Mutação do coronavírus na Dinamarca coloca OMS em alerta
Mudança pode prejudicar a eficácia de vacinas e levou ao sacrifício milhares de visons, hospedeiros da nova linhagem do Sars-COV-2
Um novo surto do coronavírus na Dinamarca foi confirmado em 41 fazendas, segundo autoridades locais. O governo anunciou que existem indícios de contaminação em outras 20. De acordo com informações do Statens Serum Institute (SSI), centro de referência para doenças infeciosas do país, desde junho mais de 210 pessoas já foram infectadas por uma mutação do Sars-Cov-2.
O governo dinamarquês pretendia abater 17 milhões de visons — mamíferos pequenos criados em cativeiro em diversos países europeus para abastecer a indústria de casacos de peles —, depois de uma nova versão do coronavírus, conhecida como “cluster” 5, ter sido encontrada nestes animais. Além disso, a primeira-ministra, Mette Frederiksen, decretou lockdown em sete municípios próximos às regiões de criação desses animais para tentar barrar o avanço da doença.
A medida colocou mais de 250 mil pessoas em quarentena na região da Jutlândia do Norte. O país escandinavo já identificou cinco versões diferentes do coronavírus. Porém, nenhuma se mostrou tão perigosa quanto essa nova variação. O governo dinamarquês afirma que ela não piora as complicações relacionadas à Covid-19 em humanos, mas atua de uma maneira que impede a produção de anticorpos. Esse fator pode prejudicar o desenvolvimento de vacinas contra a doença.
A mídia local revelou que não havia base legal para o ministro da Agricultura, Mogens Jensen, 57, determinar o extermínio de visons. Em decorrência da pressão do parlamento dinamarquês para o fim do abate de animais, após a denúncia da imprensa, Jensen renunciou, conforme mostra essa reportagem do UOL.
Além disso, o Ministério da Saúde do país informou nesta quinta-feira (19) que a mutação do coronavírus Sars-CoV-2 detectada em visons na Dinamarca foi “provavelmente extinta”. Mesmo assim, segundo um relatório de Copenhagen, milhões de visons já foram mortos.
Vírus em mutação
Desde fevereiro deste ano, pesquisadores do mundo todo vêm investigando mais a fundo uma das muitas mutações do Sars Cov-2, o vírus que causa a Covid-19. Em Cingapura, foi identificada uma nova versão com capacidade de se espalhar mais rapidamente entre humanos, mas que parecia ser menos agressivo e letal.
É muito comum que um vírus sofra alterações em seu RNA e não é incomum que as alterações levem a uma versão amenizada do patógeno. E a explicação é uma velha conhecida dos vestibulandos: uma questão de evolução. Para o vírus, é vantajoso ser menos agressivo com o hospedeiro, para conseguir permanecer mais tempo com proteção e alimento no corpo humano sem causar a morte do infectado.
No caso da variação encontrada em Cingapura, o vírus havia perdido uma parte de seu código genético num processo chamado de deleção. Não sabe o que é? O GUIA relembra com você os processos de mutação mais comuns.
Alerta global
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou no Twitter que está acompanhando a situação vivida na Dinamarca. “É normal que os vírus sofram mutações ou mudem com o tempo. Porém, cada vez que um vírus passa de humanos para animais e volta para humanos, ele pode mudar ainda mais. É por isso que esses relatórios são preocupantes”.
Em comunicado oficial, a OMS aconselhou os países a aumentar a atenção para a Covid-19 em locais que funcionem como reservatórios de animais, como as fazendas de visons. Além disso, reforçou que medidas de biossegurança de prevenção e controle devem ser adotadas na criação e no abate de animais, porque elas ajudam a proteger os trabalhadores envolvidos no setor.
A Dinamarca registrou 55.892 casos de Covid-19 e 747 mortes desde o começo da pandemia, segundo dados da Johns Hopkins University, nos EUA.
Outros seis países, como Holanda, Espanha, Suécia, Itália e Estados Unidos já notificaram à Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) casos de Sars-Cov-2 em visons. Em julho, a Espanha abateu cem mil visons, após infecções serem detectados em uma fazenda na província de Aragón.
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