2008, levou muitos americanos a perderem suas casas, especialmente os mais velhos. Alguns decidiram viver em trailers, em busca de trabalhos temporários em todo o território americano. A saga de uma dessas pessoas, interpretada por Frances McDormand, escolhida melhor atriz, deu a Nomadland: Sobreviver na América o Oscar de melhor filme. A produção também levou os prêmios de melhor direção, com a chinesa Chloé Zao, e de melhor roteiro adaptado.

Para entender como os Estados Unidos são, ao mesmo tempo, um dos países mais ricos do mundo e um dos mais desiguais, é preciso resgatar o histórico econômico do país desde a Grande Depressão de 1929.  

Continua após a publicidade

New Deal 

Em 1929, a queda da Bolsa de Nova York, fruto de uma década de crescimento e desregulação financeira, levou os Estados Unidos à maior crise econômica de sua história, que só começaria a ser sanada a partir de 1933, com a eleição de Franklin Delano Roosevelt. O presidente – reeleito três vezes (à época não existia limite de mandatos para a presidência dos EUA) – lançou um pacote de estímulos à economia que viria a ser conhecido como New Deal (Novo Pacto). As medidas incluíam obras de infraestrutura visando à geração de empregos; direitos trabalhistas; sindicatos fortes e altas alíquotas de impostos para os mais ricos. O New Deal permitiu a criação da classe média americana e a elevação dos padrões de vida da classe trabalhadora que acabaria se tornando forte símbolo da prosperidade dos Estados Unidos no século 20. 

A Era Reagan 

Os anos 70 foram difíceis para os Estados Unidos, em termos políticos e econômicos. O escândalo que entrou para a história como o Watergate levou à renúncia do presidente Richard Nixon para escapar do processo de impeachment – era a primeira vez, desde a destituição de Andrew Jackson, em 1868, que um presidente corria o risco de ser deposto nos Estados Unidos. O escândalo abalou a política americana e levou, em 1976, à eleição do democrata Jimmy Carter. 

Continua após a publicidade

Mas seu governo duraria apenas um mandato. À época, a economia americana passava por uma série de problemas, entre eles os altos índices de inflação e da taxa de juros, que abalaram o mundo – incluindo o Brasil. Em 1980, Ronald Reagan foi eleito e deu início a uma série de reformas que mudaram o panorama econômico dos Estados Unidos.

O presidente republicano reduziu impostos, deu início a uma série de desregulamentações que seriam aprofundadas nos anos 1990 e facilitou a internacionalização do parque industrial americano. As medidas, por um lado, permitiam aos Estados Unidos recuperar a pujança econômica. Por outro lado, beneficiavam a parcela mais rica da população em detrimento do empobrecimento das demais classes sociais – que, por sua vez, nos anos de crescimento, se beneficiaram do crédito fácil. A economia americana, historicamente voltada ao setor produtivo, passou a ser simbolizada pelo setor financeiro de Wall Street, beneficiado pela falta de regras. 

Crise de 2008 

A desregulação financeira somada à estagnação dos salários levou ao estouro da chamada “bolha imobiliária”. Basicamente: a facilidade do crédito, concedido a partir de poucas exigências, levou ao aumento exponencial do preço dos imóveis. Este, por sua vez, levou ao aumento das taxas de juros, que encareceu as prestações – num contexto de estagnação dos salários. Essa dissonância levou, em setembro de 2008, ao estouro da bolha e à quebra do banco Lehman Brothers, por causa do buraco contábil da instituição e da concessão de créditos que não seriam pagos.  

Continua após a publicidade

Trump 

A crise de 2008 escancarou a desigualdade americana, o empobrecimento da população e a desindustrialização, simbolizada pela decadência da cidade de Detroit, outrora centro da indústria automobilística dos Estados Unidos. A recessão, que pouco afetou os mais ricos, levou a uma onda de revolta, simbolizada por movimentos como o Tea Party, que mudou a política americana. Essa massa revoltada – composta, sobretudo, por trabalhadores brancos, das antigas áreas industriais dos Estados Unidos – acabou se ligando ao Partido Republicano. Tanto por causa da agenda progressista do Partido Democrata nos costumes e na questão da imigração quanto pela manutenção das más condições econômicas e sociais dessa massa da população nos anos Obama. 

Foi nesse contexto que surgiu a candidatura Trump, prometendo recuperar os empregos industriais, trazer as indústrias de volta ao país e fazer a “América Grande outra vez”. E, de fato, o país viu uma forte recuperação do emprego e um alto crescimento econômico. No entanto, a posição negacionista de Trump frente à pandemia foi fatal. Em novembro de 2020, ele acabou perdendo as eleições para o democrata Joe Biden. 

Bidenomics 

Continua após a publicidade

O atual presidente anunciou um pacote de estímulo econômico de US$ 1,9 tri, o segundo maior da história americana, voltado à ajuda financeira direta das famílias, apoio a estados e municípios e a setores fortemente afetados pela pandemia. Os detalhes do projeto, em inglês, estão aqui. 

Em seu primeiro discurso ao Congresso dos Estados Unidos, na noite de quarta-feira (29), Biden defendeu sua visão para o país.

O presidente, como outros democratas históricos, tem buscado fortalecer novamente os sindicatos, enfraquecidos por quase 40 anos de desregulação econômica e precarização do emprego, de modo a recompor a massa salarial. Ainda assim, teve sua primeira derrota recente contra a Amazon, que conseguiu impedir a sindicalização de seus funcionários, apoiados pelo presidente democrata. A derrota é um prenúncio das dificuldades que ele deve enfrentar daqui para a frente.  

Busca de Cursos

Continua após a publicidade

Biden também anunciou um plano de infraestrutura que prevê injetar US$ 2 tri na economia americana. O pacote terá investimento em fontes de energia renováveis. Alguns setores à esquerda, porém, consideram que o plano não é “verde” o bastante. Especialmente para um país que, após ter saído do Acordo de Paris por decisão de Trump, vem tentando reconquistar sua posição de liderança nos pactos globais contra as mudanças climáticas. 

 

Publicidade

O que Biden quer fazer com a economia dos EUA?
Atualidades
O que Biden quer fazer com a economia dos EUA?
Pacote aprovado pelo democrata é o segundo maior da história do país, que é rico, mas muito desigual – como mostra o ganhador do Oscar Nomadland

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

a partir de R$ 15,90/mês

Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.