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Meninos e ricos são aqueles que mais falam o que não sabem na escola

Uma extensa pesquisa traçou o perfil dos adolescentes que mais gostam de contar vantagem e fingir algo que não sabem

Por Taís Ilhéu
27 jun 2019, 16h40

Lorota, papo furado, bobagem ou simplesmente mentira. Essas são algumas traduções possíveis da expressão informal do inglês bullshit — já o bullshitter nada mais é do que esse contador de histórias que inventa ou aumenta uma coisinha aqui e ali. Pensou automaticamente em algum colega da escola? Ou vários? Bom, não é tão surpreendente assim. 

O estudo “Bullshitters: Quem são eles e o que sabemos sobre suas vidas?” é um dos pioneiros na área e concluiu, em abril deste ano, que os bravateiros estão muito presentes entre os jovens. Mais do que isso, a pesquisa liderada pela professora Nikki Shure, que leciona Ciências Sociais no Instituto de Educação da University College London, também traçou um perfil bem delimitado de quem são eles: em sua maioria, são garotos de classes sociais mais altas. 

Para chegar a essas conclusões, a equipe de pesquisadores analisou as informações do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2012, exame que avalia mais de 60 mil estudantes de 15 anos em países que têm o inglês como língua oficial. As questões da prova envolviam principalmente matemática, interpretação de texto e ciências. Além disso, um questionário socioeconômico e pessoal também foi aplicado. 

A partir de uma amostra de 40 mil estudantes, a equipe usou como filtro para selecionar os “caozeiros” a resposta à seguinte questão “pensando em conceitos matemáticos, quão familiarizado você é com os seguintes termos”. Em seguida, eram listados 16 termos, entre eles cosseno, média aritmética, polígono, número próprio, escalonamento subjuntivo e fração declarativa. Achou esses últimos três um pouco esquisitos? Calma, você não dormiu na aula de matemática. Eles realmente não existem, ao contrário do que responderam muitos adolescentes que assinalaram conhecê-los. 

A partir daí, analisaram o perfil psicológico, de gênero e de classe dos selecionados a partir de questões que mediam, entre outras coisas, a autopercepção de eficácia, na resolução de problemas, de popularidade na escola e até de perseverança. Além, é claro, do questionário com os dados pessoais. 

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E foi assim que chegaram nos resultados. Nos nove países, meninos tendem a contar mais vantagem que as meninas (embora a diferença seja maior na Europa do que nos Estados Unidos e Canadá). Além disso, foi observado que esses mentirosos estão mais presentes entre os jovens de classes sociais mais elevadas do que entre os mais pobres. Por fim, um outro perfil também traçado foi o dos imigrantes em relação aos nativos: na Europa, os imigrantes tendem a contar mais lorotas, mas nos Estados Unidos a diferença é bem menor — o que levou os pesquisadores a apontarem que esse seria um fator muito mais relacionado às culturas de origem dessas pessoas do que ao fato de serem imigrantes em si. 

Dentre os nove países analisados, Estados Unidos e Canadá ficam no topo como os países com mais caozeiros entre os jovens, seguidos por Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra, Irlanda, Irlanda do Norte e Escócia. Os últimos da lista tem uma diferença significativa em relação aos primeiros (de cerca de 0,5 pontos). De resto, o que todos os bullshitters anglófonos têm em comum é uma auto-estima e confiança bastante elevadas, além da autopercepção de que são admirados por todos a sua volta.

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