O mundo aos pés das big techs
Grandes empresas de tecnologia estão no centro da economia internacional – e ameaçam a democracia

Chamou a atenção, na posse de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 2025, o lugar de destaque ocupado na cerimônia pelos bilionários Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos. Colaboradores próximos do atual presidente, são, respectivamente, os donos do X (ex-Twitter), da Meta (Facebook, Whatsapp) e da Amazon, três das maiores big techs globais.
Quando saiu a lista 2025 das pessoas mais ricas do mundo todo, em 1º de abril, os três ocupavam o topo. Musk é o homem mais rico do planeta, com folga – possui uma fortuna de 342 bilhões dólares, cerca de 2 trilhões de reais (!), seguido por Zuckerberg e Bezos. Só esses fatos dão a dimensão da importância global das bigs techs – as grandes empresas de tecnologia da informação.
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Nascem as big techs
Empresas como Google, Facebook (Meta) e Amazon fazem hoje parte do cenário global. Mas isso é uma realidade relativamente nova, criada pela ascensão da internet como rede aberta de computadores, no início dos anos 1990, um dos pilares do período da globalização.
Note que essas empresas são jovens: a Amazon foi criada em 1994, o Google em 1998, o Facebook em 2004, o Twitter (atual X) em 2006. Tiveram um crescimento enorme e acelerado, passando a atuar em quase todos os países do globo por meio do ambiente virtual.
À medida em que se expandiam, passavam a ter enorme poder econômico, pois as operações comerciais e produtivas passaram a utilizar as ferramentas digitais. Uma das marcas do atual momento econômico mundial é a organização de cadeias produtivas internacionais totalmente baseadas nas conexões via rede de computadores.
Isso levou à chamada “relocalização” de fábricas, sendo transferidas para países com menores custos de produção, como salários menores, menos impostos e acesso fácil a matérias-primas. Tornou-se comum que produtos complexos (como veículos, grandes máquinas, aparelhos eletrônicos) tenham etapas de produção divididas por diferentes países.
São comuns também as equipes de trabalho multinacionais funcionando por sistema remoto. Um aspecto atual da conhecida “fuga de cérebros” – pelas quais os países ricos recrutam os melhores profissionais dos países em desenvolvimento, oferecendo salários melhores – é que não é necessário mais trazê-los para as sedes das multinacionais: eles podem se manter em seus locais de origem, trabalhando em rede virtual.
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Plataformas de informação
A vida do conjunto da humanidade foi profundamente afetada pelo ambiente das redes sociais criado pelas empresas de tecnologia da informação, que invadiram o cotidiano de todos. É principalmente por meio das plataformas digitais que as pessoas, hoje em dia, se comunicam e se informam.
Sua expansão para todo o globo, por cima das fronteiras dos países, entretanto, tem uma série de consequências políticas. A história da humanidade nos últimos séculos fez com que a vida em sociedade seja regulada, principalmente, por leis nacionais. A eficácia de legislações internacionais depende de os países aderirem a tratados e convenções para que valham em seus territórios.
Mas as big techs, empresas criadas em países desenvolvidos (principalmente os Estados Unidos), passaram a atuar nos diferentes países de forma não prevista em leis existentes, criando uma zona indefinida, de difícil regulação.
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Vamos pegar o exemplo da imprensa. Tradicionalmente, as empresas de mídia impressa (jornais, revistas) financiavam sua atividade com a circulação paga (venda avulsa e assinaturas das publicações) e a publicidade em suas páginas. Atualmente, porém, nas redes sociais, o noticiário dessas empresas circula amplamente de forma gratuita (as pessoas postam as notícias para outros lerem). As plataformas faturam com essa circulação, pois obtêm audiência e podem canalizar as verbas de publicidade. As empresas jornalísticas então entraram em crise econômica: como fazer para pagar os custos salariais e materiais da atividade jornalística?
É um exemplo específico da necessidade de uma regulação econômica, por lei, para enfrentar uma situação nova. Afinal, para cada país, é importante ter uma imprensa forte, e não se pode ficar indiferente à insolvência da atividade jornalística.
Democracia em xeque
O problema fica ainda mais grave e complexo se considerarmos que os cidadãos se informam atualmente sobre os acontecimentos políticos do Brasil e do mundo, principalmente, por redes sociais. Se não há nenhuma regulamentação sobre a sua atividade, sobre o seu funcionamento econômico, sobre a transparência da programação de seus algoritmos – e são quase todas empresas estrangeiras –, a própria soberania nacional está em questão.
Como funciona um algoritmo?
Como um computador faz as tarefas que você quer? Por exemplo, você clica num ícone para abrir um site; você recorta uma imagem e posta no Instagram. A resposta para a pergunta é mais simples do que parece: o computador segue instruções.
Para ele entender o que o usuário quer, ele precisa de uma linguagem específica. Para fazer a interação entre ser humano e máquina, surgiram as linguagens de programação, que usam uma ferramenta lógica: os algoritmos. Um algoritmo é uma receita passo a passo dos procedimentos necessários para realizar uma tarefa (nos exemplos acima, para atender aos seus comandos). Em termos mais técnicos, é uma sequência lógica e definida de instruções a serem seguidas para executar uma tarefa a partir de um comando.
Agora, pense que, entre as tarefas de um sistema operacional, está a de definir o que você vai ver quando faz uma pesquisa no Google ou quando abre seus aplicativos e vê postagens. Quais são os critérios que o sistema operacional usa? Entre eles, pode haver considerações econômicas, políticas ou de busca de audiência, entre outras, decididas pela empresa proprietária do site. Essas diretrizes, em geral, não são claras para os usuários, e a necessidade de sua regulação por legislação específica é um debate no mundo todo.
Esse foi o problema na base do conflito que opôs o Supremo Tribunal Federal (STF), e particularmente o ministro Alexandre de Moraes, à plataforma X (ex-Twitter), de Elon Musk. Por meio de decisões judiciais, o ministro determinou à plataforma o bloqueio a determinadas falsidades (fake news), bem como a suspensão de contas de ativistas antidemocráticos. O X se recusou e, em certo momento, decidiu fechar sua representação legal no Brasil. Sem a existência de representante legal, Moraes determinou a suspensão da plataforma X no Brasil. Essa situação durou 39 dias, ao fim dos quais Musk designou um representante no país e suspendeu as contas indicadas.
Meses depois, Moraes foi atacado por Musk, e também por Trump, acusado de censurar mensagens que seriam legais pelas leis norte-americanas, segundo eles. Na opinião dos dois, para as big techs norte-americanas, o que deveria prevalecer, mesmo em território brasileiro, são as leis dos Estados Unidos. E se fosse o contrário, como eles reagiriam?
São alguns exemplos do desafio que se coloca no debate de regulação das plataformas digitais, não só no Brasil, mas no conjunto dos países. É a própria noção de democracia que está em questão, entendida como a soberania do povo de cada nação para decidir quais leis valem em seu território e ordenar a vida social com base nelas. Por ela, as grandes empresas de tecnologia da informação, presentes no mundo todo, teriam de, em cada país, respeitar e se adequar às leis que regulam a vida das empresas e o funcionamento dos meios de informação ali. É uma questão de democracia.
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