É inevitável: em meio a tantas notícias sobre o Milton, que está causando devastação na Flórida, Estados Unidos, muita gente está se perguntando se há riscos de um furacão no Brasil. A resposta não é tão simples, mas antes de ir às explicações dos especialistas, vale relembrar que já vivemos uma situação semelhante por aqui. Em março de 2004, há 20 anos, o furacão Catarina passou pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina, deixando 14 municípios em estado de emergência, mais de 26 mil pessoas desalojadas e 11 mortos.
A Defesa Civil de Santa Catarina afirma que, na época, os ventos atingiram 180 km/h, levando árvores, destruindo casas e devastando plantações. Para marcar os 20 anos da passagem do Catarina, a Defesa Civil do estado divulgou um vídeo relembrando os impactos e resgatando imagens do furacão:
No entanto, mais de duas décadas após o fenômeno, os especialistas ainda divergem na forma de classificá-lo. Muitos definem o Catarina como de fato um ciclone tropical (ou seja, um furacão), mas outros apontam ser um ciclone extratropical. Neste caso, ele não seria exatamente um furacão, já que as condições meteorológicas são outras.
Um artigo publicado em 2005 no Jornal da Ciência afirmou se tratar mesmo de um furacão, mas fez a ressalva de que as condições de formação dele foram atípicas. Na época, o Catarina pegou os meteorologistas de surpresa, já que os ciclones extratropicais são extremamente raros no Brasil.
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Por que não tem furacão no Brasil?
Com exceção do Catarina, o Brasil nunca registrou antes um furacão. Para entender o porquê, é preciso compreender como antes eles se formam.
Um furacão nada mais é do que uma perturbação atmosférica cuja pressão é muito baixa no centro, o que provoca ventos circulares com velocidades superiores a 119 km/h. Acontecem em regiões tropicais, sobre mares quentes, e têm grande potencial destruidor quando atingem o continente.
E por que em regiões tropicais? Porque a água quente é a principal fonte de energia para o fenômeno. É necessário que a superfície de água esteja com uma temperatura acima de 27 °C para que, ao evaporar, ela transporte calor e umidade para as camadas mais frias da atmosfera. O movimento faz com que a água se condense em gotículas, formando nuvens e liberando ainda mais calor no ar – o que acelera o processo de evaporação. O ciclo de condensação e aquecimento contínuo inicia a formação de tempestades.
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No Brasil, os ciclones tropicais são muito raros por uma junção de dois fatores: a temperatura dos oceanos e o chamado “cisalhamento”. Este último, também conhecido como “tesoura de vento”, é uma mudança na velocidade e direção das correntes, extremamente rara nos países da linha do Equador.
Já a temperatura dos oceanos, como já mencionado, precisa ser superior a 27ºC para a formação de um furacão, e no Brasil ela não passa de 26ºC nas regiões mais quentes, como no Nordeste.
São por essas razões que o Catarina é considerado um fenômeno atípico, e é altamente improvável que outros furacões atinjam o país. O único sinal de alerta deixado pelos cientistas é em relação ao aquecimento global, que tem tornado as águas oceânicas mais quentes.
A alta das temperaturas em todo o mundo estão turbinando os furacões, fazendo com que eles se tornem mais intensos e letais. A projeção do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) é que se a temperatura do planeta chegar a 4ºC mais quente do que os níveis pré-industriais, a incidência de furacões mais fortes pode subir em 20%.