Os juros subiram. O Copom – Comitê de Política Monetária –, órgão do Banco Central que define a taxa básica de juros do Brasil decidiu aumentá-la de 2% para 2,75% ao ano. A notícia já está em todos os sites de notícia, mas você ainda não sabe por que se faz tanto barulho sobre a Selic? Calma! Nós, do GUIA, vamos explicar de que forma essa decisão tem impacto na sua vida.
Antes de tudo é preciso entender o que é o Banco Central do Brasil (BCB): trata-se de uma instituição do governo federal responsável por garantir a estabilidade monetária – ou seja, a estabilidade do real, por meio do controle da inflação e das variações cambiais – e assegurar que o sistema financeiro do Brasil – que inclui os bancos e o mercado de capitais – seja sólido e estável. A ele cabe também o controle da emissão de moeda no Brasil, feita por meio da Casa da Moeda, uma empresa pública que emite cédulas de real para o BCB.
Para cumprir suas funções, o BCB possui uma série de instrumentos. Uma dela é a definição da taxa Selic, sobre a qual falaremos agora.
O que é, afinal, a Selic?
A Selic é a taxa que baliza todos os juros da economia brasileira, como o dos empréstimos bancários e dos investimentos em renda fixa. A sua variação é determinante para a variação das demais taxas de empréstimos e investimentos do país.
Se a Selic sobe, todos os juros sobem e se a Selic desce, todos os juros descem?
No caso dos investimentos em renda fixa – que têm como base a Selic – sim. No caso dos juros ligados a crédito e empréstimo, há outras variáveis que podem influenciar, como a situação financeira de quem pede o crédito (tomador), os prazos e as condições de pagamento. Mas, sim, a Selic estabelece a tendência para todo o mercado.
Por isso, com a decisão desta quarta (17) de aumentar em 0,75 ponto percentual a taxa de juros, quem estava pensando em emprestar dinheiro no banco para comprar um imóvel, um carro ou pagar uma faculdade pode ter que recalcular o valor das parcelas, que deve ficar mais caro.
Por que a Selic sobe em períodos de alta da inflação?
A alta da Selic tem impacto em duas frentes: no câmbio (valor do real frente às moedas estrangeiras) e no custo do crédito. Como a economia brasileira importa muitos produtos, muitos deles com preços baseados em dólar, aumentar a Selic é um meio para tentar diminuir a inflação. Funciona assim: juros mais altos são mais atrativos para o investidor estrangeiro, que, por sua vez, acaba mandando para cá mais dólares, em títulos, fundos e investimentos; com mais oferta de dólar no mercado nacional, o valor da moeda diminui em relação ao real e o preço de determinados dos produtos cotados em dólar cai, aliviando a inflação. No entanto, é preciso ter em mente que esse instrumento é válido quando a inflação é determinada pela valorização do dólar. É o que tem acontecido no Brasil ultimamente: o real foi uma das moedas que mais perderam valor no mercado mundial.
Como veremos adiante, a desvalorização cambial não é a única razão que leva ao aumento da inflação.
O aumento da taxa básica de juros influi também no crédito. Uma Selic mais alta pode tornar mais caro emprestar dinheiro e, assim, funcionar como um instrumento para reduzir o consumo. Essa estratégia funciona para conter a chamada “inflação por demanda”, ou seja, quando há um número maior de consumidores do que de produtos disponíveis, o que também leva a um aumento de preços.
É fácil deduzir que a alta de preços que vemos hoje nos supermercados, por exemplo, não está relacionada a uma inflação por demanda. Com a crise gerada pela pandemia de coronavírus, o desemprego está em alta e muitas famílias reduziram seu poder de compra.
O que leva ao aumento da inflação?
São vários os fatores. Como dissemos acima, a valorização do dólar frente ao real pode ser um fator, como também o excesso de demanda (muitas pessoas comprando e poucos produtos disponíveis). Mas pode ocorrer, por exemplo, uma estiagem que eleve os preços dos produtos agrícolas numa safra – e, aí, não há nada que a Selic possa fazer a respeito.
Podem ocorrer também flutuações em preços como o do petróleo, estabelecido no mercado internacional, sobre o qual a Selic, nacional, não tem influência. Em casos extremos, um alto endividamento do Brasil no mercado externo e baixas quantidades de dólares (as chamadas “reservas cambiais”) também podem levar a aumento da inflação. Isso aconteceu, em grande medida, na década de 1980, quando tivemos a chamada hiperinflação, com preços “galopantes”, que exigiam a remarcação quase diária nas gôndolas dos supermercados.
Não seria melhor, então, deixar os juros altos e o dólar baixo?
O valor da taxa Selic tem impacto em todo o conjunto da economia e nas contas do governo. Taxas muitos altas de juros, como as que o Brasil teve nos anos 1990, encarecem muito o crédito, dificultando o consumo, e tornam os investimentos produtivos – como em indústrias e na construção civil – menos atrativos do que os investimentos financeiros – uma vez que não há risco na renda fixa: basta você colocar seu dinheiro numa aplicação ou fundo de renda fixa e ele renderá acima da inflação.
Além disso, juros altos atrapalham o desenvolvimento do mercado de ações do país, que é muito importante para a capitalização das empresas. Quando você compra uma ação na Bolsa de Valores, está, na verdade, comprando uma pequena parte de uma empresa, que vai usar o seu dinheiro e o de outros investidores para aumentar suas operações e seus lucros.
Os juros altos têm impacto, ainda, nas contas do governo, assunto sobre o qual já falamos aqui. Além de arrecadação de impostos, parte do financiamento do governo federal é feito por meio da emissão de títulos da dívida pública, que são atrelados à Selic. Quanto maior for a taxa básica do país, maiores serão os juros que o governo pagará aos financiadores da dívida, reduzindo o dinheiro disponível para os gastos.
O dólar baixo, por sua vez, prejudica diretamente a indústria brasileira: torna-se mais barato importar do que produzir no país, o que leva a perda de empregos e investimentos, afetando o crescimento econômico.