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Fracasso escolar: 6 milhões de estudantes estão mais de 2 anos atrasados

Estudo da UNICEF aponta a reprovação, abandono escolar e distorção idade-série como pilares da cultura do fracasso escolar no Brasil

Por Juliana Morales
Atualizado em 31 jan 2021, 18h45 - Publicado em 28 jan 2021, 15h18

A Unicef, em parceria com o Instituto Claro, lançou nesta quinta-feira (28) o estudo “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar”, produzido pelo Cenpec Educação. A pesquisa aponta três partes determinantes para o fracasso escolar: reprovação, abandono escolar e distorção idade-série. 

Os três problemas acabam sendo um ciclo: o aluno, após muitas reprovações, abandona a escola, tenta retornar às aulas, mas acaba ficando com dois ou mais anos de atraso escolar – o que é chamado de “distorção idade-série”. Isso o desmotiva ainda mais, resultando muitas vezes na evasão escolar. De acordo com o estudo, em 2019, 2,1 milhões de estudantes foram reprovados no Brasil, mais de 620 mil abandonaram a escola e mais de 6 milhões estavam em distorção idade-série – isso corresponde a 21% das matriculas.

Desigualdades

O chefe de Educação do Unicef no Brasil, Ítalo Dutra, explica que há, no país, uma naturalização desses problemas, que afetam um grupo social já definido. “Essa cultura do fracasso escolar acaba por excluir sempre os mesmos estudantes, que já sofrem outras violações de direitos dentro e fora da escola”.

Segundo os dados do estudo, os indicadores de reprovação, abandono e distorção estão associados às desigualdades de cor/raça, de gênero e deficiência.

As taxas de reprovação, por exemplo, são maiores na região Norte e menores no Sudeste. Elas incidem mais sobre as populações preta (10,8%) e indígena (10,9%) do que a branca, com 5,9%. Além disso, os estudantes indígenas são os que mais sofrem com a distorção idade-série (40,2%), seguidos por pretos (29,6%) e pardos (23,9%). O atraso escolar é realidade para 46,8% dos estudantes com deficiência.

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Para piorar, a pandemia

O cenário, que já era preocupante, foi ainda mais afetado pela pandemia. O estudo apresenta que, em outubro de 2020, 3,8% das crianças e dos adolescentes de 6 a 17 anos (1,38 milhões) não frequentavam mais a escola no Brasil, de forma remota ou presencial. Em 2019, segundo a Pnad Contínua, a média nacional de jovens fora da escola foi de 2%.

Além disso, 11,2% dos estudantes que diziam estar frequentando a escola não haviam recebido nenhuma atividade escolar, e não estavam em férias (4,12 milhões). Assim, estima-se que mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes tiveram seu direito à educação negado em 2020.

E como era de se esperar, os mais afetados pelos impactos da educação foram os estudantes que também já eram os mais afetados pela cultura do fracasso escolar, como a população negra e indígena, que teve menos acesso à aprendizagem na pandemia do que a branca. O percentual de estudantes na região Norte que não conseguiu frequentar atividades escolares na pandemia foi o dobro na média nacional.

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De acordo com o estudo, para enfrentar essa cultura do fracasso escolar, que é uma grande ameaça ao direito à educação, é necessário analisar indicadores para entender as causas do problema, debater o tema com a comunidade escolar, considerando diferentes visões, além de desenvolver estratégias concretas de enfrentamento.

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