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“Ir à urna pela primeira vez é fazer parte da transformação”

A sergipana Renata Aragão convocou colegas para discutir política na escola e promoveu debates com candidatos ao governo

Por Juliana Morales
Atualizado em 30 set 2022, 20h56 - Publicado em 30 set 2022, 19h59

Na eleição de domingo (2), 2,1 milhões de jovens de 16 a 17 anos estarão aptos a votar. De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), essa faixa etária, cujo voto é facultativo, teve um dos maiores aumentos registrados neste ano, após campanhas promovidas para conscientizar os jovens sobre o direito. Renata Aragão, de 17 anos, faz parte desse grupo que irá às urnas pela primeira vez neste ano. Para ela, mais do que um direito, votar é uma oportunidade de transformar o futuro. 

A adolescente, nascida em Aracaju, Sergipe, conta que conheceu a “boa política”, como ela se refere ao ato de discutir e trabalhar políticas públicas, dentro da sala de aula do Colégio Estadual Atheneu Sergipense, onde cursa o terceiro ano do Ensino Médio. Além da teoria ensinada por um professor, ela e seus colegas participaram de um projeto de política, chamado Atheneu POP, e puderam realizar sabatinas com candidatos ao governo de Sergipe dentro do colégio.

Ultrapassando os muros da escola, a iniciativa deu a chance de Renata e os amigos serem chamados para debater política na Câmara de Vereadores de Aracaju e a jovem ainda foi convidada para ser embaixadora no Tribunal de Justiça.

O GUIA DO ESTUDANTE conversou com a Renata sobre política, educação e juventude e ela deixou um recado importante para todos os jovens. Confira o depoimento.

Minha escola é uma instituição de educação em tempo integral e referência aqui no estado de Sergipe. Com mais de 150 anos de história, sempre houve a preocupação com a preparação política dos alunos. Muitas figuras conhecidas já passaram pelo Ateneu, como Felisbelo Freire, que foi um médico, jornalista, historiador e político. Mas confesso que, até o início deste ano, eu não gostava de política. Mal sabia o que era um partido ou quais eram as funções de cada cargo do executivo ou legislativo. Achava um assunto tão distante de mim. E as brigas, geradas pela polarização política, me distanciavam ainda mais.

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Esse cenário começou a mudar nas aulas de Sociologia, quando o meu professor Yuri Noberto trouxe o estudo sobre a Constituição e, a partir da teoria, propôs que nós discutíssemos nossos direitos e deveres. Nas disciplinas eletivas, passamos a estudar as leis, como funciona uma câmara legislativa, as funções do Estado, qual a diferença entre deputado federal e senador.

Ampliando esta discussão, em junho deste ano, nasceu o Atheneu POP, um projeto para debater e descomplicar o tema “políticas públicas” dentro da escola como forma de exercitar nosso protagonismo. Depois de dominarmos a parte teórica, começamos a convidar políticos especializados em alguma área para discutir as políticas públicas específicas. Trouxemos, por exemplo, uma deputada especialista em direito do animal e debatemos sobre os problemas e caminhos possíveis para resolvê-los.

Na etapa seguinte do projeto, organizamos sabatinas com os quatro principais candidatos ao governo de Sergipe. Eles foram até a escola, sentamos em uma roda de conversa e fizemos nossos questionamentos. Depois, nós, alunos, analisamos os planos de governo e ajudamos cada um deles na sugestão de propostas na área de educação e juventude. Por fim, os quatro candidatos assinaram uma carta de compromisso com a educação sergipense.

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Esse contato direto com as autoridades, o olho no olho, foi importante para construir uma relação mais humanizada e mostrar que a aproximação dos jovens com os candidatos – e com a política – é possível. Eu e tantos outros amigos que antes eram distantes do assunto, hoje, além dos projetos na escola, passamos horas debatendo em um grupo no WhatsApp. Gente de direita, esquerda, centro. Fomos aprendendo a nos respeitar, a deixar os pensamentos prontos de lado e aprimorar a escuta. Tem que ser plural e democrático.

Percebemos que não se tratava da nossa opinião política, muito menos partidária, o que importava eram as políticas públicas voltadas para educação, juventude, saúde e meio ambiente. Isso é que deve ser discutido. Afinal, uma pessoa em situação de vulnerabilidade social pouco se importa quem está certo ou errado, ela precisa que nós pensemos em planos e ações para auxiliá-la nessa situação de risco. A educação, por exemplo, sofreu muito com a pandemia. Precisamos falar da saúde mental dos estudantes, da melhoria nas estruturas da escola, da formação dos professores, do transporte público, do acesso à tecnologia.

Ir à urna pela primeira vez, no dia 2 de outubro, é fazer parte da transformação. Mas vale lembrar que política é o dia a dia. Trata-se de participar, debater, fiscalizar, cobrar. Olhar atento sempre.

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Com os resultados das eleições, começam novos capítulos da história política de Sergipe e do Brasil no ano que vem. Na minha vida também. Vou me formar no Ensino Médio e vou prestar vestibular. Ainda não me decidi entre Jornalismo ou Direito, mas uma coisa eu tenho certeza: educação e política é uma junção que dá certo. E é nisso que eu vou continuar acreditando.

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