O ponto sem retorno ao qual a floresta amazônica está chegando
Podemos estar chegando no limite entre a exploração e a salvação do bioma. Entenda o que diz uma nova pesquisa
Um estudo publicado na revista científica Nature em agosto de 2025 trouxe um alerta preocupante: se nada for feito, a floresta amazônica pode começar a entrar em colapso ainda neste século e chegar a um ponto sem retorno de salvação. Isso porque o bioma está perdendo sua capacidade de realizar fotossíntese, ou seja, de produzir energia para se sustentar.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores utilizaram os chamados Modelos do Sistema Terrestre, representações teóricas que descrevem a forma e a dinâmica da Terra, utilizados para simular processos que acontecem no planeta. Abaixo, entenda mais sobre a fase crítica em que está Amazônia.
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A transformação da floresta em savana
A partir dos Modelos do Sistema Terrestre os cientistas previram dois cenários a partir de 12 simulações diferentes, levando em conta duas perguntas:
- O que acontece com o clima se uma grande área de floresta é desmatada?
- Como a extinção de espécies pode interferir no ciclo do carbono?
Em nove dos cenários, os resultados foram alarmantes: a Amazônia pode perder mais de 80% da sua produtividade antes de 2100. Isso aconteceria em um efeito dominó. Primeiro, com o aumento das temperaturas e redução das chuvas, provocando secas mais intensas. Depois, essas secas facilitariam o surgimento de incêndios florestais. Por fim, os incêndios agravariam ainda mais a destruição da floresta.
Em entrevista para a Revista Galileu, Elisangela Soldateli Paim, especialista em clima, explicou que esse colapso pode acontecer mais cedo do que se imaginava, impulsionado por fatores como calor extremo, desmatamento, mudanças no regime das chuvas e até alterações nas correntes oceânicas.
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E o alerta não é de agora: ainda na revista Nature, o artigo “South America is becoming warmer, drier, and more flammable” (América do Sul está ficando mais quente, mais seca e mais inflamável) de setembro de 2024 já alertava para o possível colapso.
Segundo os pesquisadores, a combinação de aquecimento global e desmatamento pode reduzir em até 44% a quantidade de chuvas anuais na Bacia Amazônica e aumentar em 69% a duração da estação seca.
Além disso, o estudo mostra que a América do Sul já vem sofrendo os efeitos das mudanças climáticas, com secas cada vez mais prolongadas, mais ondas de calor e aumento da ocorrência de incêndios florestais.
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O ponto sem retorno
Com a transformação da floresta amazônica em savana teremos impacto direto em mais de 10% de toda a biodiversidade terrestre e desequilíbrio no clima do planeta, já que a Amazônia contribui para o resfriamento da Terra. Isso sem mencionar a alta emissão de carbono (CO₂), já que as queimadas produzem cerca de três vezes mais CO2 do que a floresta consegue absorver.
O artigo “Amazon deforestation causes strong regional warming” (O desmatamento da Amazônia causa grande aquecimento regional) também mostra que os efeitos combinados das mudanças climáticas e do desmatamento podem afetar diretamente a vida de quem vive na floresta ou ao redor dela.
Mais de 11 milhões de pessoas podem ser expostas a estresse térmico extremo, quando o corpo humano não consegue lidar com o calor excessivo. A população mais afetada seriam as comunidades indígenas. Além do impacto local, ainda pode haver a diminuição na quantidade de alimentos produzidos no país, por falta de terreno devido às queimadas.
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