Etarismo, ageísmo, velhofobia: o que é o preconceito baseado na idade?
Em recente vídeo que viralizou nas redes sociais, grupo de estudantes universitárias debocham de colega de turma que tem 40 anos
Nos últimos dias, um vídeo circulando nas redes sociais chamou a atenção ao escancarar um preconceito flagrante, mas pouco debatido. Na gravação, um grupo de jovens universitárias de uma faculdade particular de Biomedicina em Bauru (SP) debocham de uma colega de turma mais velha. “Gente, como que ‘desmatricula’ um colega de sala? Ela tem 40 anos já, era para estar aposentada” dizem as três amigas. O vídeo gerou revolta e deu nome ao abuso, discriminação ou inferiorização de pessoas com base na sua idade: o etarismo.
Trata-se de um termo relativamente recente para um problema antigo. De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde, 1 em cada 6 pessoas acima de 60 anos já experienciou algum tipo de preconceito embasado simplesmente nos seus anos de vida. Assim como o próprio sufixo “ismo” indica, o etarismo acontece de forma semelhante a outros tipos de preconceito, como racismo e machismo.
Ao contrário destes últimos, porém, é uma opressão que pode acontecer a qualquer um: o etarismo não mira, necessariamente, apenas pessoas mais velhas. O preconceito pode ocorrer, por exemplo, quando se generaliza que todos os adolescentes são rabugentos, ou ainda que os nascidos na geração “millennial” (1980 a 1995) são preguiçosos e irresponsáveis.
As consequências de discursos como estes são vastas, podendo afetar desde oportunidades no mercado de trabalho até negligências médicas e assédios psicológicos. No início da pandemia da covid-19, por exemplo, alguns médicos e campanhas midiáticas tentavam minimizar a gravidade da situação ao afirmar que, como se acreditava na época, o vírus só afetava severamente pessoas mais velhas.
São outros exemplos de etarismo:
- Uma empresa só contratar pessoas de determinada idade para uma vaga;
- Profissionais de saúde subestimarem ou superestimarem sintomas a partir unicamente da idade do paciente;
- Um plano de governo privilegiar apenas certos grupos etários, excluindo propostas para outras faixas;
- Infantilizar e/ou desumanizar indivíduos idosos, os tratando como seres incapazes ou desprovidos de independência;
- Forçar uma pessoa mais velha a se aposentar ou se afastar de suas atividades;
- Ridicularizar um indivíduo por sua idade, lhe atribuindo características e funções estereotipadas – como, por exemplo, falar para uma mulher mais velha ir tricotar ou para um jovem ir brincar.
- Diminuir a credibilidade de uma pessoa por conta da sua idade, sobretud, em ambientes como a escola ou o trabalho – por exemplo, não dar ouvidos ao que o funcionário mais velho fala, ou não levar a sério as pontuações feitas pelo jovem estagiário.
Mas como, então, ser antietarista – da mesma forma que espera-se que as pessoas sejam antirracistas? Uma alteração na ilustração utilizada para sinalizar filas ou vagas preferenciais para idosos é um exemplo de atitude neste sentido. Antes, o desenho usava de uma figura humana andando de bengala e com a mão na lombar para representar cidadãos acima de 60 anos. Agora, o desenho mostra apenas uma figura humana com o escrito “+60” ao lado. A alteração foi proposta pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e aprovada pelos deputados.
Outros nomes, como “ageísmo” e “velhofobia”
Como dito, o termo “etarismo” é recente. Foi cunhado há cerca de 50 anos pelo médio gerontologista americano Robert N. Butler. O termo original, em inglês, é “ageism”. Por este motivo, não é raro encontrar em veículos de mídia ou artigos acadêmicos a palavra “ageísmo”, como uma tradução direta do inglês. No entanto, nos últimos anos o termo “etarismo” também passou a ser usado, se originando a partir da junção da palavra “etário” (latim, para idade) com o sufixo “ismo”. Há ainda o termo “idadismo”.
Já “velhofobia” seria uma variante de “gerontofobia”, a discriminação com tudo que envolva a velhice ou o envelhecimento. Seria, dentro do guarda-chuva do “etarismo”, um termo possível para se referir especificamente ao preconceito com idosos ou à ideia de envelhecer.
Para ir além
Mesmo recente, a discussão envolvendo o “etarismo” vem ganhando espaço na mídia. Uma indicação de filme para todos que queiram refletir sobre o preconceito com pessoas mais velhas no mercado de trabalho é a produção estadunidense “Um Senhor Estagiário” (2015), estrelada por Robert De Niro e Anne Hathaway. Na história, um homem de 70 anos é contratado como estagiário em uma empresa de vendas online. O choque geracional é inevitável.
Disponível no Prime Video.
Outra indicação é a série “Younger” (2015-2021), comédia de sete temporadas. A protagonista é uma mãe recém-divorciada que, quando se casou aos 26 anos, largou a vida profissional para cuidar da filha e do esposo. De volta ao mercado, se vê obrigada a esconder sua verdadeira idade, 40 anos, e mentir que tem 26 de novo para conseguir melhores oportunidades de emprego. Sua mentira, porém, começa a tomar proporções não imaginadas.
Disponível no Prime Video.
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